Algum dia iremos perceber o que se passa no futebol?
Podem crer que se fosse eu a mandar (como dizia o maluco da minha terra) nunca mais havia buscas ao Benfica. Salvo se previamente existissem provas irrefutáveis. O melhor seria mesmo, seguindo o raciocínio do maluco da minha terra, que o julgamento já estivesse feito e que os culpados estivessem já condenados. Bem sei que é um programa difícil de levar a cabo, mas era o que faria.
Como parêntesis, deixem-me explicar que o maluco da minha terra (não é bem a minha, mas do meu avô), explicava que se fosse ele a mandar, as ruas seriam todas a descer. Quando alguém lhe tentou demonstrar que, caso fossem a descer para um lado teriam de ser necessariamente a subir para o outro, o maluco respondeu com simplicidade: em sendo eu a mandar, não era assim.
Portanto, o Benfica, ou melhor o Estádio da Luz, vai em nove buscas nos últimos cinco anos (contabilidade feita ontem por Gonçalo Guimarães, aqui em A BOLA, que é para todos uma Bíblia). Após essas nove buscas (ou as oito que precederam a atual) ficámos a saber… nada, ou quase. É certo que alguns aspetos são interessantes, como a de um funcionário ter feito certas coisas que não se devem, a favor da SAD do clube, mas nem esta nem o seu presidente, aquele que foi hepta-eleito recentemente com o apoio de altas individualidades, sabia de nada. O funcionário seria, pois, uma versão melhorada e com licenciatura, do maluco da minha terra. Faz coisas que parecem impossíveis… mas se calhar não são.
Estou para aqui a falar do Benfica, mas posso falar de outros. No Porto, a cor dos sacos e as características dos apitos já se devem ter esgotado. Ficámos a saber que café com leite, torradas e mais umas palavras amáveis trocadas entre responsáveis do clube não têm esse significado, nem nenhum que se lhe possa atribuir e que redunde em ofertas, mais ou menos estranhas, a árbitros ou outros decisores. A minha conclusão, já descobriram, é que o maluco da minha terra também andou por lá metido.
E posso falar do Sporting, que também anda a ser investigado, embora neste caso por lavagem de dinheiro. Dá a ideia de que quando se investiga um clube português, se têm de investigar dois ou três (como diria o maluquinho). A coisa tem a ver com a Holdimo de Álvaro Sobrinho, personagem que está sempre metida nos mais estranhos casos, embora - tal como o presidente do Benfica e o do Porto - nunca nada se prove contra ele (pelo menos em Portugal, porque em Angola as contas são outras). Ou seja, manda a prudência que não se parta para investigações destas às cegas. Caso contrário, ficamos de cara à banda, a perceber que Vieira, Pinto da Costa e Sobrinho não passam de umas impolutas personalidades que vivem atormentadas por um regime, uma seita, uma sociedade secreta, o que for, que lhes quer mal. Como diria o mesmo maluquinho, é o mais certo.
O que se passa?
NÃO faço ideia o que, na realidade, acontece. Mas tudo me parece estranho. Desde que ouvi falar de padres no futebol, como sinónimo de árbitros, além da falta de respeito para com os sacerdotes, percebi que imaginação, a esta gente, não falta. E fruta queria dizer nem sei o quê; café com leite significava mulatas (o que, além do crime em si, pode arrostar com as penas relativas a racismo e a lenocínio, mas isso é outra conversa)… O Sporting (na época de Godinho Lopes e de Bruno de Carvalho) parece que era um local ótimo para se lavar dinheiro. A roupa ou dinheiro ou o que fosse que lá se lavava, podia ficar impecável, mas como lavandaria, o negócio foi um desastre, basta ver a situação em que o último dos presidentes citados deixou o clube. Voltando ao maluquinho da minha terra, o Sporting está numa situação financeira tão aflitiva que nem um presidente suspeito tem!
