A Seleção Nacional e a ideia de Portugal
Face ao aprofundamento do projeto europeu, as representações desportivas são cada vez mais importantes para a identidade nacional
Aconcentração de jogos da Liga das Nações nesta fase de fim de vindima da época de 2021/2022 está a confirmar a excelência do lote de jogadores que compõem o plantel alargado de Fernando Santos. Exceção feita ao eixo da defesa, onde a míngua, potenciada pela ausência forçada de Rúben Dias, é evidente, os restantes setores vivem em abundância e devem suscitar momentos dilemáticos ao selecionador nacional. Mesmo sabendo que a engenharia de Fernando Santos é baseada na palavra equilíbrio, o que cria, por vezes, problemas de saída de bola, por ausência de linhas de passe (para evitar desposicionamentos), e que a capacidade de circulação se revela amiúde poucochinha para aquilo que a qualidade técnica dos jogadores sugere, a verdade é que nos dias de vacas magras, como sucedeu em Sevilha, os mínimos não deixam de ser alcançados, e em jornadas mais folgadas a libertação dos mágicos cria momentos de puro deleite. Ontem, o golo de João Cancelo, made in City, foi poesia em movimento e revelou a quota máxima desta seleção, no que respeita a nota artística. E também foi possível constatar uma vontade evidente de entrosamento entre Diogo Jota e CR7 e a alegria de Rafael Leão ao partilhar palco com o astro madeirense.
Alvalade, na noite de ontem, cheio com o público da Seleção, que vai para fazer festa e apoiar a equipa, apontou o caminho que deve ser seguido. Mas, mesmo assim, é imperioso que seja feita pedagogia juntos dos jogadores para evitarem, quando ao serviço dos clubes, comportamentos sectários e divisionistas, para termos cada vez mais, de quinas ao peito, uma verdadeira equipa de todos nós, expressão feliz do mestre Cândido de Oliveira que deve ser preservada, alimentada e defendida.
É muito curioso verificar como, por todo o Mundo, as representações desportivas têm ganho um relevo cada vez maior enquanto embaixadoras dos seus países, projetando-se nelas uma parte do orgulho nacional. No contexto que estamos a viver de aprofundamento do projeto europeu, onde são voluntariamente alienadas partes da soberania, todos os símbolos de identidade nacional ganham um valor acrescido, ao permitirem-nos manter a matriz fundacional. As seleções desportivas são importantes, e a mais representativa deve ser vista como mais do que uma mera equipa de futebol.
CRISTIANO RONALDO
Mais dois golos, desta feita à Suíça, elevando para 117 o pecúlio ao serviço da Seleção Nacional, cifra que torna a sua liderança mundial inalcançável, mesmo a longo prazo. CR7 é como Rafa Nadal ou LeBron James, vê-lo em campo é ter o privilégio de assistir à história do desporto a passar-nos diante dos olhos.
GARETH BALE
Pode ter saído de Madrid pela porta pequena, com fama (e proveito) de passar mais tempo em voltas de golfe do que nos treinos, mas o que representa para o País de Gales coloca-o na galeria dos imortais. Na finalíssima com a Ucrânia foi decisivo e os galeses regressam, 64 anos depois, a um Campeonato do Mundo de futebol.
LIONEL MESSI
A pulga, ou pica no clube, ou pica na seleção. Depois de brilhar muito no Barcelona e pouco pela Argentina, Messi inverteu a escala e agora brilha muito na Argentina (Copa América, finalíssima Conmebol/UEFA e, ontem, cinco golos à Estónia) e pouco no PSG. Mesmo assim, ainda está a 31 golos de Cristiano Ronaldo (117-86)...