Abril sonhos mil
Sporting sonha com o título, Porto sonha com meias-finais da Champions, Benfica e Braga sonham com (milhões do) 2.º lugar
A BRIL, mês de decisões, por cá e na Europa. Nele se disputam as cinco primeiras jornadas da reta final do campeonato (as cinco últimas ficam para maio), os quartos de final e a 1.ª mão das meias-finais da Champions e da Liga Europa. É um mês cheio de futebol, onde se começa a definir quem serão os vencedores e os derrotados da temporada. Um mês onde (quase) todos os sonhos ainda são permitidos. Em face das posições que ocupam, basicamente é assim: o Sporting (1.º) sonha com o título; o Porto (2.º) sonha com meias-finais da Champions; e o Benfica (3.º) e o Braga (4.º) sonham com (os milhões do) 2.º lugar. No final do mês veremos quem está mais perto - ou mais longe - dos objetivos possíveis. E sublinho final do mês porque no dia 25, da Liberdade, disputa-se o único jogo grande de abril: SC Braga-Sporting, em casa do arquiteto Souto de Moura.
Dos quatro, o FC Porto é o que tem o mês mais difícil: faz sete jogos, sendo que dois deles podem valer uma presença na meia-final da Liga dos Campeões, onde nenhuma equipa portuguesa põe os pés desde abril de 2004. O FCP retoma o campeonato no sábado - joga com o Santa Clara no Dragão - e depois recebe o Chelsea na 1.ª mão dos quartos de final da Champions - recebe entre aspas porque os dois jogos realizam-se em Sevilha, no estádio Sanchez Pizjuan (hola, Lopetegui). Vendo bem as coisas, o FCP não perde nada com isso: fica dispensado do trauma de viajar para Inglaterra, onde nunca ganhou um único jogo (em 17)… e onde costuma perder forte e feio. Ademais, os portistas têm boas recordações de Sevilha: ali ganharam o quarto dos seus sete títulos internacionais, a Taça UEFA de 2003 (3-2 ao Celtic na final, com Mourinho no banco). É claro que o duplo embate com a forte equipa do alemão Thomas Tuchel - que foi vice-campeão europeu com o PSG em Lisboa, na época passada - ocupa os pensamentos de Sérgio Conceição desde o minuto em que o sorteio ditou o acasalamento. Percebe-se porquê. Como tantos outros treinadores portistas antes dele (Pedroto, Artur Jorge, Ivic, Bobby Robson, Oliveira, Fernando Santos, Mourinho, Victor Fernandez, Jesualdo, Villas-Boas, Vítor Pereira, Lopetegui…), Sérgio sabe qual é o palco que conta e percebe muito bem a enorme diferença que há entre ser grande nas competições domésticas e ser grande na competição mais elitista e exigente do mundo. É precisamente na Champions que Sérgio - e o FC Porto - têm reforçado a imagem no futebol de elite, o tal que rende milhões, é visto por milhões e projeta jogadores e treinadores para transferências de milhões. No espaço de seis dias (7 e 13 de abril), Sérgio saberá se é, ou não, o quarto treinador portista a atingir as meias-finais da Champions depois de Artur Jorge (1987), Bobby Robson (1993) e José Mourinho (2004). Tem capacidade para isso, mesmo sem Taremi e Sérgio Oliveira, suspensos para a 1.ª mão. Mesmo que os ingleses (gastaram 240 milhões em reforços!) pareçam mais fortes. Como a Juventus...
