António José Parreira do Livramento
O homem morreu há 22 anos, o mito continua vivinho. Tal como o génio, a classe, o talento e a magia do hóquei patinado mundial
VINTE e dois anos é muito tempo, embora Paulo de Carvalho cante que dez já é muito. Há 22 anos, 7 de junho de 1999 foi dia triste para o desporto português. Morria o mago dos stiques: António José Parreira do Livramento. Nas décadas de 60 e 70, Portugal parava para ver e ouvir as façanhas do hóquei patinado português e do seu grande intérprete, o genial António Livramento. O homem nascido em São Manços está para o hóquei português como Ronaldo ou Eusébio estão para o futebol português. Como Carlos Lopes, Rosa Mota ou Fernanda Ribeiro estão para o atletismo. Ou Joaquim Agostinho está para o ciclismo. Um mito.
PASSAM 22 anos sobre a sua morte, mais de 40 sobre os momentos mais altos da sua carreira. Em meados dos anos 60 e 70, quando Portugal era ainda um país sombrio, Livramento e companhia alegravam as tardes e as noites de muitos portugueses. Era o tempo da rádio, o tempo em que a televisão ainda não chegava a todo o cantinho português e em que, por isso, as grandes vedetas da comunicação eram os chamados radialistas. Havia uns que relatavam mais rápido do que a bola passava de stique para stique, de baliza para baliza. Como Amadeu José de Freitas. Os portugueses, de norte a sul, encostavam o rádio ao ouvido e iam ouvindo todas as peripécias do desporto que muitos chamam de caça ao rato, por a bola ser tão pequenina que mal se vê. E como se sofria nessa altura!
LIVRAMENTO era o mestre. O génio que galgava metros e metros em cima de uns patins como Eusébio galgava metros e metros com uma bola nos pés, como Agostinho galgava quilómetros e quilómetros em cima de (quase) uma pasteleira, como Lopes galgava quilómetros e quilómetros em estradas, matos e pistas.
DIZEM que o hóquei em patins é modalidade tão especial e estranha que apenas é praticado num país (Portugal), numa região (Catalunha), numa cidade (Monza) e numa rua (San Juan). Talvez seja verdade. Porém, vão à Catalunha, a Monza ou a San Juan e perguntem a alguém com mais de 70 anos se sabe quem é o senhor António Livramento. O mais provável é a maioria dizer que sim e exclamar: «Que génio, que classe, que talento, que mago». Era verdade em 1960, quando ganhou o primeiro de oito campeonatos pelo Benfica; em 1977, quando venceu a sua única Taça dos Campeões Europeus pelo Sporting; em 1962, 1968 e 1974, quando se sagrou campeão do Mundo por Portugal; em 1961, 1963, 1965, 1967, 1973, 1975 e 1977, quando foi campeão da Europa. O homem morreu há 22 anos, o mito continua vivinho.