América e China
O embaixador americano em Portugal, George Glass, avisou que Portugal tem de escolher entre EUA e China, sem poder manter ligações profundas aos dois. A adensar-se a bipolarização, ver-nos-emos em obscura missão diplomática.
De um lado, os EUA, cultura contemporânea que nos molda, sobretudo cinematográfica, idiomas europeus, um aliado de segurança que, porém, se vai desligando das organizações que o garantem. No outro, na China, pesam histórias velhas, viagens históricas, um parceiro comercial que, na modernidade, tem colocado mão de forma notada, das lojinhas à energia nacional. Tecnologicamente, preparamo-nos - todos os europeus - para o impasse das duas Internets, que pode vir a obrigar-nos a escolher entre aplicações e empresas americanas ou chinesas.
Noutro aspeto, o político, sempre me parecia assegurada, confortável, amiga, a liberdade na América, jamais subjugada a idolatrias ou cultos partidários, mas com Trump crescem dúvidas. Se na China (e basta lembrar o que se passou agora em Hong Kong) a democracia é pouca, nos EUA já surge declaradamente ameaçada pelo atual presidente, um homem rude e cruel, negacionista da ciência e das instituições.
E no desporto? Será que um dia, por gozo de quem tem o poder, teremos de praticar sobretudo modalidades coagidas pelas potências? Pelos EUA, teríamos de optar por uma das duas mais praticadas, o futebol americano e o basebol (só depois chega o familiar basquetebol; e em quarto o hóquei no gelo…). Pela China, a opção seria entre as por lá mais comuns, o badmínton e o ténis de mesa. Sinto-nos tão ao sabor destas correntes da geopolítica e da geoeconomia que ainda nos forçam a jogar, sabe-se lá, pelas eventuais influências do novo geodesporto, futebol americano com raqueta e volante, ou até basebol numa mesinha verde e com bolinha de plástico.