A situação normal do sportinguista: preocupado!

OPINIÃO16.07.202004:00

Era difícil estragar a festa ao Porto. Tanto mais que aos Dragões bastava deixar correr o jogo com um 0-0. Mas venceram, justamente, há que dizê-lo, dando razão a Rúben Amorim quando afirmou que um dia havia de perder. Foi esta a primeira derrota como treinador da Liga, tanto no Braga como no Sporting. Tanto por isso, como por ter sido a partida que deu este estranho campeonato pandémico ao FC Porto, jamais há de esquecê-la. Parabéns ao Porto, mas agora estou preocupado com o Braga, que ficou a dois pontos de nos roubar o segundo lugar. E ainda temos de ir à Luz.


Se o Porto foi um justo vencedor, não se pode dizer que o Sporting jogou mal. Apenas não tem equipa para muito mais, sobretudo quando lhe falta Vietto, um construtor de finalizações. E pelo que tenho visto, esta equipa, com a raça que mesmo assim mostra, pode ir à Luz vencer.


Esta é a preocupação imediata. E, tendo em conta o número de jovens (ou mesmo muito jovens) que alinham pelo Sporting, ter-se-á em conta que, à medida que o tempo passa e que a experiência se ganha, ser novo só dá vantagens. Por isso a minha segunda preocupação, como sportinguista, é com a próxima época. No campeonato pós-Covid o Sporting alcançou um score assinalável e muito diferente da mediocridade que vinha apresentando. Mediocridade que não tinha a ver com os resultados (pode jogar-se bem e perder, como o Guimarães na Luz); o caso é que o Sporting perdia muito, exatamente porque jogava mal. E mesmo quando ganhava jogava mal, pastoso, para trás, sem alegria nem garra. Sim, a preocupação é saber se vamos estabilizar (a pandemia deu cabo da vida das pessoas, das suas finanças, das receitas dos clubes, mas desportivamente, no caso do futebol, fez bem ao Sporting) ou se, para não variar, se vai arranjar uma coisa qualquer daquelas em que o Sporting é pródigo, para pôr a equipa de pantanas (e não falo das inevitáveis vendas de jogadores a que a franciscana situação da equipa obriga).


Seria bom que, a começar pela direção, existisse um compromisso em continuar a alegria e a garra que Rúben impôs ao clube. Não se trata, como já frisei, de ganhar jogos. Trata-se de, quando perdemos, ficarmos com a sensação de que fizemos o que estava ao nosso alcance para o impedir. E nesta época poucas, ou nenhumas vezes, se teve essa sensação.

Um presidente engraçado

O Presidente da Câmara Municipal do Porto devia decidir se é, sobretudo, portista ou portuense. Apesar de ser da lista de Pinto da Costa para um lugar qualquer, foi eleito pelos portuenses que, por motivos óbvios, não são todos portistas, ou seja, adeptos do FC Porto.


Nada tenho contra o facto de uma Câmara Municipal homenagear o clube da sua terra, sobretudo quando este ganha um título importante. Fernando Medina fez o mesmo com o Benfica (campeonato) e Sporting (Taça) no ano passado. Porém, além de vivermos uma situação sanitária delicada - que impede que os jogos tenham público - é natural que um presidente da Câmara se preocupe mais com a saúde dos seus munícipes do que com a festa que os adeptos do clube local vão fazer. Por isso, dar respostas aos avisos da Direção-Geral da Saúde, como Rui Moreira deu, é lamentável. Para explicar que não podia tomar medidas de prevenção em relação a festejos do FC Porto afirmou: «Já liguei várias vezes ao Covid e ele nunca me atendeu.» A piadola teria graça se o caso não fosse grave e, sobretudo, se não houvesse a relativa desconfiança de que, ao meter-se numa lista do presidente portista, Moreira não consegue impor uma regra sanitária. Ao contrário do que o presidente da Câmara afirma, não havia qualquer dificuldade devido à incerteza da data em que o Porto pode celebrar. As normas podem ser determinadas para qualquer altura do dia ou da noite. Concentrações nos Aliados, camionetas pela cidade, manutenção de distâncias, tudo isso pode estar determinado, fosse para ontem à noite, fosse para segunda-feira que vem, quando o Porto volta a jogar no Dragão e recebe o Moreirense.
Acresce que o mesmo autarca almoçou na terça-feira com o líder dos Super Dragões. Este diz que o almoço foi por acaso. E como somos lorpas, acreditamos na coincidência. Também por acaso, combinaram uma «festa exemplar, à Porto». A ideia pode ser a melhor, mas o presidente da segunda maior cidade do país reunir-se com o líder dos Super Dragões desacredita bastante as suas funções (espero que Medina não se lembre um dia de fazer o mesmo com os líderes do No Name Boys ou da Juve Leo).
É tempo de toda a gente envolvida com o futebol reconhecer que as claques são bandos de marginais fanatizados. Dar-lhes honra de palco na política, mesmo autárquica, mesmo disfarçada de encontro fortuito, é muito mau. É mesmo deplorável.

Outro presidente engraçado

O que mais gosto em Luís Filipe Vieira são as grandes lições de humildade e honestidade que ele dá ao povo. Infelizmente, o presidente do Benfica nunca passa muito tempo sem ter um processo qualquer à perna. Cá para mim, isto são conspirações que aqueles escassos portugueses que não são do Benfica, e os escassíssimos benfiquistas que não apoiam Vieira, tecem.


Mesmo antes do jogo contra o Guimarães lá apareceu mais um caso. Um saco azul, o que no Benfica não deixa de ser uma ironia imensa. Poderia ser o saco azul em que a equipa da Luz entrega o campeonato ao Porto, depois de ter sete pontos de avanço sobre o Dragão. Mas não; é mais uma trapalhada financeira que afinal, de acordo com um comentador benfiquista, não tem importância, porque se pagam umas multas ou coisa assim, e volta tudo a ficar como antes.


O dinheiro, de facto, não é o problema. O problema sempre foi como se consegue acumulá-lo, como com esquemas fraudulentos de fuga ao fisco se fura qualquer fair play financeiro que se repercute no fair play desportivo. E confesso que o que mais me revolta é que todas as iniciativas - sejam da Liga, sejam da FPF - para sanear este tipo de situações são torpedeadas pela própria justiça, ou pela justiça desportiva. Há mais do que casos. Não nos esqueçamos do célebre desembargador Rui Rangel (agora, finalmente, afastado da magistratura) que era um dos homens grados da equipa da Luz.


Não pretendo afirmar que é apenas no Benfica que estas situações acontecem. Passam-se em todos os clubes. Mas não deixa de ser curioso que os dois maiores, Porto e Benfica, foram e são, de longe, os que mais problemas tiveram com as investigações feitas.


Veremos no que dá esta Operação Saco Azul divulgada terça-feira por este jornal e cujas investigações vêm de 2018, com origem na Autoridade Tributária. Foram 1,8 milhões de euros - diz-se - para uma empresa informática, uma operação que durou seis meses e visava pagar serviços nunca executados.


Vão ver que foi essa incompetência de quem recebeu o dinheiro a troco de nada fazer, que fez o Benfica perder este campeonato… (também posso fazer uma piada, não?).