Baía de futuro
LEMBRO-ME de ele o ter contado: que a teste no FC Porto apareceu, sorrateiro, como se fosse outro guarda-redes para tal desafiado: «Ainda era para o baixinho, mas muito ágil. Depois das provas, Costa Soares perguntou-me se o meu pai era alto. Disse-lhe que sim, insistiu: Alto para quanto? Respondi-lhe para mais de metro e 80 - e ele decidiu: Então ficas!»
Lembro-me de ele o ter contado: que pelo primeiro contrato profissional no FC Porto passou a receber 25 contos, saiu-lhe de um espírito visionário: «Na fase final dos juvenis, no jogo contra o Sporting, atrás da baliza, a ver-me, estavam Zé Beto e Pinto da Costa. No final o presidente perguntou: Quem é aquele miúdo? - e logo determinou: Ele é que eu quero, esse é que não pode sair de cá…»
Lembro-me de ele o ter contado: que antes de tentar tornar-se campeão de juniores com luvas que Mlynarczyck lhe dera acordou com o braço inchado, a tromboflebite deixou-o mês e meio hospitalizado. Estava apontado a ir com Fernando Couto de empréstimo para o Famalicão, por isso não foi - e Quinito não tardou a abrir-lhe caminho para a eternidade: «Disse-me apenas: Vais ser um craque, para lá chegares vais dar muitos frangos e nesta altura não me dá jeito que os sofras, não posso perder jogos, não quero me eles me mandem embora, por isso faz só aquilo que sei que já podes…»
Lembro-me de ele o ter contado: que para não deixar mais que a baliza do FC Porto lhe fugisse das mãos, quando o chamaram à tropa, tentou fintar o recrutamento aparecendo vestido como maltrapilho, queixando-se de problemas de vista: «O inspetor reconheceu-me e disse-me: Não vê as letras, mas bola vê e muito bem. Mandou-o para a Força Aérea, o que acabou por me salvar de lá ficar foi o Estatuto de Alta Competição…»
O resto é o que bem se sabe: ele, o Vítor Baía chegou a futebolista com mais títulos em todo o Planeta - e, chamando-o a seu vice-presidente, Pinto da Costa pode ter feito a melhor defesa do futuro do FC Porto que podia fazer agora…