Ainda o Sporting-FC Porto...
O Sporting abespinhou-se com a arbitragem de Luís Godinho (e do videoárbitro Tiago Martins) no clássico com o FC Porto. Primeiro foi Rúben Amorim a dizer que os leões têm tido «azar» com o VAR, depois Frederico Varandas a atirar-se, de modo mais contundente, à forma como o «futebol português não muda», referindo-se, de forma bastante concreta, à imagem, da qual a arbitragem nacional não parece conseguir distanciar-se, de alinhar-se, sempre, com onde lhe parece estar o eixo do poder. É uma história com décadas, que nem a introdução do VAR parece conseguir mudar. O tema é importante e por isso merece uma análise um pouco mais detalhada.
Em primeiro lugar, falar da situação concreta que motivou os maiores protestos do Sporting, que, digo desde já, percebo. Tenho dúvidas se o lance é penálti ou não. Talvez não seja. Mas parece-me evidente que, face ao atual protocolo, o VAR, Tiago Martins, não devia ter intervindo. Porque é um lance subjetivo, dependente da tal intensidade, da qual, para mim, é muito mais difícil ter noção na TV do que no campo. E é difícil perceber, e explicar, porque chamou Tiago Martins o árbitro Luís Godinho a visualizar as imagens nos ecrãs quando, ainda recentemente, noutros jogos, outros VAR’s não fizeram o mesmo em lances muito mais evidentes e que mereceriam, esses sim, ação de quem tem, no conforto da Cidade do Futebol, obrigação de ver o mesmo, ou mais, do que nós vemos em casa. É essa dualidade de critérios que tem colocado a arbitragem no centro do furacão e é essa dualidade de critérios que a arbitragem precisa de resolver se quiser ter alguma paz. Como? Não sei. Talvez obrigando todos os árbitros a confirmarem lances de penáltis marcados no campo sem precisarem de ser chamados pelo VAR. Porque, convenhamos, se Tiago Martins chamou Luís Godinho é porque, face ao atual protocolo, tinha certeza de que não era penálti. Certeza que, neste lance em concreto, de interpretação e intensidade (há, de facto, um toque e uma queda), Tiago Martins não poderia ter. O que significa dizer que o simples facto de ter sido chamado pelo VAR condicionou a decisão de Luís Godinho. Não estão, entenda-se, em causa Tiago Martins e Luís Godinho. A discussão deve ser muito mais ampla. E urgente.
Em segundo lugar, falar da frase de Rúben Amorim quando disse que o Sporting tem tido «azar com o VAR». Sendo capaz de entender a frustração do treinador leonino, penso que, se quisermos de facto mudar o futebol português, não devemos atirar frases para o ar ou ter memória curta. Porque se é verdade que o Sporting pode ter tido azar com o VAR no jogo em concreto, não pode esquecer que, à segunda jornada, em Paços de Ferreira, teve com ele sorte quando o VAR, Bruno Esteves, não chamou o árbitro, Fábio Veríssimo, para reverter um penálti descrito por todos os especialistas como mal assinalado a favor do Sporting. O que nos leva à última parte da questão e a Frederico Varandas.
Disse o presidente do Sporting que o futebol português «teima em não mudar». Tem razão Frederico Varandas. Tem, até, provavelmente razão - embora este seja um mero exercício de especulação - quando disse que, se fosse na Luz ou no Dragão a favor de Benfica ou FC Porto contra o Sporting, a decisão não seria revertida. Tal como não foi revertido o inacreditável penálti marcado contra o Paços de Ferreira no tal jogo frente ao Sporting e que - e esta é outro mero exercício de especulação -, como teria, provavelmente, sido se fosse na outra área. E Varandas manteve-se em silêncio, claro. Sejamos frontais: o verdadeiro problema do futebol português é esse mesmo: os clubes não querem, de facto, mudar nada. A intenção é, sempre, pressionar, pressionar e pressionar mais um bocadinho para disso tirarem dividendos no futuro. Não está, entenda-se, em causa Frederico Varandas ou Rúben Amorim. A discussão deve ser muito mais ampla. E urgente.