«Alea jact est»

OPINIÃO21.06.201804:00

Um ponto de chegada que  se quer ponto de viragem

SALVO imponderável de última hora teremos, no sábado, a mais sofrida das assembleias gerais da nossa história. Percorremos um itinerário infernal, cheio de incerteza e, sobretudo, de angústia e de perplexidade. Como chegámos a isto? Como iremos sair disto? Em que estado ficaremos depois do vendaval? No meio desta destruidora tempestade em que se tornou o nosso quotidiano, haverá uma coisa em que todos estaremos de acordo: o isto não pode continuar assim. O clube e, por contágio, a SAD, vivem cada minuto que passa a um ritmo louco de notícias, quais testemunhas agoirentas de um maior agravamento das tensões. Estamos na era do mediatismo. Mesmo sem perguntarmos ao vento que passa, ele diz-nos tudo e mais alguma coisa. Ao contrário do que ocorria na saudosa balada, ele não cala a desgraça. Fala dela, sublinha-a, repete-a e remexe-a, para que todo o incómodo que nos gera não abrande um único segundo. Somos vítimas de um autêntico bullying, que nos martela sem piedade a todas as horas do dia e em todos os dias da semana. Nada serve de refrigério: nem a seleção, que, sem brilho mas com eficácia, anda pela Rússia, nos proporciona distração e alegria. O troar das más novas abafa, qual eucalipto sonoro, todo o som à sua volta. A incerteza cresce, à medida que tudo parece posto em causa, à espera das decisões do tribunais, feitas, por ora, de providências cautelares. A justiça funciona, amiúde, como reguladora inesperada, ora prevendo e prevenindo riscos, ora emergindo como uma espécie de pílula do dia seguinte, corrigindo dislates e repondo as coisas no caminho da legalidade. Retomo a ideia base: o único ponto de consenso entre os sportinguistas, creio eu, reside na consciência planíssima de que esta caminhada em que estamos, rumo a um destino assustador, seja ele precipício, beco sem saída ou algo similar, tem de ser travada. É absolutamente crucial acabar com as hostilidades e refazer a paz. A paz que será condição imprescindível para recolocarmos a energia em prol dos superiores interesses do Sporting, em vez de a desperdiçarmos neste interminável processo fratricida em curso.  Passamos a vida a dizer que o Clube é dos sócios. Não faz mal repeti-lo. Agora vamos vivê-lo em pleno. A assembleia-geral do próximo sábado será um ponto de chegada deste processo infeliz e desgastante. Os sócios vão falar e vão escolher. Espero que a escolha seja livre,  representativa e esclarecedora. Uma escolha livre, representativa e esclarecedora, seja ela qual for, determinará, forçosamente, uma nova rota e um novo rumo.

Um ponto  de encontro

A fazer fé nas previsões no sábado acorreremos em força à votação. Acredito que estarão criadas as condições para que tudo corra pelo melhor, sem incidentes, nem problemas ligados ao escrutínio. É um voto que formulo com muita esperança. Seria ótimo que, aproveitando o ensejo, lográssemos um momento de verdadeiro e fraterno convívio leonino. Temos de saber conviver sempre. Está no nosso ADN. Aceitando as nossas diferenças, vivendo-as com a naturalidade própria de um Clube enorme, dotado de uma espetacular massa adepta, onde a divergência é absolutamente normal. Será um momento histórico, se conseguirmos, como espero e como sei que a esmagadora maioria deseja, dar um exemplo de civismo, em contramão com a atualidade, que brote dos nossos valores seculares. Todos os machados de guerra devem ser enterrados. Desminagem precisa-se. Não poderemos continuar a oferecer este espetáculo grotesco, que coloniza as (para nós más) notícias de fio a pavio. Nenhum corpo resiste a tanta flagelação.

Um ponto  de partida

SE a assembleia-geral será um ponto de chegada, o resultado saído da votação terá, forçosamente, de ser um ponto de partida. Um novo ciclo que se abra, qual bonança que se segue à tempestade. Não consigo ser demasiado otimista. A realidade tem-nos sido madrasta. Deixa marcas, gera traumas e temores. Pudera: esta mesma realidade tem ultrapassado a ficção mais tenebrosa. Não a ficção científica, mas aquela que estabeleceria o zénite do nosso pessimismo. Todos os dias essa triste fasquia é ultrapassada. A idade adulta leva-nos a magia e a fé na eficácia imediata dos milagres. Os ecos de toda esta assuada não passarão de rajada. Há muitas feridas abertas e assuntos por fechar. Mas, por outro lado, todos comungamos da mesma vontade: temos de sair disto. Não podemos reincidir nos mesmos erros. Haveremos de arranjar antídoto para as enfermidades. Temos de sair disto e andar em frente. Voltar a olhar para fora e retomar as nossas lutas, com probidade e respeito, mas com firmeza absoluta nos princípios, com os nossos  adversários que o são de facto. Vem aí uma nova época. Há muita exigência à espera de vigor renovado e de uma legitimidade fresca. Seja ela qual for. A minha posição é pública e conhecida: irei votar pela destituição. Já muitas vezes expliquei porquê, alinhando as razões que me parecem válidas e os fundamentos que as sustentam. Nisso temos gasto horas sem conta em incontáveis debates e tomadas de posição avulsas. Também já tive ocasião de  falar acerca da minha interpretação, agora num plano jurídico, dos fenómenos que nos dizem respeito. Procuro sempre fazê-lo com sobriedade, elevação e respeito por quem pense de outra forma. Reafirmo a minha opção pelas destituição. Porém, mais do que votar pela destituição, como farei, votarei pela paz, pela conciliação e pela grandeza do nosso querido Sporting Clube de Portugal. Estas eleições não são antecedidas de um dia de reflexão. Todavia creio que, agora, como César terá dito, «ALEA JACTA EST». Exorto todas e todos os sócios do Sporting a que venham votar, participando, assim, no traçado que se seguirá para o futuro próximo. A mobilização geral de todos(as) os(as) associados(as) será a primeira e principal vitória desta jornada.