Paulo Fonseca perdeu a cabeça com o árbitro
Paulo Fonseca perdeu a cabeça com o árbitro

Opinião de Duarte Gomes Ainda não foi desta, Wenger!

OPINIÃO04.03.202508:00

O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro e atual comentador de arbitragem

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As alterações às regras aprovadas pelo IFAB não confirmaram mexidas no fora de jogo. Havia alguma expetativa em perceber se a já não muito nova ideia apresentada por Wenger iria ser incluída nas mudanças a implementar na próxima época, mas a medida foi adiada para outras núpcias. Quando acontecer, a introdução da chamada Lei Wenger irá mudar a forma como vemos o jogo, incentivando a mudanças táticas e a um futebol mais ofensivo, com mais golos. Falta perceber se a eterna polémica do adiantamento milimétrico, hoje tão criticada por cá e além fronteiras, irá desaparecer quando a sobreposição de corpos que o francês propõe for de um ou dois centímetros. Por enquanto, o ensaio não saiu dos escalões de formação em Itália e Suécia, onde continua a ser testado.

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Ora, a ausência de novidades na Lei 11 significa que a análise dos fora de jogo será, em 2025/26, a mesma que foi até aqui: o jogador que estiver à frente do penúltimo adversário (o último geralmente é o guarda-redes) quando a bola lhe for passada, está em posição irregular. Se tocá-la ou interferir ativamente na ação dos opositores, tem que ser punido. Para quem ainda não digeriu o conceito, estar à frente pressupõe qualquer distância, da mais ínfima à maior possível. A parte boa é que a regra é igual para todos. Os árbitros assistentes e quem está em sala também. Até a tecnologia é a mesma. Amanhã o golo contra vai custar a engolir, mas na semana seguinte o golo a favor vai saber muito bem. O importante é que todos mantenham memória fresca e discurso coerente, sob pena de incorrerem em defesas parciais, que não passam de desculpas de mau perdedor ou, pior, de estratégias para desviar acessório de essencial. Não é assim que o jogo evolui, não é assim que ganha a indústria credibilidade, não é assim que as decisões melhoram.

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Tenho enorme simpatia por Paulo Fonseca, agora treinador do Lyon. Tive o prazer de o arbitrar várias vezes, em várias etapas do nosso percurso desportivo e tenho dele, enquanto profissional e pessoa, a melhor das impressões. Mantenho-a, obviamente, não obstante o impacto negativo daquela imagem, no jogo da sua equipa frente ao Brest. Tenho a certeza que, mais a frio, o Paulo perceberá o erro que cometeu e o péssimo exemplo que projetou para o exterior. Como não tenho má memória, lembro-me que em tempos também eu sucumbi às emoções quando erradamente empurrei um treinador-adjunto durante o aquecimento de um jogo, na sequência de uma troca de palavras menos simpática. Quem anda lá dentro, com a cabeça a ferver e o coração aos saltos, sabe bem que momentos destes, sob forte pressão, podem acontecer uma ou duas vezes na carreira, mas apenas isso. Se forem recorrentes, se estiverem identificados, se forem padronizados, são outra coisa qualquer. Com o Paulo, tal como comigo, foi caso único, mas fica o alerta para tantos outros profissionais de topo, alguns portugueses, que incorrem vezes demais em condutas irresponsáveis. Ainda a propósito de excessos, mas em tom mais grave face ao sucedido, um abraço de solidariedade ao José Fonte, capitão do Casa Pia AC, que foi agredido por um elemento técnico do Vitória SC. Todos vimos o que aconteceu, portanto não há muito mais a dizer. Que a justiça desportiva seja célere e justa na avaliação do incidente e que isso sirva para uma reflexão maior sobre a forma como entregamos emoções ao jogo.

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Esta tem sido uma época horrível no que diz respeito a comportamentos violentos no futebol. As imagens deste fim de semana no Restelo foram horríveis, tal como foram tantas outras divulgadas em vídeo que mostram agressões a jogadores, equipas técnicas, adeptos e, obviamente, árbitros. Na semana passada, um jogo de juniores em Campo Maior foi simplesmente vergonhoso, no que à violência generalizada diz respeito. A nova Direcção da FPF tem obrigação de olhar para este tema com prioridade máxima, procurando criar condições para que o seu futebol se jogue e aplauda com segurança máxima. O mesmo se espera do seu novo Conselho de Arbitragem: intervenções firmes na defesa intransigente da integridade física, emocional e psicológica de todos os seus agentes. Chega de silêncios.

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