‘Aliança FCP-SCP’ faz prova de vida
A culpa pelo colapso europeu é dos treinadores, apanhados nas teias que ajudam a construir e que nos afastam da realidade das principais ligas europeias.
São ainda culpados por não conseguirem ou não quererem desligar-se da má vizinhança no bairro. Pelo contrário, incentivam-na e vulgarizam-se, sem se dar conta que, nos dias de hoje, os únicos objetivos desportivos que merecem ser perseguidos por quem quer promover o seu emblema, dar-lhe bom dinheiro a ganhar e valorizar jogadores se resumem aos lugares que dão acesso à Liga dos Campeões: primeiro e segundo classificados no campeonato, e também o terceiro daqui a dois anos. Bem abaixo, aparece a Liga Europa. O resto serve para adornar o programa de festas. Não estraguem, pois, o que tanto lhes custa a alcançar.
1. No FC Porto, depois do mau exemplo com o Krasnodar, voltar a sofrer três golos, agora frente ao Leverkusen, com uma facilidade que só pode admitir-se a equipa pequena, em nada abona o papel de Sérgio Conceição.
2. No Benfica, estar por duas ocasiões em vantagem na eliminatória e por duas vezes, na resposta, permitir que o Shakhtar impusesse a sua autoridade, por evidente incúria de Rafa Silva, na primeira, e de Taarabt, na segunda, igualmente não é boa carta de recomendação para Bruno Lage quanto ao rigor exigido no trabalho diário.
3. No SC Braga, a azia de António Salvador deve ter sido atenuada pelo excelente comportamento da equipa no curto consulado de Rúben Amorim, conquista da Taça da Liga e terceiro lugar no Campeonato, sendo este um objetivo muito importante para o presidente bracarense, pelo significado que representará se for essa a classificação final. Só por isso a eliminação foi acolhida com o silêncio que a inteligência recomenda.
4. No Sporting, Jorge Silas assinou o seu despedimento, apenas faltando confirmar a data. Difícil era fazer pior, mais difícil ainda será a sua posição daqui em diante, dependente da benevolência e compreensão de um plantel que, mesmo sem Bruno Fernandes, não é tão fraco como se faz crer.
Depois dos reveses nos relvados, surgem as consequências fora deles, principalmente na vertente financeira, sendo o FC Porto o mais afetado.
Como se não bastasse a eliminação na 3.ª pré-eliminatória da Champions, e com ela o impedimento de amealhar 50 milhões de euros, com os quais o clube contava para equilibrar as contas e justificar o investimento feito para ter sucesso na presente temporada, dos quase dezassete milhões projetados na Liga Europa apenas serão contabilizados cerca de onze milhões.
Estando o dragão obrigado ao cumprimento do fair-play financeiro imposto pela UEFA e não tendo os seus administradores responsabilidade pela exclusão da Liga dos Campeões, que cabe por inteiro ao treinador, a verdade é que terão de ser eles a encontrar soluções para erros acumulados.
A mais óbvia passará pela venda de jogadores em operações que terão de chegar à centena de milhões de euros e que, necessariamente, implicará a saída dos elementos mais valiosos, sem previsão de um prazo para restabelecer a normalidade.
OBenfica, apesar de fortemente penalizado por ter falhado o acesso aos oitavos de final da Champions, na sequência de participação deficiente na fase de grupos, também por leviandade do seu treinador, atolado em prioridades, gestões, larguras e profundidades, vai voltar a ultrapassar o volume de 50 milhões de euros em receitas, o que, aliado à sua reconhecida estabilidade, o coloca em patamar superior comparativamente a toda a concorrência, embora não o proteja da voracidade mediática, como preço a pagar pela sua grandeza, naturalmente, mas também como estratagema de desgaste cientificamente elaborado desde a criação da aliança FCP-SCP, a qual, curiosamente, fez prova de vida, mas com o presidente destituído a ter de fazer o trabalho do outro…
Em ano de eleições, principalmente, são aproveitados os fracos desempenhos da equipa encarnada para incomodar o alvo principal, que é o presidente, mentor do gigantesco processo de recuperação do clube e do magnífico património erguido e à vista de todos.
A discussão mais recente surge a reboque da oferta pública de aquisição sobre a Benfica SAD e da neblina que poderá envolvê-la, por detrás da qual se esconderão redes de interesses e favores. É área que não domino, mas escutei com prazer as palavras sábias de Diogo Luís, na noite do último sábado em A BOLA TV, esclarecendo que não está em causa a estratégia de reforço da posição do clube, que aplaude, mas tão só o valor anunciado por cada ação, por ele considerado excessivo e gerador de comentários capciosos ou insinuações pouco claras.
Do fundo da minha ignorância permiti-me argumentar que tem de haver uma razão e, até prova em contrário, como a obra fala por si, Luís Filipe Vieira continua a merecer-me admiração e respeito.
«O Benfica fez uma OPA às suas próprias ações. Como devem imaginar, ultimamente tenho ouvido comentários dos mais parvos que têm existido. Não posso falar, só na altura própria», afirmou na cerimónia de entrega de emblemas aos sócios com 25, 50 e 75 anos de filiação. Como não acredito em fantasmas, vou esperar.