Benfiquinha!
Como é diferente ver-se uma equipa perder mas dar tudo (ou quase tudo) para ganhar, e ver-se outra equipa fazer tão pouco para ganhar e acabar, naturalmente, por perder. O FC Porto que eu vi ontem fez tanto para tentar ganhar o jogo em Roterdão que não merecia perder como perdeu, mas o Benfica que eu vi quarta-feira fez tão pouco, para não dizer mesmo nada, para vencer o jogo em São Petersburgo que só podia mesmo sair derrotado como, justificadamente, saiu.
Este Benfica de Bruno Lage é, realmente, pura ilusão europeia. Creio que corre também o risco de se tornar uma ilusão nacional, mas, para já, que deixe o presidente encarnado de falar no sonho europeu, pelo menos enquanto a equipa der esta imagem tão pobre na Europa, e as decisões de Bruno Lage se mostrarem tão incoerentes, tão incompreensíveis e tão inconsequentes como algumas das que tomou, por exemplo, agora na Rússia, ou algumas das que tem vindo sucessivamente a tomar, muito em especial desde que o Benfica começou a Liga dos Campeões a escorregar como escorregou, na Luz, diante dos alemães do Leipzig.
O Benfica, este Benfica, não tem arcaboiço europeu, é o que se conclui. Agora, na Rússia, pareceu sempre muito mais um Benfiquinha do que uma equipa com a ambição de fazer uma campanha na Liga dos Campeões à altura do «Benfica europeu», como chegou a prometer o próprio treinador, provavelmente convencido de que as suas capacidades serão mais do que suficientes para superar todos os erros que tem, visivelmente, cometido, por exemplo nalgumas das opções que tem tomado, nalguns planos estratégicos que tem preparado e também nalgumas das intervenções públicas que tem tido.
Por exemplo, perdi a conta às vezes em que o treinador do Benfica já falou, esta época, de Gabriel, como se Gabriel fosse… São Gabriel quando o treinador não o tem… e apenas (como deve ser) mais um jogador de uma equipa onde todos contam como sempre o treinador defendeu quando o teve.
E já não é fácil saber-se exatamente o que pensar sobre a tendência do treinador do Benfica para tentar explicar o jogo como se toda a gente fosse incapaz de perceber o que Bruno Lage deve julgar que só ele percebe - difícil esquecer aquele (certamente irrefletido) momento em que Bruno Lage, questionado, a época passada, em Frankfurt, sobre as razões de ter posto - como realmente pôs - João Félix a jogar sobre a esquerda, o negou, insinuando ao jornalista que o melhor seria ver melhor as imagens do jogo para que ele, jornalista, visse o que, no entender de Lage, não tinha sido capaz de ver no estádio.
Bem pode, por outro lado, o treinador do Benfica reclamar o direito a não ser criticado porque a equipa foi campeã nacional e marcou mais de cem golos. Devia Lage saber que o futebol é o momento. E que não pode defender-se do momento com o que o Benfica fez no passado.
Agora, na Rússia, em plena conferência de imprensa da Liga dos Campeões, saiu-se, imagine-se, com esta de falar da necessidade dos portugueses exercerem o direito (e o dever) do voto nas eleições legislativas deste domingo, como se as eleições portuguesas fossem chamadas para a Liga dos Campeões na véspera de um jogo na Rússia, importante para o Benfica e no qual os adeptos esperariam, sim, mais do que um treinador moralista, ver um treinador capaz de apresentar uma equipa a jogar com a intensidade que o Benfica não teve, a frescura que nunca mostrou, a atitude que ninguém viu e até as competências básicas (mais acerto nos passes e melhor posicionamento defensivo) que acabaram, tantas vezes, por falhar.
E as questões, naturalmente, vão-se acumulando - o que se passa com Samaris? Porque contou o pobre Cervi para o totobola com o Leipzig e nem para jogar bingo no encontro seguinte? Onde está Zivkovic? Se haveria jogo para tirar Raul de Tomas da equipa faz sentido que esse jogo tenha sido com o V. Setúbal, em casa? Porque se apaga tanto Pizzi nos grandes jogos? Como passa Fejsa de dispensado a titular? O que tem mostrado Caio Lucas?
Já para não falar da justificação dada por Bruno Lage para ter, agora, na Rússia, jogado Jardel em vez de Ferro. Alguém o compreende?!