Um pouco mais a sério, que estas coisas nunca se podem levar demasiadamente a sério, haverá um dia em que saibamos ao certo, sem margem para dúvidas - ou como dizem nos tribunais americanos, nos filmes que vamos vendo - para lá de qualquer dúvida razoável, o que se passa nestas negociatas do futebol? Cada vez mais complexas e realizadas com jogadores cada vez mais desconhecidos e clubes cada vez mais pequenos? Alguma vez teremos a certeza de que o futebol é uma atividade, digamos, normal? Que terá os seus malandros e bandidos, como todas as atividades, mas que esse não será o centro dos seus negócios, como agora parece ser?
Porque, não nos esqueçamos, enquanto a polícia investiga o Estádio da Luz e o de Alvalade, decorre no Campus da Justiça o julgamento de Rui Pinto, que também tem muito que contar sobre o nosso futebol. Enfim… neste terreno estamos perante a cabal demonstração do maluquinho: aqui as ruas parecem todas a descer, sempre a descer na direção de um abismo sem fim.
O futebol, em conclusão, necessitava de uma boa lavagem (não de dinheiro) mas de processos e pessoas. Porém, note-se, apenas no Sporting houve impulso e oportunidade de colocar um presidente fora. No Benfica e no Porto perpetuam-se as lideranças com os rapapés de gente que até me faz confusão como apoiam tais presidentes. Mas não é nada comigo…
Jogo jogado
NO que respeito diz ao jogo jogado, aquele em que se troca a bola no retângulo relvado, vou na minha segunda semana de êxtase, agora aumentado pela diferença que o Sporting leva para quem o persegue e pelo facto de estarmos em defeso de Liga durante algum tempo.
Tenho de reconhecer - já o tinha feito, embora de forma menos explícita - que aquele que parecia o investimento mais estranho, numa época de pobreza franciscana, os 10 milhões mais taxas pagos por Rúben Amorim, aparenta ter sido um dos melhores investimentos de sempre do Sporting Clube de Portugal. Estar em primeiro, à sétima jornada, sem perder, com mais golos marcados e menos sofridos, é algo digno de nota para qualquer clube. Para o Sporting é digno de nota e de placa comemorativa. Só faz pena, muita pena, não podermos estar no estádio, no próximo jogo (contra o Moreirense) para aplaudir os heróis de Guimarães, nomeadamente Pedro Gonçalves (o célebre Pote), mas também todos os outros, porque Adán foi grande na única vez que o Guimarães criou perigo a sério; Porro foi ótimo, a defesa (Feddal, Coates e Neto) esteve muito bem, João Mário foi sublime (e aquela bola na trave…); para Nuno Mendes já nem há palavras e Sporar demonstrou que é uma mais valia; Nuno Santos nunca desilude e parece um Ferrari; Palhinha é um relógio suíço. Acresce que os que ficaram no banco, não são menos. Viu-se com Jovane, mas vê-se com Matheus Nunes, com Daniel Bragança, com Plata, com Tiago Tomás. De Max, já sabemos o valor como guarda-redes e de Gonçalo Inácio que é um novíssimo e excelente central. Também Borja estava no banco e vi-o o ano passado… sem gostar por aí além. Mas, lá está, no ano passado faltava o ânimo e a humildade competente do treinador. Sinceramente, só não vi ainda, com atenção, Rodrigo Fernandes, mas as indicações que tenho são ótimas.
Por isso, em 20 jogadores, quase duas equipas, o Sporting tem plantel para aguentar. E isto, sem contar com os jovens que aí vêm da Academia dos quais esperamos o melhor, e ainda um central e um avançado prometidos. Significa isto que dou o Sporting como campeão? Nada disso, mas dou-o, indubitavelmente, como candidato e, sobretudo, como aposta mais ou menos segura para um lugar na Liga dos Campeões.
Acima de tudo, que diferença! E esta diferença, mesmo que resultasse em nada em termos de classificação, já valia muito.