Benfica e FC Porto - desilusões do ano
O Sporting será o herói improvável deste campeonato atípico. O FC Porto acaba a época sem qualquer título. Ao Benfica não chega a Taça
I STO ainda não acabou, poderão dizer os otimistas extremos. Faltam três jornadas, falta a confirmação do título de campeão e falta a final da Taça de Portugal. No entanto, não parece ser de grande risco avançar, desde já, algumas conclusões sobre os comportamentos das principais equipas nesta época atípica, em que a pandemia transformou a festa do povo num género de meeting de sofá, conquistando espaço para a celebração de um outro futebol que é parecido com o verdadeiro, sente-se como o verdadeiro, discute-se como o verdadeiro, mas tem a terrível particularidade de não ser o verdadeiro.
Contas feitas, o Sporting será, certamente, o herói improvável desta época. Precisa, apenas, de carimbar um título que já não lhe irá fugir e que fará bem ao futebol português. Atrás de si, FC Porto e Benfica, exatamente por esta ordem, ambos a lavar feridas de uma época de desilusão.
Os portistas poderão celebrar, apenas, a entrada direta na fase de grupos da Champions e o proveito financeiro de uma presença positiva nas provas europeias. Mas todos sabemos que o adepto olha para os interesses financeiros dos clubes com uma quase indiferença. O foco será sempre o desportivo e, aí, o FC Porto foi desastroso, não ganhando um único título.
Pode, o Benfica, ainda vir a fazer melhor? Pode, se vencer a final da Taça de Portugal. Ao menos, um título para disfarçar o desastre desportivo da época. No entanto, mesmo que vença a Taça de Portugal, uma prova com tradição histórica, será apenas, e só, um disfarce. A expectativa era alta, a promessa era a de que a equipa iria jogar o triplo, arrasar a concorrência e foi o que se viu. Na Europa, como tem sido um infeliz hábito, o Benfica foi pequeno e mentalmente regional. No país, foi irregular, inseguro, inconsequente, e, em vez de arrasar os adversários, como era prometido, arrasou as grandes expectativas dos seus adeptos.
Juntemos o SC Braga ao lote dos dececionantes. Não que tenha ficado demasiado longe das perspetivas e da realidade. É quarto, como seria expectável, na linha do trono, mas sabe-se que isso constituirá alguma desilusão para o presidente António Salvador que aspirava a mais e que prometera entrar, a sério, na luta pelo título. Na verdade, mesmo em ano menos conseguido pelo FC Porto e pelo Benfica, o SC Braga acabou por deslizar para uma certa vulgaridade na fase final da prova, mantendo-se distante do acesso ao pódio. Não se pode dizer que seja uma deceção completa, porque ainda existem fatores essenciais na diferença para os crónicos candidatos ao título, mas talvez se esperassem mais fortes e sólidos sinais de aproximação. Mais do que o Benfica, o SC Braga terá a final da Taça para se redimir. Uma vitória na final com o Benfica poderia transformar uma certa desilusão num ano para recordar.
N A batalha da salvação, as maiores dúvidas deste final de campeonato. Parece razoável admitir que o Nacional dificilmente se salvará da descida - é último destacado, mas daí para a frente ainda há cinco equipas em luta, se considerarmos que o Portimonense (34 pontos e sem campeonato demasiado complicado pela frente) está praticamente salvo. Farense, Boavista, Rio Ave, Famalicão e Marítimo têm zero de margem de tolerância ao erro. O Farense ainda terá de jogar no Porto, o Boavista em Alvalade, o Rio Ave recebe o FC Porto, o Famalicão ainda irá a Guimarães, o Marítimo fecha o campeonato, em Lisboa, com o provável já campeão, Sporting. Muito provavelmente, iremos ter, aqui, as emoções mais fortes deste final de campeonato.
O MAIOR ERRO DE SOARES DIAS
O clássico não foi brilhante na qualidade do futebol, mas foi emotivo e polémico. Poderia ter sido ainda mais, não fora a competente atuação de João Pinheiro como videoárbitro, a intervir bem nas decisões incorretas de Artur Soares Dias, nomeadamente, na reversão da segunda grande penalidade assinalada. Assim, o erro maior e mais significativo do jogo foi apenas da responsabilidade do árbitro principal. É difícil entender a razão de não ter mostrado o segundo amarelo a Pepe. Jogador com estatuto tem outra tolerância?
OS COMBOIOS E OS AVIÕES
Portugal é dos poucos países da Europa que não vê passar os comboios. Falo em sentido figurado e refiro-me à inexplicável relutância dos sucessivos governos na aposta nos comboios de alta velocidade, como forma prioritária de deslocação entre as cidades de um país pequeno, como o nosso, e na ligação e proximidade à Europa e à rede ferroviária internacional. A alternativa é o avião. Mais caro, mais poluente e menos cómodo, se contarmos com o tempo perdido nos aeroportos. Haverá, então, uma razão que a razão desconheça?