Ai, Varandas…

OPINIÃO08.11.201803:00

Pujante e eficaz FC Porto, insuficiente e perdulário Benfica. Na Champions como nas mais recentes semanas nacionais. Verdade: Ajax muito melhor equipa, com muito melhores jogadores, do que o Lokomotiv, caricato cabeça de série (!) que, após 4 jogos, nem um pontinho conseguiu. Mas há outras diferenças nesta altura vincando-se entre FC Porto e Benfica. Defesa: chegada de Militão (titular do Brasil) faz esquecer perda do patrão Marcano; Conti e Lema não mostram ser reforços. Médios: quantidade de excelente qualidade portista, partindo de, por exemplo, Herrera-Danilo-Óliver e saltando do banco Otávio e Sérgio Oliveira; Fejsa não é Danilo, Gedson tem talento, mas é miúdo, quando Pizzi perde boa forma tudo se complica, Gabriel está por definir, Krovinovic sai de gravíssima lesão - e falta músculo como o de Danilo, Herrera, Sérgio. O poder atlético que, a par do talento de Brahimi e Corona, Marega impõe no vertical ataque portista, mesmo quando estão de fora Aboubakar e Soares. Ontem, lesões de Salvio e Jonas, mais uma vez e bem cedo na 2.ª parte, afastaram o puro talento benfiquista. Entraram Rafa (inconsequente, como Cervi) e Seferovic (boa vontade, mas pareceu mais um defesa do Ajax).         

Frederico Varandas errou 2 vezes (ou 3?). Errou na demissão de Peseiro (pelo menos, no momento escolhido). Errou ao desproteger-se enquanto presidente recém-eleito - o que inclui opção por Marcel Keizer. O tempo irá definir que mais-valia a de treinador com currículo nadinha entusiasmante.

José Peseiro foi triplamente vítima. De Sousa Cintra. Do presidente que o herdou e sempre com maus olhos viu tal herança. E ainda vítima… de si próprio.

Sousa Cintra não poderia ser tão impulsivo - firme característica, para o bem, ou nem por isso - na entrevista em que iniciou retirada de tapete ao técnico por si há pouco tempo escolhido: criticar Peseiro por hesitações sobre futebolistas a adquirir… que péssima mensagem! Digo: bem lógica essa discrepância entre impulsividade de dirigente em contrarrelógio para construir plantel - tipo «este jogador é muito bom!» - e lucidez do técnico que pretende recolher múltiplos dados sobre tais jogadores e sua adequação às necessidades da equipa - no caso, prementes necessidades!

Frederico Varandas pecou por calculismo e… injustiça. O calculismo de, na campanha eleitoral, nunca ter dito não querer José Peseiro (aliás, nos 9 candidatos, só Madeira Rodrigues isso afirmou, anunciando Claudio Ranieri - o que, quase generalizadamente, foi considerado tiro pela culatra). Por isso, Varandas não pôde logo afastar Peseiro; teve de esperar… Não digo esperar por lenços brancos contra treinador - seria péssima cedência a populismo! De facto, o sucessor de BdC teve urgentes trabalhões para iniciar remoção dos cacos que encontrou. Mas percebia-se, por nulo apoio público ao técnico!, que Peseiro iria a seguir. E duas entrevistas de Varandas, num jato, a dias da demissão, essa certeza deram! De pronto, a injustiça. Porque Peseiro deixou o Sporting a 2 pontos da liderança (tendo empatado na Luz). E estando à vista prosseguir na Liga Europa. Injustiça mor, gritante!: parece que o Sporting não perdeu Patrício, William, Gélson, Piccini, Coentrão, Podence (6 baixas, com contrapartida quase apenas de Nani); e que Peseiro não levou, também, com prolongadas lesões de Mathieu e Bas Dost… E, já agora, que no 3-0 ao Boavista, anterior jogo do campeonato, não acertara agulhas com a exibição que andava a faltar-lhe. Por fim, o novo treinador: nem Jardim, nem Jesus (obviamente impossível); chama-se - digam lá outra vez… - Marcel Keizer. Pode ser que dê certo. Entretanto, Varandas assumiu colocar-se na zona mais vermelha de risco!

José Peseiro não soube… defender-se. Terá tido ótimas razões, tecnicamente, para, na Taça da Liga, prescindir de tantos habituais titulares: preparar alternativas, num plantel débil, longe da anterior qualidade (daí ter iniciado temporada com modelo de jogo cauteloso, tão distante daquele, muito ofensivo, amiúde brilhante, no seu Sporting que perdeu o título a 6 minutos do final na Luz! - e, 4 dias depois, sob trauma, perdeu final da Taça UEFA… onde chegara). Porém, tão em cima das tais entrevistas do presidente, Peseiro, pensando em si, deveria ter apresentado o melhor onze, para ganhar ao Estoril, cortando argumentos à demissão. E muito pecou, aí sim, no balbuciante discurso de que, naquelas condições, a equipa até jogara bem! Guilhotina preparadíssima, Peseiro lá pôs a sua cabeça!

Patrício: façam-lhe estátua em Alvalade! Ganharia, a reinar, causa de justa rescisão. E eis que prescindiu de €5 milhões (!) a que tinha direito no Wolverhampton, passando-os para a verba a encaixar pelo Sporting! Quem mais tal faria?!!!