Aposto singelo contra dobrado

OPINIÃO10.07.202004:00

Milky Baby, o regresso da F1 e o ingresso na F3

Apesar da retoma do futebol, a síndrome provocada pela privação de outros desportos permanece insolúvel. De maneiras que, tão logo se apagaram os semáforos e se deu permissão para a realização do primeiro Grande Prémio de Fórmula 1 desta temporada, não resisti a ter de ver também as corridas de F2 e F3. Mas adiante, porque destas não rezará a história. Já quanto ao GP propriamente dito vale a pena deixar dois desabafos, sendo um negativo e dois positivos. Aquele primeiro traduziu-se em mais uma vitória da Mercedes, o que, para um Ferrarista de toda a vida, há-de sempre ter um sabor amargo. Mas, em compensação, Hamilton ficou fora do pódio, ao qual ascendeu - de modo pelos vistos surpreendente para a maioria dos analistas  - aquele rapazinho britânico conhecido no meio como Milky Baby e de seu verdadeiro nome Norris, Lando Norris. Haverá quem diga que ele ainda não passa de um simples miúdo copinho de leite - e sim, é mesmo. E daí? Aposto singelo contra dobrado em como se trata de um futuro Cavaleiro de Sua Majestade e campeão do mundo, ao nível dos outros talentos máximos, como o holandês Max Verstappen e o monegasco Charles Leclerc.

Invasão evasiva

Durante anos e anos, em que campeava a violência nos jogos de futebol, cujo epítome eram os designados hooligans, viveu-se com o medo das invasões de campo. Pois bem, mudam-se os tempos… e ainda acabaremos por ver atletas a invadir as bancadas…

Moda da estação

Bem sei que é suposto a moda ser temática com a qual o desporto pouco ou nada tem em comum. Mas não é assim. De modos que fica desde já exarado o correspondente anúncio: vamos ter de falar sobre tal tema, tão logo sejam apresentados os novos equipamentos oficiais para a próxima época.

Seninho

Assim que soube da notícia que apregoava a morte de Seninho, senti que não podia deixar de escrever sobre essa glória portista. Mas este jornal publicou, entretanto, uma crónica, da autoria de António Simões, que tornou redundante o que quer que eu fosse capaz de dizer. Assim, agora nada mais tenho a acrescentar. Fica a devida e sentida vénia.

Do novo Bestiário

(não confundir sff com vestiário ou balneário)

O mais incomparável de e entre todos os génios, de seu nome Leonardo da Vinci - quem mais poderia ser? - também escreveu um Bestiário, embora este não se conte entre as suas obras maiores. É claro que dele não constam, naturalmente, expressões que o nosso tempo consagrou como comuns. Alguns exemplos:

- Que galo! (azar dos grandes)

- Que vaca! (sorte das grandes)

- Que frango! (golo mal sofrido)

- Que peru! (golo sofrido de modo frangamente escandaloso)

- Que carraça! (defesa perito na marcação destrutiva, por todo e qualquer meio, para o qual abaixo do pescoço só há canela, trauliteiro, sarrafeiro, definido e classificado pela melhor crítica da especialidade como dotado de «enorme intensidade competitiva»).

Mas como todo o léxico de qualquer língua está em constante mutação, há sempre palavras novas ainda por dizer (neologismos), ou já obliteradas por tanta falta de uso (arcaísmos).

Por isso, não será de estranhar se qualquer dia se ouvir proclamar «Que lince!», para definir a agudeza de vista de um fiscal de linha ou de um VAR.

Já expressões de há muito reconhecidas e prestigiantes, como «cavalo do poder», por exemplo, continuarão, com toda a certeza, a ser altamente recomendadas. Afinal, que outro animal poderia ser? Não creio que fosse muito sedutor gabar-se alguém que sonha fazer carreira no «porco do poder» (não confundir sff com «podre de rico»), ou em «burro do poder».