Bayern... se Messi deixar

OPINIÃO12.08.202004:00

O Bayern-Barcelona de sábado no Estádio da Luz tem cara de final antecipada da Champions. Fácil perceber porquê: dos oito quarto-finalistas de Lisboa, são os únicos que já foram campeões europeus (cinco vezes cada qual) e os únicos que fazem parte da realeza continental. Os outros, sem desprimor para nenhum, são seis descamisados à procura da felicidade suprema … como se fosse preciso sublinhar que esta é uma época absolutamente atípica. Neste pelotão de outsiders é justo destacar o Atlético Madrid (historial: três vezes finalista vencido nesta competição, oito títulos internacionais no palmarés!) que, apesar de jogar o futebol mais chato, previsível e resultadista do mundo com Diego uno cero Simeone (a Juventus ao pé deles pratica futebol-champanhe), tem feito um meritório esforço de aproximação à elite da Champions. E desta feita nem está o vizinho e habitual verdugo Real. Certezas, só uma: Simeone vê o jogo como uma batalha da I Guerra Mundial e o Atlético parte sempre na posição de  entrincheirado.

O Bayern, por tudo o que se tem visto, é à vista desarmada a melhor equipa da Europa - ou, se preferirem, a equipa europeia em melhor forma. O jogo dos bávaros é servido por belíssimos executantes (destaco Lewandowski, Gnabry, Thiago, Philippe Coutinho, Goretzka e Perisic). Thiago reproduz as melhores características do futebol alemão: intensidade atlética, combatividade, linearidade (neste sentido: ninguém faz uma finta desnecessária e ninguém mastiga jogo como se vê em tantas equipas latinas…) e eficácia na zona da definição. Este carro de assalto liderado pelo desconhecido Hans-Dieter Flick (ex-adjunto do despedido Niko Kovac) soma 18 vitórias seguidas (último tropeção: 0-0 em casa com o RB Leipzig a 9 fevereiro…) e tem atropelado tudo o que lhe surge pela frente. O último foi o Chelsea (goleado por 1-4): pareciam crianças contra homens. Claro que o Barcelona tem muito mais estofo e argumentos que o Chelsea para estas andanças, apesar de estar cada vez mais irreconhecível em relação à era do  tiki taka. Mas sempre há o talento inigualável de Messi, capaz de desequilibrar qualquer o jogo a favor do Barça, a voracidade de Luis Suárez, o virtuosismo de Griezmann, a classe de Ter Stegen e a experiência de Busquets… tudo jogadores super experimentados na Champions. Mas a verdade é que a equipa catalã joga a salvação da época (fraquinha) na Luz. Se for eliminada - o mais natural - vai sobrar para o treinador Quique Setién mas também para o presidente Bartomeu, cada vez mais desacreditado junto do universo culé. O Barcelona não passa dos quartos de final há quatro anos e, se repararmos bem, não deixa de ser estranho que um génio como Lionel Messi, ao fim destes anos todos, só tenha estado em três finais da Champions - tantas como Nani e Pepe, por exemplo; e metade das seis de Ronaldo, o rei indiscutido da Champions.

Então é desta, Paris?

Sobre o Paris SG-Atalanta de hoje. A Final 8 abre com aquele que pode ser o próximo clube de Cristiano. Com resultados de 636 milhões euros em 2018/2019 e o 11.º lugar na lista Forbes dos clubes mais valiosos do Mundo (1,092 milhões), o Paris SG venceu todas as competições francesas (quatro) na época corrente, o que acontece pela quarta vez nos últimos seis anos. O PSG tem um treinador competente (Thomas Tuchel) à frente de um plantel com jogadores extraordinários - Kylian Mbapée (em dúvida), Neymar, Di María, Mauro Icardi e o tricampeão europeu Keylor Navas à cabeça - mas assemelha-se ao Manchester City como eterno candidato frustrado ao título continental. Esta é a oitava tentativa desde que o fundo Qatar Investment Authority comprou o clube em 2011. Para cumprir o velho sonho europeu, o PSG tem de ultrapassar os quartos de final, o que nunca aconteceu no consulado de Nasser Al-Khelaifi, que já torrou mais de mil milhões nesse objetivo.

A Atalanta parece um adversário acessível… no papel: já todos percebemos que esta é a época onde todos os sonhos são permitidos. Gosto muito do futebol que a Atalanta joga - nem parece um onze italiano - e do impulso ofensivo que lhe imprimiu o veterano treinador Gian Piero Gasperini, de 62 anos (o Sarri desta temporada). Que dizer de uma equipa que marcou 98 golos (!) na Serie A (terminou no 3.º lugar) e 16 (em oito jogos) na época de estreia na Champions? La Dea assenta o seu anormal poder de concretização em dois internacionais colombianos de 29 anos - Luis Muriel e Dúvan Zapata - e no veterano argentino Papú Gomez (32 anos). Esta campanha da Atalanta lembra-me a inesquecível saga, nos anos noventa, da Sampdoria de Vujadin Boskov. A equipa genovesa tinha Gianluca Vialli, Roberto Mancini, Toninho Cerezzo e Atilio Lombardo e chegou sensacionalmente à final da Taça dos Campeões de 1992, em Wembley, com o Barcelona de Cruyff. Jogavam como se não houvesse amanhã e só caíram no prolongamento, vergados a um livre-canhão do holandês Ronald Koeman. Veremos se a Champions de Lisboa não começa com uma surpresa.