Andebol de volta à linha da frente

OPINIÃO01.03.201903:00

Atletas (desta vez com as mãos)

Do andebol é habitual dizer-se que quem vence os jogos são as defesas e não os ataques. Pessoalmente, confesso que me sinto longe de estar convencido da veracidade deste enunciado, mas isso não vem agora ao caso. O que pretendo focar refere-se à vigência de uma regra que se me afigura incompatível com a tal suposta prevalência das defesas sobre os ataques. Reporto-me muito concre- tamente à admissibilidade de uma equipa poder, por sua exclusiva opção, actuar com um jogador de campo a mais. Mas com um ónus de risco máximo: enquanto tal suceder não pode contar com um guarda-redes. Ou seja, para ter superioridade numérica no ataque (sete contra seis) tem de prescindir da defesa da sua baliza. Ainda agora, no recente campeonato do mundo conquistado pela Dinamarca, foi possível testemunhar tal manobra. Quem também exercita amiúde essa variante táctica é o corrente líder do nosso campeonato (22 vitórias em 23 partidas), isto é, o FC Porto, este ano regressado à linha da frente sob a orientação do sueco Magnus Andersson, depois da decepção vivida nas últimas épocas. Mas o que justifica este particular destaque é a campanha europeia da equipa, onde lidera isolada, e invicta, o seu grupo na EHF Cup, em função das vitórias sobre os espanhóis do Cuenca (37:26), os romenos do Constanta (35:29) e os dinamarqueses do Holstebro (33:31), sendo que a primeira foi conseguida em casa e as outras duas fora. A questão agora é saber até onde poderá chegar esta versão do Dragão.

‘Joker’: Doutor Milagre

Há duas formas primordiais de negação de qualquer alegado fenómeno dito miraculoso: i) a primeira consiste numa posição de princípio, geral e abstracta, ou seja, não importa conhecer as circunstâncias concretas de cada caso, porque não há nunca nenhum milagre; ii) ao invés, a segunda categoria não só admite a existência de milagres como defende que estes se revelam como cogumelos, cada dia de todos os dias. E quem diz cogumelos pode dizer também curas. Vejamos um caso concreto e real. No dia 3, num jogo disputado em Guimarães com o Vitória Sport Club, o avançado portista Moussa Marega sofreu uma grave rotura muscular na coxa esquerda, estimando-se de imediato um período de paragem de dois meses. Ou seja, estaria excluído não só do jogo com o SC Braga, para o qual já foi convocado, como também do clássico com o Benfica e ainda da segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões contra a Roma. Em ordem a acelerar o seu regresso à competição, o jogador maliano foi submetido aos cuidados de um especialista chamado Eduardo Santos, que faz parte da equipa médica do Shanghai SIPG, clube treinado por Vítor Pereira, antigo técnico dos dragões.  «Quanto mais trabalhares, melhor te vais sentir quando atingires os teus objectivos», disse o fisioterapeuta, que também já tratou outros jogadores, como Falcao, Hulk, Quaresma, Mangala ou David Luiz, para nomear apenas alguns que já passaram pelo nosso futebol.

Certo é que, 23 dias depois de se ter lesionado, o jogador foi dado como clinicamente recuperado, graças ao tratamento inovador a que foi sujeito na China, feito à base de agulhas e elétrodos. Assim, graças a quem é conhecido como o Doutor Milagre, o tempo de paragem de Marega ficou reduzido a menos de metade do inicialmente estimado. Mas não me parece que tenha havido milagre algum.