A semana inglesa
Começa hoje à beira do Mar Cáspio, em Baku, capital do Azerbaijão (situada na parcela europeia deste país predominantemente asiático) a semana da glória inglesa na Europa. Arsenal e Chelsea são os finalistas da Liga Europa num jogo que vale ao Arsenal, em caso de vitória, a entrada direta na próxima Champions. É possível que seja este o vencedor não só pela qualidade e contundência da dupla atacante Lacazette-Aubameyang, mas também pelo astral do treinador Unai Emery nesta taça: foi a três finais e ganhou-as todas. Para Maurizio Sarri, treinador do Chelsea, pode haver um jackpot suplementar seja qual for o desfecho da final: o convite para treinar a Juventus de Ronaldo. Dada a quantidade de problemas logísticos e não só que o local desta final originou, a UEFA faria bem em medir as consequências da próxima vez que decidir vender uma final por dinheiro. Mas o grand finale da temporada europeia acontece no próximo sábado em Madrid, no estádio do Atlético (Metropolitano), três semanas depois daquelas duas fantásticas reviravoltas operadas por Liverpool (0-3 para 4-0 com o Barcelona) e Tottenham (0-3 para 3-3 com o Ajax, com golo fora a valer por dois) em dois jogos marcados pelo andamento impressionante dos novos senhores da Europa. Entre o ímpeto infernal dos reds (sustentado e ampliado pela sonoridade de Anfield) que esteve, de facto, na origem do massacre ao Barcelona, e a combatividade extrema dos spurs em Amesterdão - quanta determinação naquela extraordinária reviravolta! -, venha o diabo e escolha. Por mim está decidido: Liverpool.
O lapso de tempo permitiu pelo menos duas coisas boas: a recuperação dos pontas de lança Roberto Firmino (Liverpool) e Harry Kane (Tottenham) para a final. São ambos grandes jogadores, quiçá os dois pontas de lança mais cerebrais e inteligentes do futebol atual. Muito sinceramente, parece-me que o Liverpool, em condições normais, ganha 9 em dez jogos com os spurs. O problema é que esse tal jogo pode ser o de sábado. Porque do outro lado está um treinador astuto e muito inteligente (Mauricio Pochettino) e vários jogadores de qualidade indiscutível (Kane, Eriksen, Lucas Moura, Dele Alli, Son… ) com vontade de fazerem o jogo das suas vidas - todos eles sabem que numa final da Champions as diferenças esbatem-se e vive-se um clima de tudo pode acontecer. Julgo que a maioria dos observadores concorda que o Liverpool tem mais equipa, mais experiência (terceira final europeia com Klopp nos últimos 4 anos), uma defesa fortíssima (o guarda-redes Alisson e o central Van Dijk são jogadores de classe mundial) e um tridente ofensivo que muita gente considera o mais letal da atualidade - de facto, o entendimento entre Sadio Mané, Firmino e Mo Salah (todos com 14 golos pelos reds na Champions) tem sido um regalo para a vista. Talvez a final se decida no meio campo e aqui parece-me que o Tottenham tem jogadores mais capazes na posse, circulação e temporização. O miolo do Liverpool é mais físico e muito mais brutal na pressão e no acosso. Se conseguir armar uma boa sintonia com o tridente (o que não aconteceu há um ano em Kiev, por várias razões) o Tottenham está tramado. É isto que esperam os dois portugueses do Liverpool (Rafael Camacho e eu).
A finalizar: já perdi a conta às vezes que nos últimos dias o nosso José Mourinho disse, referindo-se obviamente a Klopp: «Não consigo imaginar o que é perder três finais da Champions.» Típico de Mourinho, que por acaso foi despedido do Chelsea e do Man. United depois de perder jogos com Klopp. Descontando a carga negativa subjacente, a frase até podia soar inócua - a alusão a um desfecho que, se acontecer, será naturalmente muito doloroso para quem o sofre (Klopp). Não quero acreditar que Mourinho esteja a gozar um schadenfreude por antecipação ou a chamar a atenção para o facto de Klopp já ter perdido duas finais… enfim, seja como for Mourinho devia saber que nem todos têm, como ele, quatro títulos em quatro finais europeias, e que nem todos podem ser serial winners como ele foi… até começar a perder mais do que a ganhar.