A semana das coisas improváveis

A semana das coisas improváveis

OPINIÃO22.07.202306:30

Sporting com quatro defesas, Gonçalo Inácio a médio, Gyokeres na gaveta, Rúben silencioso. E ainda a surpresa de um nordeste que tanto cresceu

RÚBEN AMORIM foi notícia por ter assumido uma experiência improvável no Sporting. Prescindiu do sistema habitual de três defesas, em que assentara toda a estrutura de jogo da sua equipa, avançou Gonçalo Inácio, habitualmente defesa central, para o meio campo, e prepara cuidadosa e sigilosamente a entrada triunfal de Viktor Gyokeres para uma posição de ponta de lança de que só recentemente terá sentido falta para chegar mais eficazmente ao golo. Ora, isto, não é uma pequena mudança; é uma revolução!

Uma revolução, assim, obriga a alterações brutais na dinâmica dos jogadores, em campo. Colocam novos problemas, obrigam a outras rotinas que têm de ser testadas, treinadas, consolidadas.

Pergunta-se: e tudo isto, só porque o Sporting contratou o avançado sueco? É uma questão curiosa, tanto do ponto de vista teórico, como do ponto de vista prático, mas pode não ter a ver, e provavelmente, não terá, com a saída de Ugarte e uma eventual necessidade de libertar Morita de uma posição demasiado rígida, colocando, por isso, a seu lado, Gonçalo Inácio.
 
Confesso que, a tornar-se efetivo e normalizado este novo plano de jogo de Rúben, ficarei muito surpreendido e admito que aumentará bastante a minha curiosidade para ver a equipa na próxima época. Sinceramente, não vislumbro uma necessidade óbvia que decorra unicamente do facto do Sporting passar a jogar com um ponta de lança mais virado para a baliza e menos “jogável” na entrada da grande área. Além de que me parece arriscado o Sporting passar a jogar com dois centrais, sendo um deles Coates, tal como me parece ainda duvidoso de que Gonçalo Inácio possa vir a ser melhor médio do que era defesa.

Rúben Amorim, treinador do Sporting


Posto isto, será também de admitir a hipótese de Rúben estar apenas a testar um eventual plano B, sendo que o plano A, o que irá valer em quase todos os jogos, possa continuar a ser aquele que sempre caracterizou o Sporting de Rúben Amorim.

Há natural expectativa, entre os sportinguistas, para entender como vai ser o futuro da sua equipa e todos eles estarão à espera de declarações públicas do seu treinador que também decidiu ter uma atitude improvável para o seu temperamento e personalidade e preferir o silêncio ao esclarecimento da dúvida e ao comentário, antes sempre muito disponível e identitário, sobre futebol.

RECEBI um convite improvável para participar na Alfândega da Fé nas III jornadas das Conversas Improváveis. O primeiro contacto foi do meu amigo Fernando Seara, que me alertava para a curiosidade do evento, em que já tinha estado. Um padre jovem e interventivo, Manuel Ribeiro, entraria mais tarde em contacto comigo e o seu entusiasmo tornou-se contagiante. O tema intrigava-me: “Os deslugares da Fé”. Eu, homem de pouca fé, agnóstico praticante, desmerecido da intimidade de um crer indiscutível e indiscutido, no meio de um palco de ilustres pensadores cristãos. Aceitei o desafio e confesso que gostei de conversar sobre como o desporto também poderá ser, ele próprio, um deslugar da Fé. Porém, do que mais gostei e mais me surpreendeu foi o crescimento de um nordeste moderno, pujante e admirável nas suas paisagens únicas e sublimes. Neste “novo” nordeste parece não haver cantinho de terra por arranjar. Nascem oliveiras, amendoeiras e vinhedos pelas encostas empinadas. As estradas são tapetes admiráveis. As albufeiras estão cheias de água cristalina. As vilas e as aldeias orgulham quem lá vive e tornaram-se encantadoras para o viajante privilegiado. 

 

 


DENTRO DA ÁREA – UMA PAIXÃO NO FEMININO 

A Seleção de futebol femininoarranca, enfim, para a experiência  inédita de participar num Campeonato do Mundo. É assinalável o crescimento da equipa nacional e do futebol feminino no país. Um crescimento bem mais rápido do que a princípio se poderia supor, mesmo com uma atitude otimista. Porém, não se devem esperar milagres. O grupo de Portugal é fortíssimo e a passagem à fase seguinte parece improvável, apesar da generosidade competitiva de uma equipa em que todas as jogadoras têm verdadeira paixão pelo jogo.  

 

 


FORA DA ÁREA – PORTUGAL E OS PORTUGUESES 

A mais recente sondagem realizada para se saber o que os portugueses pensam do estado do país deu um resultado intrigante. Os portugueses acham que o principal problema de Portugal é o Governo. Mas também acham que o Governo deve continuar até ao fim da sua legislatura, ao que parece por falta de comparência de alternativas. O mais curioso é que foram precisamente esses portugueses que deram maioria absoluta ao atual governo. Daí se poder concluir que o principal problema do país são... os portugueses.