António Salvador, o melhor
O SC Braga pode não ser grande em termos de títulos, mas já é tão grande como os grandes ao nível da capacidade de formar e gerar riqueza
O Sporting perdeu o Troféu Cinco Violinos e o jornalista Nuno Raposo, na crónica do jogo publicada em A BOLA, na edição de 25 de julho, escreveu que «quando, do outro lado, o leão encontra uma equipa com a qualidade do Sevilha, mostra dificuldades em ter bola e, naturalmente, em sair com critério para o ataque».
Foi uma forma elegante de dizer que na primeira parte a equipa leonina não jogou, viu jogar, e, no final, Rúben Amorim foi direto ao assunto: «Tivemos fases de sofrimento, como na primeira parte, em que tivemos de correr atrás da bola, com pouca agressividade e um bocadinho perdidos. Mas estes momentos, por vezes, são uma bênção para um treinador e para uma equipa, pois vamos senti-los durante a época, sobretudo nas competições europeias.»
Não foi preciso esperar tanto, porém. Anteontem, em Braga, o futebol do leão continuou a revelar os defeitos identificados e não corrigidos. Repetiram-se os tais momentos a que Amorim aludiu e que voltaram a ser comprometedores, de nada valendo a desculpa de três vezes ter estado em vantagem e três vezes ter permitido a recuperação do opositor, porque ao desmazelo de um correspondeu a competência do outro, ordenando a verdade que não se ignore que pertenceu ao SC Braga a última oportunidade de golo, a qual só não se concretizou porque Vítor Oliveira, o Vitinha minhoto, já tinha muitos quilómetros nas pernas e Adán é um enorme guarda-redes.
Este jogo deve ser recordado por muito tempo, pelos golos, pela beleza do espetáculo, pelo ambiente, por tudo, até pela arbitragem facilitada pela entrega dos jogadores e pelo comportamento exemplar dos bancos de suplentes. Este jogo nada ficou a dever aos melhores de entre as melhores Ligas europeias. Pedro Proença, tão atarefado nos últimos dias a repetir, grosso modo, o que o presidente do SC Braga já havia dito, faria bem em elegê-lo como bandeira de referência para o Mundo ver.
O panorama luso é o que é, muito concentrado em três clubes, o que não quer dizer que tenha de ser sempre assim. O Sporting Clube de Braga, sob a presidência de António Salvador, é o único que tem combatido essa aparente inevitabilidade. Fá-lo com propostas, com ideias e com soluções, como recentemente ficou demonstrado, ao ponto de se antecipar à própria Liga.
O SC Braga pode não ser grande em termos de títulos ou de massa adepta , mas já é tão grande como os grandes em termos de crescimento, de organização, também de infraestruturas e principalmente ao nível da capacidade de formar e gerar riqueza. Repare-se: no jogo deste domingo, além do treinador Rúben Amorim, também Paulinho, Ricardo Esgaio, que curiosamente não tinha vingado em... Alvalade, e Trincão foram colhidos na horta de Braga, à qual o Benfica foi agora comprar Ricardo e o FC Porto David Carmo.
António Salvador é um dirigente que admiro, nunca o escondi. Recordo o que era o SC Braga quando ele chegou e vejo, vimos todos, o que é no tempo presente. Depressa se tornou conhecido por tomar o pequeno-almoço com o presidente do Sporting, almoçar com o do Benfica e regressar a casa não sem antes jantar com o do FC Porto.
Com todos dialoga e se senta à mesa, com todos mantém relações, ora tensas, ora cordiais, com especial argúcia para o negócio na defesa intransigente dos interesses do seu clube. Por isso o SC Braga cresceu e adquiriu invejável estabilidade. Por isso, António Salvador é, hoje, o melhor dos presidentes.
NOVA VIDA DA ÁGUIA
Aáguia ganhou nova vida. Uma pré-época prometedora a que os dois resultados em jogos a sério, frente ao Midtjylland e ao Arouca, deram continuidade. Depois de três anos de desilusões, depara-se-lhe agora uma agradável sensação de alívio por enxergar uma esperança renovada.
São afirmativos os sinais de mudança, mas o processo é complexo e demorado, embora imparável, do meu ponto de vista, o que torna ainda mais pertinente a questão suscitada pelo jornalista Rogério Azevedo na sua crónica do jogo Benfica-Arouca, publicada em A BOLA, na edição do último sábado. Podem os benfiquistas entrar em euforia? Claro que sim, por isso são adeptos, argumenta. E devem entrar em euforia? Parece demasiado cedo, alega, e bem. Ainda é demasiado cedo, apesar de se entender a reação entusiástica do país encarnado, desde o verão de 2019 sem sentir o prazer de festejar um título, um troféu, qualquer coisa. De repente, o Benfica tornou-se pequeno e passou a preocupar-se em inventar pretextos para essa pequenez em vez de lutar para se libertar dela.
Confessou-me um adepto do Norte, daqueles que mais sofrem, que o Benfica da época passada não seria capaz de dar a volta ao Arouca. Muito provavelmente, não. Os jogadores resignavam-se e desistiam de lutar, enquanto os adeptos, sujeitos a tanto desperdício, nem reagiam. Deixaram-se adormecer, mas despertaram agora, abanados por Rui Costa, porque há um caminho a percorrer e, mais logo, na Dinamarca, outro obstáculo a transpor. Uma obrigação, imposta pela rica história do clube.