A um passo da maioridade

OPINIÃO02.10.202206:30

Solidez da Taça da Liga é visível, como o é também a capacidade de inovar da Liga

Aidade da adolescência, dizem os especialistas, é uma altura que deve manter todos atentos e é também nesta fase que os mais novos definem vincados traços de personalidade, não só física como mentalmente. A autonomia é uma delas e talvez das mais importantes, porque esta característica permite mostrar, entre outros fatores, a maturidade acumulada ao longo dos anos, sem nunca deixar de lado a vontade de crescer, reinventar-se e construir os alicerces finais da identidade que marcará a nossa vida adulta.
E é assim que, nesta casa, vivemos também a Allianz CUP, já a entrar no 16.º ano de existência - a um pequeno passo da maioridade - e pronta para receber, esta temporada, um modelo necessariamente diferenciado e transitório, numa solução competitiva perfeita pensada para minorar o impacto que a paragem de um inédito Mundial no outono/inverno trouxe aos clubes profissionais. Impactos que seriam, em primeira instância, desportivos, numa quebra no tradicional ciclo competitivo nos meses de novembro/dezembro, cuja inatividade dos plantéis seria de consequências incertas para a segunda e decisiva fase da época. Por outro lado, uma paragem com efeito na relação contínua com os adeptos, no retorno de patrocinadores e no vazio de conteúdos para broadcasters e outros órgãos de comunicação social, que se veriam privados durante quase dois meses de qualquer jogo oficial das principais equipas de futebol portuguesas.

Este reajuste, mais um nos 16 anos de existência desta competição, é no entanto também a prova de que esta competição continua a fazer todo o sentido no calendário nacional, seja na vertente de criação de  valor como plataforma competitiva diferenciada, ora pela importância para algumas equipas com um reduzido número jogos na sua época (as que não jogam na Europa), seja para a gestão de plantéis e lançamentos de jovens, ou numa vertente comercial de distribuição financeira democratizada entre clubes da LPbwin e LP SABSEG, aliás uns dos fundamentos principais que levaram à criação desta competição em 2007.
Esta solidez da Taça da Liga é visível, como o é também a capacidade de inovar que a Liga teve (e procura manter) na busca de mais e diferenciados modelos, capazes de atrair novos públicos e mais marcas. A Final Four é, talvez, o maior exemplo de ativação de entretenimento em Portugal. Aposta ganha e um momento marcante da época futebolística portuguesa, onde todos ambicionam marcar presença.

Talvez por isso, não surge como surpresa o anúncio da renovação do acordo de patrocínio com a Allianz, para que esta possa continuar a dar o nome à Taça da Liga por mais duas temporadas, transformando-se no acordo de naming sponsor de uma competição mais longa na história do futebol português. Não existem grandes projetos sem grandes parceiros.
Na antecâmara do processo de centralização dos Direitos Audiovisuais, a Allianz Cup tem demonstrado o potencial que pode ter um produto em que o comprometimento de todos é total, em que o futebol jogado dentro do relvado se complementa com a criação de experiências para todos os que querem viver e/ou investir nesta atividade, e como, no final do dia, uma estratégia coletiva de promoção aproxima públicos que normalmente não vemos na bancada ou em frente à televisão, sem que isso belisque a rivalidade disputada nos 90 minutos.

Os próximos passos, nomeadamente as particularidades que o novo ciclo UEFA pós-2024 levantam aos calendários nacionais, serão de reflexão e reajuste, na certeza que todas as premissas que levaram ao nascimento da Taça da Liga se mantêm tão, ou mais fortes.
É quando atingimos os 18 anos que nos é dada a permissão de podermos sair do país sem restrições. E como acontece com tantos dos nossos filhos que vemos crescer e voar, também perante a maioridade da Allianz Cup se afigura um novo mundo de oportunidade além-fronteiras, num caminho para a internacionalização que pode estar mais perto do que muitos possam antever.
É obrigatório pensar positivo e em grande! Há muitos anos, Antoine Saint-Exupéry, sem querer, ensinou-nos que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. Que assim seja!