NINGUÉM pode dizer que o primeiro ano de mandato de Frederico Varandas à frente dos destinos do Sporting tenha sido um ano infeliz. Dificuldades não lhe terão faltado, como se depreende do trabalho de alguém à frente de um clube na situação dificílima em que estava o Sporting quando Varandas chegou à presidência, e continua a estar, mesmo depois do muito que já terão feito Varandas e seus pares ao longo deste primeiro ano para ir resolvendo a montanha de problemas que todos sabem que o leão tem.
Um clube seguramente muito difícil de governar.
Acredito, ainda assim, que esperassem os sportinguistas mais de Varandas. Ou que, pelo menos, esperassem menos erros. Na comunicação, sobretudo, mas também nalgumas decisões. Não é fácil argumentar que a escolha de Marcel Keizer para treinador foi uma escolha bem pensada e fundamentada. Não é fácil porque estava na cara que o perfil de Keizer não seria propriamente o mais adequado a um clube em crise, em crise de orgulho, de confiança, de identidade, e, pior, em crise de vitórias.
Keizer ganhou, sim, mas não creio que alguma vez tenha verdadeiramente convencido os sportinguistas, e ainda menos os mais apaixonados.
Creio, por outro lado, que a equipa de Varandas, no que ao futebol diz respeito, enfrenta agora o pior dos cenários, que é o de ir tentando remendar as decisões que se percebeu não terem dado certas. E todos sabemos como os remendos podem esconder os problemas mas não os resolvem. E muito menos quando boa parte desses problemas parece mais estrutural do que conjuntural.
Não tenho, porém, dúvida de uma coisa: Varandas foi, que me lembre, o único presidente de um grande clube em Portugal a ter a coragem de enfrentar os perigosos poderes instalados nas claques. Enfrentou e não cedeu, até hoje. E isso tem de ser amplamente elogiado.
Paga a fatura? Claro que paga.
E as claques (ou uma dessas claques) fará, seguramente, tudo o que puder para ver Frederico Varandas afastado da presidência do clube.
O que resta a Varandas? Esperar que os sportinguistas mais sensatos e descomprometidos lhe reconheçam a coragem e o ajudem. E continuar a não ter medo.
Quanto ao resto, aconselha-se a que fale muito menos e tente, no futebol, acertar muito mais. Muito mais!
NÃO está obviamente em causa o que pensa Bernardo Silva sobre o racismo. Nem está obviamente em causa o espírito obviamente brincalhão com que Bernardo Silva fez o que fez, numa rede social, ao comparar um seu companheiro, Mendy, com o boneco que ilustra os chocolates Conguitos. Não está obviamente em causa se Bernardo é ou não racista ou se fez o que fez por má conduta ou mau caráter. Nada disso. Bernardo Silva - que não conheço pessoalmente - tem todo o ar de ser um rapaz com um caráter extraordinário, bem formado, sensato, inteligente e com princípios e valores de acordo com a melhor e mais saudável relação social com a vida e com os outros.
Mas Bernardo Silva é uma grande figura pública e como grande figura pública que é tem de ter muito cuidado com o que faz publicamente. E esse é que é o problema. Estou certo - creio que estarão todos certos - que Bernardo não teve qualquer má intenção ao fazer o que fez, brincando - seguramente com a maior das inocências - com um companheiro de equipa do qual é, também, pelos vistos, particular amigo.
Tenho, do mesmo modo, a certeza que Bernardo, por ser inteligente, compreenderá que aquilo que fez seja suscetível de más interpretações e até de se tornar um exemplo a seguir da pior maneira por aqueles que, por defeito de caráter, aproveitam as redes sociais para fomentar exclusões, ódios, racismos, xenofobias e todo o rol mais de inaceitáveis comportamentos que continuam a impedir que o mundo em que vivemos se torne num lugar francamente melhor.
Perceberá - porque é inteligente - que aquilo que fez tem, infelizmente, perigos que as grandes figuras públicas - que, por serem grandes figuras públicas, ganham obviamente mais responsabilidades - não devem provocar, por melhores ou mais inofensivas que sejam as intenções de quem, simplesmente, com o mais apurado e saudável dos sentidos de humor, quis apenas brincar com um amigo.
Bernardo sabe que ninguém o acusa de ser racista. Mas também sabe - e percebeu-o, agora, mais do que nunca - a responsabilidade que tem por ser quem é. A vida das grandes figuras públicas tem coisas que as grandes figuras públicas não gostam. Esta será uma delas. Mas por muito que isso custe a todas as figuras públicas como Bernardo Silva, às vezes só há um caminho: se não quer ser lobo, não lhe veste a pele!
PS: Jesus continua em grande. Mas o azar não o larga. Agora, perde Arrascaeta. Que mais lhe irá acontecer?!