Arbitragem viveu um sábado negro
A chegada ao futebol das ajudas tecnológicas aos árbitros, no sentido de minimizar os erros, teve efeitos vários e diversos: por exemplo, os adeptos, no estádio, não festejam da mesma maneira a entrada da bola na baliza, preferem aguardar pela confirmação do VAR para uma explosão de alegria ao retardador; os jogadores sabem que já não vale a pena o jogo subterrâneo que tantas vezes escapava ao escrutínio das equipas de arbitragem e que, até, marcou uma era no futebol; e os árbitros viram esfumar-se a melhor das desculpas que tinham, a de que não tinham visto bem o lance.
Não creio subsistirem dúvidas da irreversibilidade do VAR e da sua extrema utilidade. O Mundial da Rússia teve arbitragens quase sempre perto da excelência e a Liga dos Campeões está a mostrar-nos uma significativa redução de erros. Mas, e aqui chegamos ao caso português, o que a tecnologia não consegue é transformar um mau árbitro num bom árbitro. Se o juiz de vídeo não percebe o jogo, usa mal as regras e não tem coragem para aplicar a lei, a única coisa que pode e deve ser feita é dar-lhe guia de marcha e convidá-lo a dedicar-se a outra atividade onde não cause danos ao futebol.
Depois de um fim de semana com jornada de seleções em que, pela ausência de VAR, Portugal se viu espoliado de duas grandes penalidades claras, o campeonato nacional regressou com um sábado negro para a arbitragem, em que houve incompetência, falta de bom senso e cobardia. E, na maior parte dos casos, o mal maior não esteve no árbitro de campo mas em quem, sentado na Cidade do Futebol, mostrou uma inépcia indesculpável. Sejamos absolutamente claros: se Manuel Mota, em Chaves, sofreu um bloqueio quando foi ver as imagens e mesmo assim expulsou Ristovski, nada desculpa o VAR na grande penalidade cometida por Acuña sobre Paulinho (VAR, Vasco Santos); em Braga (VAR, António Nobre e P. Martins), o penálti não assinalado de Corona sobre Wilson Eduardo, aos 88 minutos, foi uma facada nas costas na verdade desportiva; e na Luz (VAR, Hélder Malheiro e Bruno Jesus) a grande penalidade cometida por João Pedro sobre Samaris, vista com clareza cristalina na televisão, devia dar despedimento com justa causa a quem tanto maltratou o futebol. Se um árbitro vê um lance daqueles e não age em conformidade, não merece outra coisa que não seja a porta da rua.