Benfica em tempo de grandes decisões

OPINIÃO29.06.202003:45

Os sócios do Benfica disseram ao presidente do clube que não estão satisfeitos com a forma como está a ser conduzido o futebol encarnado. O desagrado não terá a ver nem com as finanças nem com o património, mas sim com o pilar do projeto de Luís Filipe Vieira que ainda está por consolidar, o desportivo.
Observando de perto a votação da última sexta-feira, verifica-se que a proposta de orçamento da Direção do Benfica foi chumbada pelos sócios com um voto - aqueles que têm entre 1 e 5 anos de filiação (149-108); também não passou nos sócios com entre 5 e 10 anos de filiação - 5 votos (112-63); foi esmagada entre os sócios com entre 10 e 25 anos de filiação - 20 votos (331-191); e apenas ganhou fôlego nos associados com mais de 25 anos de filiação - 50 votos (onde venceu por 278-220). No total, dos 1505 votantes, 640 votaram a favor da Direção, 812 votaram contra e 53 abstiveram-se. Parece evidente haver um descontentamento maior num escalão etário que andará entre os 30 e os 50 anos, mostrando-se os mais antigos, - porque provavelmente têm memória dos desmandos da década que antecedeu a chegada de Vieira ao Benfica e temem mudanças bruscas - mais conservadores. Porém, o estado a que chegou o futebol encarnado, e sobretudo uma política desportiva casuística, coincidente com a saída de Jorge Jesus do clube, substituído por treinadores de projeto, sem uma palavra firme na construção dos plantéis, provocaram este estado de alma depressivo na nação encarnada, potenciado pelo remake com Lage da rábula da saída de Vitória.  
Parece claro que Luís Filipe Vieira queria muito o regresso de Jesus, coisa que se afigura muitíssimo improvável. Mas, nesta fase - iminência de perda do campeonato, pré-eliminatória e play-off  da Champions no horizonte, seguindo-se as eleições - soará a suprema imprudência de Vieira qualquer outra coisa que não seja a contratação de um treinador de créditos firmados, que tenha peso específico para impor mudanças num plantel que está recheado de bons valores, mas peca por uma construção errática, que o encheu de desequilíbrios. Torna-se absolutamente evidente que o Benfica não pode continuar a subordinar o projeto desportivo ao modelo de negócio, quando o que precisa é de ter um modelo de negócio a partir de um projeto desportivo.