A tecnologia também falha
Na última jornada, um dos jogos da Liga ficou temporariamente privado do apoio da vídeo-tecnologia. A avaria, que durou cerca de trinta minutos, deveu-se ao que se designou oficialmente como «falha no componente do hardware da solução». Independentemente da especificidade técnica da questão, a verdade é que esta realidade expôs, mais uma vez, uma das verdades La Palisse que nos guia, no futebol e na vida: a de que nada é absolutamente infalível (e nem a melhor das tecnologias - produto da criação humana - escapa a essa realidade).
Neste caso e apesar de uma taxa de sucesso altíssima (um comunicado publicado pouco depois referiu que foi apenas a segunda falha em mais de trinta mil horas de comunicações), o assunto foi resolvido com recurso ao sistema backup, utilizado com sucesso durante a segunda parte do FC Porto-Vitória SC. Quando acontece uma falha na Tecnologia do Videoárbitro, a primeira coisa que os técnicos têm de fazer é identificar a sua origem: será que o problema está na Cidade do Futebol ou no estádio de onde é transmitido o jogo? Será que se trata de uma questão relacionada com a fibra ótica? Será que afeta apenas o som (a comunicação entre VAR e equipa de arbitragem) ou só a imagem? Ou ambos? Depois de identificada e diagnosticada a falha, passa-se à fase seguinte: resolvê-la.
No caso em apreço, a empresa parceira da FPF - que tem técnicos em permanência no Centro de Operações (em Oeiras) e em cada estádio onde são transmitidos jogos - chegou à conclusão que a origem da falha era local (a partir do Estádio do Dragão). O Plano B (backup) foi então ativado e a questão tratada da maneira possível. Explicado o processo técnico, vamos ao humano.
De acordo com informação oficial, o Delegado da Liga informou o 4.º árbitro que a partida estava momentaneamente sem VAR. Este, naturalmente, terá informado, de imediato, o seu colega de campo que o apoio da vídeo-tecnologia estava temporariamente indisponível. Não foi possível apurar se Fábio Veríssimo percebeu que estava apenas sem som ou se sem som e imagem, tal como não foi possível apurar se deu disso conta aos capitães de equipa. Não se sabe também se os clubes foram ou não informados no momento. Certo, certo é que há sempre aprendizagens a retirar de cada falha, de cada momento menos positivo, que acontece e acontecerá pontualmente.
Neste caso e por uma questão de transparência e credibilidade, o mais adequado seria que, a partir do momento em que se detetou a avaria, a equipa de arbitragem, os clubes intervenientes e todos os adeptos presentes no estádio fossem, desde logo, informados. Isso evitaria algumas cenas desagradáveis e ruído suspeito em redor de cada decisão tomada em campo. Defendia o projeto e o próprio árbitro, que todos saberiam estar de novo entregue às suas decisões in loco. Se foi esse o caso, ótimo. Pouco mais haveria a dizer ou fazer. Se não foi, aí está uma excelente oportunidade para melhorar.
Este é o primeiro ano oficial do Videoárbitro em Portugal. O investimento é avultado, as expectativas altíssimas e tudo o que gravite em torno da tecnologia será sempre alvo de escrutínio apertado e, quase sempre, parcial. Sobretudo quando algo não corre bem. A única maneira de evitar especulações e dúvidas é assumir, esclarecer, explicar. Tudo e todos. Só a clareza absoluta de processos mata, à nascença, suspeições desnecessárias. O futebol português bem as dispensa...