Bruno Lage

OPINIÃO13.06.202003:15

Bruno Lage sempre esteve confortável nas conferências de imprensa, sereno, dominador da técnica. Expunha um discurso paternal aos adeptos, aludindo à simplicidade da vida familiar (pela qual ninguém lhe perguntara), escolhas entre as quais a mais recordada será a do Canal Panda e do que podia aprender-se por lá. Era uma paternidade que lhe assentava à medida, fato velho mas escovado e passado, que encaixava na criação da equipa, no projeto de formação, no Seixal, nos miúdos.
Com os maus resultados (sobretudo esta série de uma vitória em dez jogos), a comunicação nunca foi ajustada e o que soava paternal, ecoa paternalista. Esta ideia, supostamente também aconchegante e tranquila, de ter ido «ver o mar» depois de empatar com o penúltimo, cai precipitadamente para um sentido já não protetor ou preocupado, mas para a condescendência. Antes, se os filhos adeptos benfiquistas lhe parecessem preocupados ele perguntar-lhes-ia pela razão desse alarme, na tarefa de confortá-los. Agora, assemelha-se a um pai que desvaloriza as dúvidas dos filhos em crescimento, dizendo-lhes que são coisas que não lhes interessam, temas que eles não têm idade para compreender, como se o aborrecessem com juvenilidades.
Nem ouso contestar a capacidade técnica de Lage para recuperar o Benfica e ficar no cargo - não sei um centésimo do que ele sabe da matéria e não transponho as fronteiras da especialização e do conhecimento dos outros. Digo, em todo o caso, o que vejo: um Benfica cheio de médios, médio, à procura de espaços de um lado para o outro, longe da área, assustadiço. Tudo isto pode mudar de um jogo para o outro, como sabemos. O que me parece efetivamente estranho em Lage é a tal nota discursiva permanente. Talvez ele diga coisas diferentes ao chefe, e aos jogadores, mas parte do trabalho passa por dirigir-se aos adeptos, a outra forma de chefia. Aí, ser paternal resulta. Paternalista, duvido.