Arte! Mas sem vigor…
Porquê Portugal saiu do Mundial, eliminado pelo Uruguai? Antes do mais: nos 3 jogos da fase de grupos, muitas críticas houve ao nosso meio-campo (também vindas de Fernando Santos), por ter escassa posse de bola, daí resultando não controlar os jogos (lógico perante a Espanha; chocantemente anormal face a Marrocos e, de algum modo, face ao Irão). Fui escrevendo que, sendo isso verdade, com destaque para confrangedor número de passes errados (espantoso em jogadores com boa qualidade técnica), incluía consequência do notório défice em vigor atlético - daí muito fraca dinâmica, médios atirados para trás, muito distantes dos 2 avançados e sistematicamente incapazes de entrarem na área contrária, ou de sequer rematarem de longe.
Jogo com Uruguai: na 2.ª parte, Portugal fez a sua melhor exibição neste Mundial. De longe! O selecionador Tabárez reconheceu: «Fomos submetidos a massacre.» Portugal conseguiu, enfim, projetar-se a sério ofensivamente, em larga medida porque Fernando Santos mudou posição de Bernardo Silva: do flanco direito para zona central, conduzindo ataques. Falta é dizer o resto - que é importantíssimo: Bernardo Silva pôde ir quase à vontade por ali fora, 10 ou mesmo 20 metros, porque a estratégia do Uruguai, em todos os confrontos, está-se razoavelmente nas tintas para a linha média… Assenta nisto: defesa cerradíssima (só um golo sofreu em 4 jogos, o de… Pepe) e liderada por dois senhores centrais - Giménez-Godín, a dupla do Atlético de Madrid; muito por isso, é bem difícil marcar golos à enérgica equipa de Simeone… - e, quando possível, lançamento de contra-ataques com rapidez-profundidade, apelando à potência, e à classe, da mais cotada dupla de pontas de lança nesta competição: nada menos que Cavani (PSG)- Suárez (Barcelona). Defender com muitos e muitíssimo bem - e os dois matadores lá na frente acabarão por resolver. Já fora assim no 3-0 à Rússia - a tal fraca equipa à qual a Espanha do grandioso meio-campo, tão inoperante no passa e repassa, não conseguiu ganhar, indo para casa!
Futebol continua a ser Arte. Nos geniais primores de qualidade técnica eficaz (muita gente mantém confusão com habilidade…ineficaz), bem como na arte de treinadores nalguns deliciosos confrontos táticos. Acontece que o futebol de alta competição passou a ser suportado também - e cada vez mais - por forte estrutura atlética (estatura, peso, poder de choque, músculo… até para cruciais explosões em velocidade). Recente exemplo de topo em Portugal: o FC Porto campeão. Daí, nas nossas equipas, em lances cruciais, ofensiva ou defensivamente, amiúde parecer ter faltado o tal bocadinho assim…
Decisivos pormaiores no mata-mata com Uruguai: com 0-0, Bernardo Silva, na grande área, teve flagrante oportunidade, idêntica à de Cavani no seu 1.º golo (faltou-lhe estatura, e técnica de cabeceamento, para não tocar na bola apenas de raspão - Ronaldo não falharia); pouco depois, Cavani exibiu, esplendoroso, estatura e pujança para ir lá acima e, com estupenda execução, desferir indefensável tiro de cabeça - e o nosso Raphael Guerreiro não teve atributos, também atléticos, para se opor.
Mistério na Seleção de Portugal: que se passou com Bruno Fernandes? É ele o nosso médio mais capaz de galgar terreno - inclusive na qualidade de passes longos, a rasgar defesas - e mais propenso a, com eficácia, rematar à baliza. Ora isso de remates foi pouco menos do que exclusivo entregue a Ronaldo e Guedes (ou André Silva), assim os tornando mais facilmente marcáveis. A tal flagrante falta de vigor atlético para superior dinamismo no meio-campo - quanto a mim, bem mais do que problema tático… Bruno Fernandes foi titular no 1.º jogo, mas fora do seu lugar: colocado na esquerda, com função muito defensiva, para travar o fluxo espanhol, ficou longe de si próprio. Percebo a importância tática/estratégica de William/Moutinho (depois, Adrien) na zona central. O que muitíssimo estranhei: quando foi preciso atacar com ímpeto, versatilidade e… rematar, rematar, Bruno Fernandes permaneceu no banco. Única explicação que encontro: o futebolista revelação da temporada nacional - só para quem não lhe vira jogos em Itália e nas nossas Seleções mais jovens!… - tê-la-á terminado exausto, física e, pós-inferno em Alcochete, quiçá também animicamente. Muito gostaria que o grande líder da nossa glória europeia abordasse este tema.