As razões de um voto

OPINIÃO25.10.202003:00

1 Este artigo é especial. Não aborda questões estritamente desportivas e que iriam desde a primeira jornada das duas competições europeias de clubes ao hat-trick estimulante do avançado benfiquista  Darwin Núñez na Polónia. E não poderia ignorar a violenta disputa verbal entre os presidentes do Sporting e do Futebol Clube do Porto e, por excelência, as consequências para as diferentes competições  desportivas da nova limitação à circulação entre concelhos no próximo fim de semana e sem que se aborde, minimamente, a conformidade constitucional de uma medida que resulta de uma resolução do Conselho de Ministros. Como não poderia  deixar de evidenciar o notável comportamento  de João Almeida na Volta à Itália - bem como do camisola azul Ruben Guerreiro - e de salientar o regresso da Fórmula 1 a Portugal e, em concreto, a Portimão, com milhares de espectadores a vibrarem ao vivo e muitos milhões a repararem naquela repetida publicidade que os levará, assim o ambicionamos, a «visitar Portugal»!

2 Mas o Benfica vai viver, na próxima quarta-feira, e na regularidade a que nos habituou há largos anos, a sua Assembleia Geral Eleitoral. Antecipada em razão da pandemia e das suas restrições e não adiada por evidente cautela em razão de um possível agravamento da situação sanitária que vivemos e de que os números de ontem são exemplo, e bem alarmantes. E o momento eleitoral, plural e bem rijo, digo-o , poderia ter tido por parte da BTV uma devida e equilibrada divulgação seja em razão da sua específica natureza, quer em função da sua singular autorização onde se situa a inclusão nos seus noticiários de notícias de «Portugal e do Mundo», ou seja, extra jogo! Bem  sabemos que, neste mundo comunicacional, o que é relevante e o que é minimizante se multiplica nas redes sociais e que o que agrada e motiva gera gostos e o que desagrada e irrita provoca partilhas e suscita múltiplos comentários. O que  ontem não existia, hoje, neste mundo em que o instante é curto, tudo se sabe e tudo se provoca. Com justiça nuns momentos e injustiça em outros instantes.

3 Sei bem, já que voto desde as primeiras eleições livres em Portugal (1975!), que ele  é um direito que sempre importa defender e é também a expressão de sentimentos e opções. Mesmo no não voto ou no voto em branco. E o voto e a sua expressão geral já o era, e bem antes daquele ano de 1975, no Benfica, no nosso Benfica.  Com disputas serenas mas com rivalidades assumidas.  Há , assim, o voto por adesão e há o voto por deserção. Há o voto por reconhecimento e há o voto por ressentimento. Há o voto sentido e há o voto dorido. Há o voto por gratidão e há o voto como efetiva sanção. Há o voto por mérito e há o voto com algum (muito) tédio. Há o voto sólido e há o voto por ódio. E sendo o voto,  secreto e direto, um direito, ele expressa-se e concretiza-se em diferentes e múltiplos sufrágios. Públicos e com repercussão política. E privados no âmbito de tecidos associativos ou de realidades societárias, aqui e ali concretizadas em especificas Assembleias Gerais Eleitorais. No Benfica, neste Benfica que é comum a milhares de ativos associados e de milhões  de apaixonados simpatizantes, o voto não é tão só uma exigência. É uma virtude assumida. A nossa  vontade, regular e periódica, é a expressão de sentimento coletivo  que se expressa, afinal e no final, em vitórias comuns, em conquistas de todos. Por isso cada eleição no Benfica é, ao mesmo tempo, um momento de cidadania , um instante de puro afeto ao clube e uma expressão de uma paixão que, sentida , é profundamente vivida. Participo na vida associativa do Benfica há largos anos. E esta participação, em certos momentos mais ativa e em outros, por limitações subjetivas mas também objetivas, menos ativa, é serena e, na diferença, refletida.  E esta participação, que em rigor também é envolvimento, leva-me a proclamar que nas eleições antecipadas da próxima quarta-feira - antes da próxima quinta-feira europeia e antes de cincos dias de restrições de circulação - o  meu voto será em Luís Filipe Vieira. É um voto por adesão e um voto de reconhecimento. É um voto sentido e um voto grato. É um voto pelo mérito alcançado e um voto que reafirma a confiança. Não ignorando os erros cometidos e certas indefinições não totalmente explicadas. E sabendo que a dor, como  o prazer , na pessoalidade, são importantes para o que somos, mas não são relevantes para o todo que é o Benfica. E sei bem o que é ser julgado. Nas urnas, nas diferentes urnas. Já ganhei diversas vezes e, assumo-o, já ganhei bem folgado. Até ganhei, digo-o, por equívoco eleitoral. Julgava que ia perder e ganhei!!!   E já perdi outras vezes e, não ignoro, com claras derrotas. Pessoalmente e imediatamente assumidas e com consequências, num dos casos, para uma substancial alteração do quadro político português. Mas também sei que cometi erros quando ganhei e que apresentei boas e inovadoras  ideias  quando perdi. Mas sei que a vida é luta e não fuga. Exigindo memória sempre e consciência que o presente é tão só uma ponte entre o passado e o futuro. Que se constrói, este, sempre, mas sempre, nas urnas, na total liberdade do voto e na serena profundidade da nossa consciência. Sem que nos indiquem caminhos ou nos condicionem opções. E nestes tempos, e nas concretas e específicas circunstâncias, acredito que Luís Filipe Vieira é o presidente que o Benfica, este Benfica, precisa. Esta nova normalidade exige prudência e estabilidade. Com a certeza que este Benfica, unido na sua diversidade, saberá agarrar o futuro e saberá comemorar, em conjunto, nos próximos meses (anos), muitos títulos. No seu ecletismo que entusiasma e nos faz vibrar. Todas e todos. Todos e todas!