A tese do talento e do esforço

OPINIÃO11.05.202004:00

NÃO sei como nasceu a teoria de que Cristiano Ronaldo é o que é à custa de muito esforço e muito treino e Lionel Messi é o que é apenas à custa de talento raríssimo. Nenhuma das teses me parece verdadeira. CR7 é um talento puro que trabalhou muito para se tornar num fenómeno mundial. LM10 é um talentosíssimo miúdo que, aos 12/13 anos, tinha deficiência de hormona do crescimento. Não era baixo, era excessivamente baixo. Os tratamentos custavam uma quantia que, por a família não ter dinheiro suficiente, passou a ser paga pelo Barcelona quando Messi foi para a cidade condal. O prescrito era simples: injeções de hormona do crescimento. Não era doping, era apenas tratamento dessa deficiência hormonal, devidamente monitorizada por médicos credenciados. Messi tinha 1,22 metros aos 10 anos e 1,40 m aos 14. Se não tivesse sido submetido ao tratamento, teria chegado à idade adulta com 1,50 m.  Insuficiente para ser jogador de altíssimo nível. Assim, fruto de cuidados, cresceu 30 centímetros em pouco mais de dois anos, até ao atual 1,70 m.  E é um dos mais fantásticos jogadores que o Mundo já viu. Tal como Cristiano Ronaldo. Não se trata aqui de achar que A é melhor que B ou B é melhor que A. Trata-se, sim, de evitar que continue a espalhar-se a tese de que o português é o que é à custa de muito esforço e muito treino e o argentino é o que é apenas à custa de talento raro. Não é verdade.

POR falar em jogadores baixos, lembro-me de uns quantos: Simões, Octávio, Alves, Frasco, Chalana, Rui Barros, João Vieira Pinto, Simão e João Moutinho, por exemplo. João Alves pôs agora o dedo na ferida: «A despromoção do Cova da Piedade e do Casa Pia é uma das maiores vergonhas do futebol português». Não sei se é (ou não) uma das maiores. Mas que é uma decisão incompreensível (para mim), é. A decisão tomada para a Liga deveria ser igual à decisão tomada para a Liga 2. Ou campeonatos terminados com a classificação atual ou campeonato até ao fim. Há ainda um clube condenado a dois anos de proibição de participação na Liga e na Liga 2, no âmbito do julgamento do processo denominado de Jogo Duplo, que afinal não desce? E descem os dois últimos classificados? Não faz sentido. Das duas, uma. Ou o Leixões não tem qualquer ligação ao Jogo Duplo e deve ser, de imediato, ilibado em todos os processos, mantendo-se por direito próprio na Liga 2 ou, então, tem de descer de divisão. Não faz sentido não ter sido ilibado e poder disputar a Liga 2 em 2020/2021. Caso a  atual Liga não possa ser concluída, haverá coragem para dar como campeão nacional a equipa que, naquele momento, estiver na frente da classificação, como foi feito na Liga 2, com as subidas de Nacional e Farense?