TRÊS PONTOS A TRÊS PONTOS
OSporting joga segunda-feira em Moreira de Cónegos a primeira das quatro finais antes da difícil deslocação a Braga, último compromisso de abril. É público que os leões traçaram como objetivo chegar a esse jogo com a vantagem que ora desfrutam: dez pontos sobre o segundo classificado, 13 sobre o terceiro, 14 sobre o quarto. Se isso acontecer, independentemente do resultado da Pedreira, dificilmente o Sporting deixará fugir nas últimas seis jornadas o lugar que tem - lembre-se que o líder só perdeu 8 pontos nas primeiras 24 jornadas. Rúben Amorim continuará a insistir na tecla do jogo a jogo que, na prática, tem sido três pontos a três pontos. Os leões ganharam nove dos últimos dez jogos (empate no Dragão pelo meio) e mostram uma constância e uma solidez absolutamente inesperadas numa equipa inabituada a ganhar campeonatos. É claro que tudo isto pode ser posto em causa por um ou dois tropeções, mas o que se tem visto é o contrário: uma equipa determinada em ganhar todos os jogos, custe o que custar, haja o que houver, aconteça o que acontecer. Com Paulinho de volta ao onze e uma série de internacionais com o ego em alta após os jogos feitos pelas seleções nacionais (A e sub-21), Rúben Amorim tem condições para fazer do mês de abril a antecâmara da consagração - se não perder nenhum dos próximos três jogos ele torna-se o primeiro treinador leonino em 87 anos a completar 27 jogos invicto no campeonato. Sem esquecer que os adversários até à final de Braga - Moreirense (fora), Famalicão (casa), Farense (fora) e Belenenses SAD (casa) - tudo farão para se tornarem a primeira equipa a derrotar o líder.
Benfica (3.º) e Braga (4.º), ainda mais distantes do Sporting que o FC Porto, estão aparentemente reduzidos a aspirar à mesma coisa: qualificação para a Champions, de preferência no 2.º lugar, o tal que garante encaixe automático de 40 milhões. E para chegarem lá é preciso que o FCP se distraia (em nossa opinião, tem o melhor calendário dos quatro) ou que acuse muito o desgaste da Champions. Quem não perceber o perigo do 3.º lugar é porque não esteve atento ao que aconteceu no Benfica-PAOK e no FC Porto-Krasnodar. De qualquer maneira, o Benfica ultrapassou o Braga na última jornada e garantiu vantagem no confronto direto em caso de empate final. Quer isto dizer que Carlos Carvalhal está realmente a dois pontos (e não um) de Jesus. O calendário do Benfica em abril sugere uma colheita de quinze pontos, mesmo com deslocações a Paços de Ferreira (dia 10) e Portimão (21). Os três jogos na Luz (Marítimo, Gil Vicente e Santa Clara) parecem acessíveis. O Braga tem um jogo terrível no dia 25 (Sporting) e até lá joga com Farense (fora), Belenenses SAD (casa), Rio Ave (fora) e Boavista (casa). Ou muito me engano, ou esta última derrota caseira com o Benfica terá comprometido irreversivelmente a possibilidade dos guerreiros chegarem aos lugares de Champions.
SALAH E O ELOGIO A CR7
V OLTANDO aos jogos da Champions e ao cartaz maior dos quartos de final - o Real Madrid-Liverpool, evidentemente -, vejamos o que disse o egípcio Mo Salah em entrevista publicada ontem pela Marca: «A diferença para [a final de] Kiev [em 2018, ganha pelo Real ao Liverpool por 3-1] é que agora somos campeões (…) Este é um Real Madrid diferente, sem o melhor jogador da sua história.» É claro que o excelente Salah, como imaginam, não se estava a referir a Gareth Bale. Facto é que a Marca colocou essa reticência em primeira página numa altura em que a possibilidade de Cristiano Ronaldo voltar a Madrid incendeia o imaginário de milhões de adeptos merengues, órfãos do grande goleador desde o verão de 2018. Voltará, não voltará? Faça o que fizer, Cristiano, tristonho e em nítida baixa de forma, está condenado a ser noticia e não deixa de ser curioso que um grande jogador como Salah tenha reconhecido instintivamente aquilo que fazia do Madrid uma equipa diferente… para melhor: a presença de Ronaldo.
De qualquer maneira, o Real Madrid não terá de se preocupar somente com a sede de vingança de Salah, atropelado e posto KO por Sergio Ramos à meia hora da tal final de 2018, em Kiev. A julgar pela sede de golo do nosso Diogo Jota (cabecinha de ouro!), Zinedine Zidane tem muito com que se preocupar na próxima terça-feira…