Adiar o futuro!...
Joga no Euromilhões» foi o sms que recebi, de um amigo muito próximo, no sábado passado, às 18 horas e 38 minutos, e que me remetia para a notícia de que o Congresso Leonino havia sido adiado. Limitei-me a responder o óbvio: pois, mas eu no Euromilhões não acerto!...
O que ele queria dizer é que eu tinha acertado quando havia dito que o Congresso Leonino não iria acontecer, ou, pelo menos, se não iria realizar, neste Novembro. Palpite ou intuição? Palpite não foi certamente, porque a falta deste é exatamente a razão porque nunca acertei no Totobola e não acerto no Euromilhões! Intuição, pressentimento, talvez, porque certos sinais, ou a ausência deles, me levavam a deduzir isso.
Congresso tem por objetivo congregar, e o Congresso Leonino, em particular, congregar os sócios do Sporting Clube de Portugal. O Conselho Directivo falhou completamente o objetivo e lema da sua campanha ‘Unir o Sporting’, e, pelo contrário, muita coisa tem feito no sentido de desagregar, não discutindo nada, nem coisa nenhuma, numa falta de humildade que já atingiu a arrogância!
A palavra congresso, do latim congressus, é uma palavra imediatamente relacionada com uma reunião de pessoas, normalmente, de militantes de um partido ou associação, profissionais ou empresas de um determinado sector, ou com outras finalidades. Na área do futebol, ou de outros desportos, também se têm realizado congressos, designadamente, lembro-me de há uns anos ter participado num Congresso da Federação Portuguesa de Futebol, salvo erro em Troia. No seio dos clubes não me recordo de nenhum congresso, e, muito menos, que um congresso tenha consagração estatutária, como é o caso do Sporting:
SECÇÃO III
- Do Congresso Leonino
Artigo 63.º
(Congresso Leonino)
1 - O Congresso Leonino, a realizar de quatro em quatro anos, tem por objectivo congregar os sócios do SPORTING CLUBE DE PORTUGAL no estudo dos problemas fundamentais da educação física, dos desportos e das actividades culturais e recreativas e, bem assim, afirmar o espírito de solidariedade entre os desportistas portugueses em geral e os sportinguistas em particular.
2 - O Conselho Directivo promoverá a realização do Congresso Leonino, em território nacional ou no estrangeiro, conforme as circunstâncias o aconselharem, com audiência prévia dos órgãos sociais, em plenário.
3 - A orgânica e o funcionamento do Congresso Leonino constarão de regulamento próprio, a elaborar e aprovar pelo Conselho Directivo.
Na minha modesta opinião, um congresso do Sporting deveria ter menos temas, e um objetivo mais ambicioso. Na verdade, sendo o Congresso Leonino, nos termos estatutários e nas palavras do Conselho Directivo um evento agregador da família Sportinguista no qual os sócios e adeptos do Sporting CP se podem pronunciar abertamente sobre os assuntos relativos ao Clube, projectando a sua visão para o futuro, deveria ter havido um esforço no sentido da mobilização para o tema que é absolutamente decisivo para o futuro do clube e da SAD, concretamente, para a relação entre a associação e a sociedade anónima desportiva, ou ainda mais concretamente, para a posição daquela na composição do capital social desta. Quer se queira, quer se não queira, quer se goste ou se não goste, é esta a questão decisiva, a tratar urgentemente, de uma forma séria, serena e objectiva. Isto é, citando o consultor de comunicação Rui Calafate, no seu lúcido artigo de ontem num jornal da concorrência: «O Sporting ou se equilibra e acalma ou terá um destino que ninguém deseja».
Ao fim e ao cabo, as várias secções do congresso previsto, mas adiado - o clube, os sócios e os adeptos, futebol modelo estratégico, modalidades modelo estratégico e sustentabilidade financeira e marca - convergem todos no modelo estratégico do clube e sociedade anónima desportiva, como acima se referiu, e só este dá muito pano para mangas.
A falta de mobilização para o congresso é da responsabilidade do Conselho Directivo, que de uma forma geral comunica mal por incompetência, mas, no caso do congresso, por falta de interesse na realização do mesmo, como resulta claramente do seu comunicado de adiamento do mesmo, aceitando a proposta da comissão organizadora - aceitável com fundamento na falta de mobilização dos associados, mas inaceitável quanto ao momento agora proposto e, ao que parece, sem retorno:
«Assim, e tudo ponderando, entende o Conselho Directivo acolher a recomendação da Comissão Organizadora no sentido de que a melhor solução neste momento será - mantendo e reiterando o seu firme propósito de realização do X Congresso Leonino -proceder ao adiamento do mesmo, fixando-se já nova data para o efeito. Essa nova data deveria coincidir preferencialmente com um momento mais propício à reflexão dos Sócios do Clube e menos sobrecarregadas de eventos clubísticos ou desportivos - entre o final da época desportiva presente e o início da próxima».
É cada vez o maior número dos associados e adeptos que já perceberam que o Sporting e a sua SAD têm de mudar de vida. A propósito, não posso deixar de dar as boas vindas ao meu querido amigo e consócio Sérgio Abrantes Mendes que na sua coluna ‘O senador de A BOLA’ de ontem, se junta aos que pensam «que nada parece fazer parar este movimento tendencialmente elitista que, estou certo, vai determinar, mais tarde ou mais cedo, alterações radicais na reestruturação dos clubes portuguesas, não apenas em termos estatutários, como também ao nível da regulamentação das sociedades anónimas desportivas».
Pelo contrário, o Conselho Directivo do Sporting continua a pensar que o futuro do Sporting é para ir adiando, e não consegue perceber que para o futuro do Sporting amanhã já é tarde. Está a fazer às questões de fundo o que fez à preparação da época desportiva em curso, com os resultados que estão à vista e com outras consequências que ainda não se sabe quais serão.
Com respeito, mas sincera e frontalmente, direi que é inaceitável que se considere «o final da época desportiva presente e o início da próxima», o «momento mais propício à reflexão dos Sócios do Clube». Deveríamos era ter a humildade de reconhecer que esta época desportiva, em termos de futebol, está perdida, e que, portanto, nos devíamos mobilizar para projectar o futuro que esse é o objetivo imediato e urgente do congresso.
O Congresso, já! Não guardes para amanhã o que podes - e deves - fazer hoje. Com humildade, reconheçamos, cara a cara e olhos nos olhos, os erros cometidos, o maior dos quais é não aceitarmos e não falarmos a verdade, e não encararmos o futuro, com essa mesma humildade, traçando um rumo moderno e sustentável, sem complexos, nem orgulhos parolos, porque o tempo do futebol na Europa não é de parolices, mas para homens lúcidos, determinados e com confiança nas suas capacidades.
E faço um apelo ao presidente do Sporting, Frederico Varandas, para que reflicta sobre o seu apelido e escolha o sentido do seu rumo: a varanda de onde se olhe o horizonte do nosso futuro ou a janela de onde foi atirado o traidor Miguel de Vasconcelos no dia 1 de Dezembro de 1640, quando Portugal retomou a sua independência.
Só um um projecto novo congregará os sportinguistas rumo ao futuro que é amanhã. Adiar o congresso foi «adiar a união dos sportinguistas e o futuro do Sporting». A história não nos perdoará o fracasso, após mais de cem anos de esforço, dedicação, devoção e glória de todos os que nos antecederam, a começar no Visconde de Alvalade e Francisco Stromp.