Brilhantismos e pesadelos

OPINIÃO14.08.201804:00

O Benfica joga esta noite a segunda mão da 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, em que não pode falhar, pelas razões que se conhecem. É obrigatório passar ao play-off e manter aberta a porta de entrada na fase de grupos, sendo já conhecidos os prováveis adversários, PAOK ou Spartak Moscovo. Nada que se compare à sorte do FC Porto, de Nuno Espírito Santo, há dois anos, a quem calhou a Roma, que eliminou, com empate no Dragão e fantástica vitória (3-0) na capital italiana.

Foi em 2016, quando, também para a Liga dos Campeões, o Benfica caiu nos oitavos de final, diante do Borussia Dortmund (com vitória por 1-0 e derrota por 0-4), embora em duas ocasiões anteriores tivesse sido acometido por doença súbita,  sem origem determinada, à semelhança da que se observou  na Luz, com o Vitória SC, em que, como escreveu A BOLA em capa, «a águia chegou ao intervalo a ganhar por três mas acabou com o coração nas mãos». 

O que se passou então há dois anos? Na fase  de grupos, em Lisboa,  empatou com o Besiktas (1-1) e,  em Istambul, em pouco mais de meia hora marcou três golos (Nélson Semedo, Gonçalo Guedes e Fejsa),  reduzindo  o ambiente infernal do estádio a um barulhinho  envergonhado de jardim infantil. O pior viria depois. Ao brilhantismo sobrepôs-se o pesadelo: o Benfica  acabou por empatar (3-3), com a particularidade de  no espaço de seis minutos, ao cair do pano, ter consentido dois golos.

Este exemplo ocorreu em novembro, mas dois meses antes, em Nápoles, perdia ao intervalo (0-1), com agradáveis perspetivas para a segunda parte. Que se confirmaram, através da marcação de dois golos na ponta final do jogo, os quais seriam suficientes para um desempenho cheio de brilhos não se desse o caso de em apenas sete minutos de inconcebível atrapalhação ter sofrido três (51, 54 e 58).

Questionará o leitor, e com pertinência: o que é que isto tem a ver com o Fenerbahçe? Em rigor,  nada, mas, como diz o povo, o seguro morreu de velho. Ora, no filme do jogo com o Guimarães foi possível captar cenas que convidam à reflexão e à preocupação, dadas as espantosas semelhanças com outras já vistas, tal como as que trouxe à colação. E apenas estas, por serem relativamente recentes e por igualmente terem sido registadas em cenários de Liga dos Campeões.

Sofrer dois golos em cinco minutos na jornada de abertura do campeonato, e quase comprometer um triunfo que parecia solidamente alicerçado em exibição de grande nível, não apaga o brilhantismo do trabalho  produzido, como Rui Vitória se apressou a  proclamar. Tem razão, sim, mas apenas em parte. Porque ganhou, a única coisa que conta. No entanto, mais um golo vimaranense e não haveria brilhantismos que lhe valessem…

Na época transata, foi com brincadeiras como esta que o objetivo penta se esboroou. Empate em Vila do Conde (1-1), triunfo muito sofrido com o Portimonense (2-1) e derrota no Bessa (1-2): os primeiros sinais de um fracasso anunciado em função do tremelique competitivo por demais evidente e, apesar disso, sempre varrido para debaixo do tapete.

Fica bem a Rui Vitória valorizar os períodos brilhantes da sua equipa, desde que o faça na exata proporção com que deveria identificar as penumbras e apontar soluções para eliminá-las, mas isso ele não faz.

 A imagem de marca das suas equipas, além de notórias e frequentes intermitências, aparece associada à dificuldade em equilibrar o domínio e o controlo em função dos problemas suscitados pelos oponentes.  O que se verificou diante do Guimarães é elucidativo: pressão avassaladora até ao intervalo, mais 25 minutos em nível apreciável e um colapso repentino nos últimos vinte.  

No Benfica, há jogadores com influência que gostam muito de ter bola e de correr com ela, mas detestam correr por ela e de meter o pé para recuperá-la, defeitos geradores do tal défice de intensidade que não raras vezes se nota ao coletivo, sobretudo na gestão de esforços e imposição de  ritmos  e velocidades, acelerando e desacelerando, encurtando e alargando as linhas. Em suma, controlando o jogo em toda a sua extensão.

Na sexta-feira, a águia acabou com o coração nas mãos porque, a meio do percurso, além de abdicar do domínio, quase perdeu o controlo por se ter desligado do jogo perigosamente cedo. Pecado sem perdão para quem comprometeu definitivamente o penta devido a  um golo sofrido ao minuto 90.

Passou o susto, fica a lição… a tempo do compromisso de mais logo, com o Fenerbahçe, em que é obrigatório vencer a eliminatória.