Balanço ‘media’
Quando estudei jornalismo na universidade, há 20 anos, um dos professores que me marcou foi Nélson Traquina, autor de tanta obra recomendável sobre este quarto poder. Tinha um método de avaliação que nunca esqueci: distribuía folhas com informação e pedia uma notícia que depois classificava como notícia ou como não notícia, nada, zero. Só isso. Não havia, por exemplo, uma notícia mais bem ou mais mal escrita do que outra. Era ou não era.
Neste final de ano, o meu balanço não é desportivo, é jornalístico. Em 2016 grassou o conceito de fake news, notícias falsas, exaltado por Trump - que dele beneficiou, como tem salientado Germano Almeida, em divulgação do novo Isto não é bem um presidente dos EUA. 2017 já foi um ano de absorção deste juízo, pois fomos aceitando, media e leitores, que a tal não notícia evoluísse no léxico da profissão para notícia falsa, portanto já admitida, pois, como notícia, mesmo que falsa ou possivelmente errada. Tem-se tornado habitual tolerar expressões como a que escutei há dias num noticiário, «A confirmar-se esta notícia…»; ou «Este órgão de comunicação sabe que…», aparentemente por oposição a tudo o resto que o órgão de comunicação escreve ou diz sem saber que. Já não há a tal não notícia, há notícias falsas e notícias verdadeiras, mas são todas, à nascença, notícias.
2018 já me pareceu ano de reação, sobretudo pelo crescimento do fact checking - com ideias novas em Portugal. Esta verificação de factos é, em todo o caso, paradoxalmente um recuo, pois a tal notícia que há 20 anos (há mais, claro) se ensinava a divulgar já pressupunha tanto o domínio da técnica como a confirmação da informação. Antes, a não notícia não era nada e a notícia era tudo. Agora, a notícia falsa é notícia, sim, contudo carece de fact checking para se tornar notícia verdadeira. Note-se, porém, como os conceitos mudam e a necessidade da verdade é sempre a mesma.