Balanço do fim de semana

Balanço do fim de semana

OPINIÃO16.05.202306:30

Os momentos finais do Sporting-Marítimo foram a antítese do que deve ser uma gestão sensata

A bola entrou ou não entrou na baliza de Nakamura? Resposta: impossível garantir. Não houve uma única imagem que provasse, para lá de qualquer dúvida, o que quer que fosse. Na minha opinião, ela não ultrapassou por completo a linha da baliza. A convicção resulta do posicionamento de pés e mãos do guarda-redes face à linha de golo (quando desviou o remate) e da colocação do árbitro assistente, que o induziu a erro de paralaxe. Mais importante é percebermos se o futebol português acha ou não necessário investir numa tecnologia que erradique este tipo de dúvidas. O custo é elevado mas o benefício transcendente, ainda que perante situações pouco usuais. A que preço está a verdade desportiva, hoje em dia? 

Os momentos finais do Sporting-Marítimo foram a antítese do que deve ser uma gestão sensata de um jogo de futebol. Já o disse vezes sem conta e repetirei as que forem necessárias: enquanto árbitro, protagonizei momentos desses e piores. Errei tecnicamente e emocionalmente, falhei, mas tentei sempre aprender com a crítica. Trabalhos com exposição implicam alguns danos colaterais e este é um deles. Quem não tem estofo para os suportar, está na profissão errada. O árbitro do jogo, meu amigo há muitos anos e pessoa que tanto admiro, esteve francamente mal, não pelo acerto ou erro nas decisões, mas pela forma como se mostrou perdido em si próprio, desencontrado com os colegas, alheado da razão e incoerente nas ações. Foi o único e grande responsável por tudo o que aconteceu naqueles instantes finais. Deve ver e rever a sua atuação com serenidade.

Ainda há pouco tempo escrevia sobre a sul-americanização do futebol português, numa alusão ao ambiente que se vê nalguns daqueles jogos e que parecem replicar-se por estas bandas. Infelizmente, a opinião não perdeu atualidade. Alguns dos mais importantes atores do nosso jogo continuam a incorrer em momentos de algum desequilíbrio emocional, que profissionais de topo não podem ter. Tal como se exige a árbitros de elite, também se pede a quem está no bancos capacidade transcendente para suportar pressões e provocações. Capacidade para se superar, mantendo o nível, o respeito e a educação a toda a hora. É que o jogo não é só deles. É visto, pago e aplaudido por milhões de pessoas. Cada gesto negativo pode incentivar milhares de miúdos a replicá-lo, convencidos que essa é a forma cool de estar no desporto, na escola e em casa. Não é. É preciso transferir para o terreno de jogo o caráter sério que se tem como pessoa. Se não o fizermos, deixaremos que os outros nos rotulem pelo que veem, não pelo que desconhecem. Que o fim de época sirva de reflexão para muita gente boa.

O Rio Ave denunciou em comunicado oficial que um seu jogador juvenil foi «cobardemente agredido» no exterior do estádio, por um atleta (e pai) da equipa adversária. Alegadamente os agressores foram alvo de insultos racistas. Mais a norte, num jogo de iniciados entre Delães e Aldão (AF Braga), um jovem jogador entrou em campo, agrediu a árbitra e teve de ser levado para o exterior do terreno por um dos segurança. Há algo de muito errado no desporto e tenho como certo que este tipo de comportamentos são influenciados por exemplos que vêm de cima. 

O futebol português não se valoriza apenas na criação de valor extra-jogo nem na forma como tenta fazer progredir a indústria  enquanto produto vendível. Se dentro do relvado as coisas não forem defendidas e protegidas, não há estratégia que resista. É lá que moram os principais desafios.