‘Bluff’, uma ideia
Talvez seja por estas aragens de fim do Mundo, que nos trazem presidentes e líderes religiosos sentados em mísseis ao som da Cavalgada das Valquírias, que penso na importância do bluff nas coisas. «Se querem destruir-nos à bomba, lembrem-se de que temos bombas que podem destruir-vos ainda mais!», parecem avisar. Recordam-me um desenho que vi, esqueci-me onde, no qual estavam dois homens mergulhados até à cintura numa piscina de gasolina, um deles ostentando uma caixa de fósforos e o outro, do mesmo modo poderoso, erguendo um fósforo apenas. É a chamada paz nuclear, assegurada pela certeza de destruição mútua.
O bluff está tanto na iminência de mundos exterminados como no desporto, sobriamente implícito naquele vago encorajamento que nos impede de mostrar medo ao adversário, mesmo que o tenhamos, ou que nos proíbe de confessar cansaço, ainda que o sintamos.
Ademais, também se usa como estratégia de ataque. No boxe, simulando um jab de direita para sair um direto de esquerda. No póquer, claro, o bom jogador tem de fazer bluff de vez em quando, caso contrário tornar-se-á no jogador mais previsível da mesa, ou toda a gente saberá que se vai a jogo é porque tem boa mão, será um jogador pior ainda do que aquele cão da anedota, que ao ver boas cartas não resiste e abana a cauda.
O bluff está em tudo. Também dos negócios, da minuciosidade das negociações entre clube e atleta (pagar o mínimo de modo a que o jogador aceite; e do outro lado, exigir o máximo desde que o clube não se desinteresse) às variações misteriosas dos mercados de valores.
É, o bluff, um jogo nele próprio, porventura o maior de todos, e quem o domina, ganha. É o mérito principal, porquanto sugere cartas que até podem estar na mão de quem enganamos, convence de vantagens que na verdade pode ser o outro a ter. Eu, por exemplo, neste texto a fingir que sei do que escrevo.