Benfica é líder há 30 jornadas
Como os valores da poluição no ambiente futebolístico estão fora de controlo é de esperar tudo e deve ser isso que ainda dá esperança a Sérgio Conceição…
Afirmou o treinador do Portimonense que o jogo com o Benfica começou com um golo que ninguém sabe dizer se a bola entrou mas, em obediência ao rigor, também ninguém sabe dizer se a bola não entrou. Estamos a falar, portanto, de um não assunto, à semelhança do terceiro golo de Hurst, no Campeonato do Mundo de 1966, que deu o título à Inglaterra na final com a Alemanha (3-2).
Em concreto, no caso do jogo de Portimão, o tema é irrelevante em função da abissal diferença entre os dois intervenientes, como o resultado traduz, até por defeito, frise-se, tão avassaladora foi a superioridade da equipa benfiquista e o caudal de oportunidades que construiu e desaproveitou. Marcou cinco golos, mas poderia ter marcado outros tantos, o que reduz à insignificância qualquer desajeitada teoria divergente que outro propósito não terá se não o de colocar sombras em brilhante vitória da águia.
Duarte Gomes escreve em A BOLA que «só a goal line technology poderia esclarecer, sem margem para dúvida, a grande incerteza que as imagens deixaram». Será que a bola entrou totalmente na baliza de Nakamura? Exatamente a mesma dúvida da final do Mundial de 1966, vai para sessenta anos. «O sistema tecnológico é caríssimo, mas falta ao futebol português e devia ser equacionado com urgência», acrescenta. Pela FPF, que tem um Conselho de Arbitragem omisso? Pela Liga, responsável pela organização dos campeonatos profissionais?
Sem meios para um diagnóstico esclarecedor torna-se irresistível a atração pelo palpite, em que todos querem impor a sua verdade. É a antecâmara da barafunda. Por isso, sugere-se prudência, principalmente da parte dos especialistas na matéria, que devem resistir à tentação de emitirem juízos apenas suportados por sensações de discutível credibilidade.
NÃO tenho explicação para o fenómeno, mas parece-me clara e notória esta vaga antibenfiquista que voltou a fazer prova de vida desde a jornada 28, quando o Benfica perdeu em Chaves, em desesperada tentativa de apagar da memória das pessoas tudo o que ele construiu até aqui e criar uma narrativa alternativa feita de insinuações pouco claras, de faltas de respeito e de atitudes reprováveis. Nada que não se conheça. Maltrata-se o ambiente do futebol, sem dó nem piedade, como se vivêssemos na Faixa de Gaza, criticou, ontem, em A BOLA, o campeão europeu António Simões.
No Campeonato da presente temporada o Benfica começou no topo da classificação, à quarta jornada assumiu a liderança e a partir dessa altura não mais a perdeu, apenas variando o avanço pontual para os demais. Três pontos até à nona ronda e seis na décima, depois de vencer o FC Porto, no Dragão. Desde aí, manteve-se sempre na liderança, respaldado numa vantagem que oscilou entre quatro e seis pontos e que ampliou para dez, à 25.ª.
Duas jornadas mais tarde, porém, perdeu com o FC Porto, na Luz, e na semana seguinte foi derrotado em Chaves, voltando à margem de segurança, quatro pontos. Portanto, situação normal e aparentemente tranquila de quem controla/lidera a Liga há 32 jornadas, apesar dos esforços de estratégias comunicacionais mancomunadas na prossecução de um objetivo comum que tem procurado enfraquecer pelo desgaste o presidente do Benfica e, consequentemente, retardar a reconstrução da equipa de futebol da águia por si idealizada. O esquema não funcionou porque Rui Costa contou o apoio de Roger Schmidt, o seu treinador e um aliado muito forte e que apanhou de surpresa os emblemas oponentes. Bem tentaram, e continuam a tentar, mas como aqui escrevi há uma semana, este alemão sério e de combate, além de não atribuir importância às nossas ciumeiras de bairro, também não me parece bom de assoar. Foi o amparo de que Rui Costa necessitava para pôr em marcha o seu plano.
Na Liga dos Campeões, os quartos de final estão na linha da prometida recuperação do estatuto europeu do clube, e cá dentro, o título 38, há quatro anos perseguido, desta vez não escapará, a não ser que qualquer coisa estanha e nunca vista aterre por aí, vinda de outro planeta. Como os valores da poluição no ambiente futebolístico estão fora de controlo é de esperar tudo e deve ser isso que ainda dá esperança a Sérgio Conceição…
Caricaturando a bizarra situação, Roger Schmidt deverá preparar-se para a eventualidade de se lhe depararem fenómenos extremos nos dois jogos por realizar, nomeadamente no próximo, que, em concreto, do ponto de vista das expectativas desportivas pouco acrescentará em relação ao que já está definido, seja qual for o resultado do dérbi: o Sporting não deixará de ser quarto classificado e o Benfica não deixará de ser líder…
O resto é para entreter. Como a notícia da saída de Grimaldo, aguardada e, é a minha opinião, desejada pelas duas partes. É claro que podia ter sido anunciada depois do dérbi, ou esperar pelo fim do Campeonato, mas é assim vida…