A tempestade perfeita no Sporting
SPORTING. Demasiados anos de grandeza sem a necessária confirmação nos resultados desportivos provoca ansiedade, dúvida, impaciência e, acima de tudo, uma óbvia ausência de lucidez coletiva, porque o momento apela à emotividade, à contestação, à desordem, mas não consente nem tempo, nem estabilidade para pensar seriamente nas causas, estudar as consequências, ponderar os efeitos e partir para uma solução com critério, com inteligência, com serenidade e com convicção. Com um presidente impreparado, um treinador imaturo, uma equipa desacreditada, massa associativa fragmentada, instalou-se a calamidade desportiva e foram criadas as condições para que se instalasse a tempestade perfeita.
VARANDAS. Generosidade, sportinguismo, juventude, teimosia, são, manifestamente, atributos insuficientes. Até poderiam chegar, no caso de se tratar de um clube a andar, perfeito, nos carris. Não é assim. O Sporting vive numa instabilidade crónica, num estado de perturbação permanente e, por isso, tanto pode estar pronto a ser tomado outra vez por uma figura populista e autoritária como a de Bruno de Carvalho, como pode continuar a produzir resultados eleitorais inconsequentes, porque não elege líderes, mas presidentes de representação frágil, sem força para susterem a força dos ventos ciclónicos que sopram contra. Varandas foi eleito por uma minoria de sócios e teve a infelicidade de não perceber que, depois de um período de presidencialismo personalizado, a única solução seria a de descobrir uma geringonça leonina que funcionasse, que desse músculo, e que gerasse o conforto maioritário que não tem, nem nunca terá. Para além da manifesta incapacidade para perceber a importância de trabalhar na formação de uma ampla maioria favorável, tornando-a, aliás, impossível, Varandas ainda caiu numa armadilha de amador, ao ter-se livrado do treinador José Peseiro, em nome de uma fraca manifestação de autoridade, agravando os efeitos dessa decisão extemporânea e despropositada, somando treinadores até à certeza unânime de que, afinal, não são eles, nenhum deles, os verdadeiros culpados. As opções de Varandas expuseram o presidente de tal forma que, na minha opinião, condenaram-no à morte institucional. Pode conseguir adiar a decisão, mas chegou a um ponto sem retorno.
SILAS - No sítio errado à hora errada. Acontece. Percebe-se que tenha dito sim. Poucos seriam os que, nas suas circunstâncias, diriam que não. Pode aprender na lição de vida, mas há etapas que não se podem queimar. Uma delas é a da experiência, a outra é a do estatuto de autoridade e liderança que só um currículo forte pode dar. Dir-me-ão que o futebol já conheceu casos de treinadores debutantes que chegaram precocemente a grandes clubes em fase de instabilidade e se tornaram famosos. Pois há. São os génios e esses, tal como dizia Pessoa, são protegidos dos deuses. Silas pode vir a ser um bom treinador, nenhum eventual fracasso no Sporting o irá impedir de provar valor, mas não será um génio. Viram aquele discurso vago e crispado depois do jogo? Aquela despropositada alusão a Bruno Fernandes (talvez também a Acuña) dizendo que o Sporting não precisa de heróis? Como quer Silas fazer uma equipa se rompe com os melhores e os mais fortes? Que estatuto tem para publicamente os afrontar?