Aprender a gostar
A tendência expansiva da NFL, que se aproxima de nós pela televisão mas não apenas, ou não fosse o novo estádio do Tottenham, em Londres, o primeiro na Europa construído também para receber futebol americano, desperta-me curiosidade, vontade de começar. Não consigo, porém. Quando tento compreender, à beira do 40.º aniversário, as razões pelas quais, gostando de desportos, não consigo apreender um novo, interessar-me, mesmo pelos seus grandes momentos, como o Superbowl, que se joga para a semana, acabo a consciencializar-me de que não é algo que eu, ou alguém, possa escolher.
Li um artigo online da Scientific American no qual se explicava que o cérebro humano só aprende a gostar de canções novas até aos 22, só raramente para lá dessa idade, quase nunca depois dos 30. É por isso também, aqui na perspetiva do esquecimento, que o cérebro purga as más memórias, fazendo pela vida fora uma limpeza neurológica que nos conduz a «no meu tempo é que era bom», «hoje a juventude está perdida» ou mentiras parecidas. O cérebro avança para a nostalgia. Nostalgia é a palavra, um apelo do passado que nuns idiomas tem uma conotação negativa, perda, melancolia, saudade, e noutros o oposto, satisfação, conforto, identificação - a este respeito, o do peso e do preço das palavras num mundo em que tudo tende a ser privatizado, recomendo Ecologia, de Joana Bértholo, livro absolutamente precioso.
Talvez com os desportos, ou a idade com que para eles olhamos pelas primeiras vezes, se passe algo parecido. Estamos demasiado preenchidos para que nos afastemos no banco e deixemos que se sente a nosso lado outro jogo qualquer. Podemos sempre fazer amigos, amores, contudo no desporto só nos restam as possibilidades normais de entretenimento, as meras sensações familiares e não mais que isso. O espaço para emoções originais vai-se tornando inexistente com o tempo.