Baganhices e afim
Depois de sete anos de um quase anonimato como presidente do IPDJ, Augusto Baganha saltou para a ribalta depois de desse cargo ter sido afastado - percebe-se - contra a sua vontade. Que fique claro, antes de dizer mais sobre o assunto: todas as acusações feitas pelo ex-presidente do IPDJ devem ser investigadas de forma séria e competente. É preciso perceber se Vítor Pataco, entretanto nomeado para assumir os comandos do organismo, teve alguma ação com o intuito de favorecer o Benfica - ou qualquer outro clube, que vale o mesmo. É preciso que o secretário de Estado explique por que razão enviou para um elemento do IPDJ um SMS com o contacto de um dos advogados do clube da Luz e o que quis dizer exatamente com aquele resolva-se - algo que, convenhamos, não se ficou a perceber depois das audições parlamentares. É preciso saber (ou pelo menos tentar saber...) quem acedeu a processos que estavam a decorrer e, por isso, secretos, e, já agora, a mando de quem o fez. E, é evidente, depois das conclusões todos devem delas tirar ilações e fazer o que a sua consciência lhes ditar.
Dito isto, é preciso também dizer que é no mínimo estranho que só depois de ser corrido da presidência do IPDJ Augusto Baganha se tenha lembrado de que, afinal, havia na sua equipa quem não se abstivesse de fazer favores a clubes. Ou que havia um secretário de Estado que, como diz, o pressionava, ou aos elementos da sua equipa, para resolverem processos a favor de uma das partes. É caso para perguntar: só agora Augusto Baganha percebeu que as coisas estavam mal no IPDJ? Porque disso não deu conta antes? Ou, se deu e percebendo que nada era feito, porque não se demitiu, mostrando não compactuar com as práticas que agora trouxe a público? Por último: como presidente do IPDJ, como permitiu que as coisas acontecessem como diz que aconteceram?
Sejamos claros: Augusto Baganha pode até ter muita razão em tudo o que diz. Mas o timing que escolheu para dizê-lo deixa-o numa posição frágil e, ao mesmo tempo, fragiliza também tudo aquilo que quis tornar público. Fazê-lo agora, depois de sete anos de silêncio e inação, deixa apenas a ideia de não estar a lidar bem com o facto de ter sido despedido quando ainda tinha mais um ano de mandato para cumprir. E isso tem um nome, que não vale a pena escrever aqui. Em última instância, este episódio-Baganha pode até ser visto como espelho daquilo que é a sociedade por- tuguesa, no desporto e não só: tudo está bem quando fazemos parte da máquina; quando dela saímos, ou especialmente quando dela somos empurrados, é que fica tudo mal. Aquilo a que temos assistido é feio, sim. Mas Baganha também não fica bem na fotografia, ao contrário do que o próprio parece pensar.
Atribuna do Estádio da Luz voltou a ser notícia, devido à presença de Paulo Gonçalves naquele espaço na receção ao Bayern. É, de facto, no mínimo imprudente depois de confirmado o final da sua ligação ao Benfica, especialmente tendo em conta aquilo de que é acusado e a forma como a SAD encarnada se demarcou das suas ações. Mas mais espanto me causa, assumo, que na mesma fotografia em que aparece Paulo Gonçalves surja também o presidente do TAD, que como se sabe é organismo não poucas vezes chamado para resolver processos que envolvem os clubes - como é o caso, por exemplo, desta providência cautelar que determinará se o clássico entre Benfica e FC Porto, no próximo fim de semana, se realizará à porta fechada ou se o castigo aplicado pelo Conselho de Disciplina será adiado. Não está em causa a seriedade de ninguém, mas os tempos que vivemos exigem algum recato. O Benfica convida para a sua tribuna quem muito bem entende. Mas só aceita o convite quem quer. E há quem não devesse aceitá-lo.