Bruno é o novo líder
A jogar como tem jogado neste ano - sete golos pelas Quinas, três bis…-, a Seleção é Bruno Fernandes no lugar dele mais dez
ASeleção tem sido Bruno Fernandes mais dez e nesses restantes dez há quem esteja a cumprir e há quem esteja abaixo das expectativas. Pouco importa quando o essencial - a qualificação - está garantido e se registaram melhorias do primeiro para o segundo jogo. Mas é um facto que o médio do Manchester United (dois golos e duas assistências; motor do futebol ofensivo da Seleção) está a confirmar no Catar a classe mundial que (quase) todos lhe reconhecemos e a reclamar o estatuto de líder em campo de uma Seleção que continua a ter em Cristiano a sua estrela maior em termos mediáticos. O brilho de Bruno leva-nos ao tal problema de difícil resolução para qualquer selecionador: como compatibilizar Bruno e Bernardo Silva sem prejudicar nenhum deles sendo que a zona onde ambos rendem mais… é basicamente a mesma.
Bruno, que é um 8 com pés e cérebro de 10, sempre rendeu mais a jogar na zona central atrás dos avançados. Foi assim que brilhou no Sporting e foi assim que se fez peso pesado em Old Trafford. Bernardo, que é um 8 com pés e cérebro de 10, também é mais forte e incisivo no centro (ele já disse que é aí que mais gosta de jogar). Relativamente a Bruno, Bernardo garante mais posse, mais bola e mais circulação. Mais tiki taka, embora por vezes um tiki taka estéril (para trás e para os lados). Bruno assegura outro tipo de soluções: é um médio mais vertical, mais impetuoso, mais vocacionado para os passes de rutura e bem mais rematador que Bernardo: com 13 golos, Bruno Fernandes já é o segundo médio mais goleador da história da Seleção, só atrás de Rui Costa (24).
É uma pena não podermos jogar com metade de cada um naquela posição porque, na realidade, aquele que dos dois é desviado do seu espaço natural perde automaticamente influência na equipa. Mas com Bruno a jogar como tem jogado neste ano de 2022 (sete golos pelas Quinas, três bis…), a Seleção é ele no lugar dele e mais dez. No fundo, aquilo que se tem visto a Bruno, mesmo com o folhetim Cristiano a complicar, é o prolongamento daquilo que aconteceu na finalíssima Portugal-Macedónia do Norte (2-0 no Dragão, a 29 de março) que nos qualificou para o Catar: dois golos e uma jogatana de Bruno. Lembram-se?...
… parece que estava escrito.
PS — Para o jogo com a Coreia do Sul talvez fosse boa ideia poupar os pesos mesmo pesados e dar tempo de jogo a Patrício, Dalot, Vitinha, Ricardo Horta e André Silva; e, porque não?, começar com Palhinha e Matheus Nunes, que tão boa conta deram na fase final do jogo com o Uruguai. Se a nossa mais-valia é a qualidade/versatilidade do plantel, então…
AMORIM, BELO GOLPE
GRANDE notícia para os adeptos do Sporting a renovação de Rúben Amorim por mais dois anos. É um belo golpe de Frederico Varandas, o presidente que pagou por ele mais de €10 milhões; e uma enorme demonstração de confiança por parte de Amorim no [projecto do] Sporting, de que ele é, aliás, peça muito importante. Não vale a pena enumerar as qualidades de Amorim - são evidentes e contabilizam-se por títulos, apuramentos para a Liga dos Campeões e valorização de jogadores - nem aquilo onde ele tem de melhorar. A ideia que tenho é que, mantendo este treinador e este tridente (falo de Varandas e Hugo Viana), o Sporting vai continuar a crescer e estará sempre mais perto de ganhar, sabendo-se que só pode ganhar um todos os anos.
Estabilidade, coerência e continuidade sempre foram o santo e senha das empresas ganhadoras. A renovação de Amorim insere-se na nova dinâmica do leão. Varandas identificou o cancro que roía o clube (fácil) e decidiu extirpá-lo (difícil). A mudança já é evidente. Com ele, o Sporting vive um ciclo diferente (quiçá menos populista e ruidoso, mas muito mais estável) após muitas décadas a disparar tiros nos próprio pés.
Já era tempo!
QUEIROZ E A DÉCIMA
Acampanha iraniana terminou ontem aos pés da forte selecção norte-americana, que venceu com justiça por 1-0 (foram melhores, ponto). Voltou a terminar na fase de grupos a terceira participação de Carlos Queiroz com o Irão em fases finais (quarta no total; lembro que passou aos oitavos com Portugal em 2010). O treinador português foi muito acossado pela Imprensa por motivos extrafutebol e a verdade é que os futebolistas iranianos, ontem, parecem ter sentido muito mais que os enérgicos e impetuosos americanos a importância política do duelo. Taremi ainda tentou algo aos 90+9’, mas Mateu Lahoz não lhe deu saída nenhuma.
Fica a imagem de uma bela vitória sobre Gales (2-0) a maquilhar a goleada (2-6) sofrida com os ingleses na estreia.
Quanto ao resto: Queiroz merece todo o nosso respeito. Não tem um feitio fácil mas é, indiscutivelmente, um dos poucos treinadores verdadeiramente marcantes na história do futebol português. Porquê? Muito simples. Queiroz tornou o futebol de formação uma coisa séria (e a sério), com os resultados que estão à vista; ganhou dois Mundiais de sub-20 e denunciou a «porcaria» que existia na federação ao tempo dos amadorismos, voluntarismos e facilitismos; foi o primeiro português a treinar o Real Madrid, sete anos antes de Mourinho; formou uma dupla de sonho com Alex Ferguson num grande Man. United que foi campeão inglês, europeu e mundial; e é o treinador português mais experiente em Campeonatos do Mundo (4) e o nosso recordista em fases finais de grandes competições de selecções, com 48 jogos em 9 participações (!) - juntem-se aos Mundiais duas Taças de Ásia, com o Irão; mais duas Taças de África, com a África do Sul e o Egipto (finalista); e uma Copa América, com a Colômbia.
Portanto, respect. A partir de hoje o prof está a caminho da sua décima fase final.
Period.