A última Canada Dry do deserto

OPINIÃO18.01.202119:59

Tudo muda num instante. No futebol e na vida. Nem o Sporting é o principal candidato ao título, nem o Natal chega em janeiro

O futebol é volátil. O que hoje é branco, amanhã é preto. O que hoje é gordo, amanhã é magro. O que hoje é lindo, amanhã é feio. Olhemos para o Sporting. Há 11 dias, entrou no lamaçal da Choupana e venceu por 2-0. Era quase inevitável pensar-se: quem ganha num terreno assim, demonstrando tamanha fortaleza física e mental, tem de ser visto como o principal candidato ao título. Dois jogos mais tarde, após derrota para a Taça com o Marítimo e empate para a Liga com o Rio Ave, surgiram os críticos: o Natal chegou em janeiro. Ambas as teses são falsas. Nem o Sporting é o principal candidato ao título, nem o Natal chega em janeiro. Rúben Amorim, há 11 dias, era a última Coca-Cola do deserto. Agora, entre Pepsis, Coca-Colas e Canada Dry, não está no top-20.

O LHEMOS para o FC Porto e para a sua volatilidade.  Vinha de sete vitórias para a Liga e, pelo meio, o triunfo na Supertaça Cândido de Oliveira. Frente ao Benfica. Se alguém tivesse um níquel para apostar no vencedor do clássico do Dragão, a esmagadora maioria tê-lo-ia posto em cima do símbolo da Invicta. Porém, talvez surpreendido pela impetuosidade dos jogadores encarnados, o FC Porto não foi o FC Porto do costume. Pareceu espantado por estar a defrontar um Benfica com alma de FC Porto e volatilizou-se. É o pior arranque de Sérgio Conceição no FC Porto (32 pontos contra 35, 36 e 36 nos três anos anteriores), fruto, muito possivelmente, de anomalias defensivas (17 golos sofridos em 14 jogos). Está fora da corrida? Quem pensar assim, está louco.

P ASSEMOS ao Benfica. Antes do clássico do Dragão, Jorge Jesus estava morto e acabado. Tinha mais rugas, mais cabelos brancos e, estranhamente, andava sereno e nada conflituoso. Não era, pois, Jesus. Era apenas um dos seus apóstolos. Porém, bastou empatar no Dragão (empatar!) para voltar a ser o mestre da tática. Há três dias havia 20 Coca-Colas iguais a ele no deserto. Agora volta a ser a última. Algo é imutável e impossível de volatilizar: é o segundo pior arranque de Jesus no Benfica, após o de 2010/2011 (30 pontos contra os atuais 32). Que significa este dado? Nada. Há um ano, à 19.ª jornada, o líder levava sete pontos de avanço sobre o 2.º. E este foi campeão com cinco de vantagem.

A terminar, o SC Braga. Está mais volátil. Tentou a aproximação a Benfica e FC Porto e a ultrapassagem de Sporting, mas tem agora o Paços de Ferreira a apenas dois pontos. Mas, tal como as outras três maiores equipas portuguesas, tem bom treinador: Carlos Carvalhal.