A roleta e a rulote!...

OPINIÃO07.03.202001:00

Eu acho imensa graça ao Luís Freitas Lobo, conhecido comentador da Sport TV, quando, entusiasmado com um grande golo ou uma grande jogada de um jogo de futebol, proclama: «É futebol em estado puro». Foi inspirado nesta afirmação que, perante os últimos acontecimentos no Sporting, eu disse a alguns amigos: é o ridículo em estado de virgindade absoluta!...
Na verdade, sem que isto tenha alguma coisa ver com o cidadão e treinador Rúben Amorim, a quem aliás desejo o maior sucesso enquanto treinador, e, sobretudo, enquanto treinador do Sporting Clube de Portugal, é uma situação digna de riso, uma situação cómica no meio de um filme de terror. E uma situação de virgindade, porque sendo uma qualidade das virgens, tem também a ver com a candura e pureza como nos é apresentada. Tudo se conjugou, portanto, para se pensar que estamos perante um sketch, isto é, uma pequena peça, geralmente hilariante, representada em teatro ou na televisão, entre nós vulgarmente designada por rábula.
Mas, se as primeiras impressões são de chacota, que aliás se pensava ter acabado, porque assim o havia determinado o presidente Frederico Varandas, e houve quem sugerisse uma chamada da polícia ou se lamentasse que as brigadas da Operação  Fora de Jogo, que visitaram Alvalade, não levassem um psiquiatra ou um psicólogo que nos explicassem o que lá se passa, num segundo momento tenho de concluir que a cena não é própria de uma revista à portuguesa, mas de um filme de terror de uma realidade que não se sabe como e quando vai acabar. É que, por detrás daquele discurso, aparentemente cândido e puro, sinto que está alguém que nos considera totalmente parvos, e não «relativamente parvos», como diria o meu consócio Henrique Monteiro! Descortino a arrogância de quem se julga superior a todos os outros, de tal forma que não merecemos sequer uma explicação plausível, porque tudo aquilo que faz e diz é resultado de um projecto por ele concebido, mas que ninguém sabe, nem percebe, qual é. E é precisamente porque ninguém conhece o projecto, mas apenas os resultados, que aquilo que se passa no Sporting se transformou num novo filme de terror!
Andando com este filme para trás, podemos recordar que ele teve por protagonistas pessoas que apregoaram união mas que não fizeram mais que desunir. Mais: o clube estava até finais de 2017 mais ou menos unido em torno de um presidente que havia sido reeleito por larga maioria, mas que depois se descontrolou. Os associados não se desuniram no meio do descontrolo, antes se uniram para, face aos desmandos praticados, destituir o Conselho Directivo e expulsar o Presidente. Face à tragédia de Alcochete, acho que os sócios também se uniram na adversidade e apoiaram de uma forma geral o trabalho da Comissão de Gestão e as suas decisões, designadamente, mostraram grande consenso na escolha do treinador. Findo o acto eleitoral, haveria apenas uma franja de descontentamento, perfeitamente identificada, pois os sócios e adeptos mostravam-se de uma forma geral compreensivos perante as expectativas que não podiam ser elevadas. Foi excepção a crítica dura de José Maria Ricciardi que, passado pouco tempo sobre o acto eleitoral, insistia não ser a gestão do clube para estagiários. Essa intervenção, para muitos, entre os quais me encontro, considerada prematura, veio afinal mostrar-se fundada.
Logo de seguida, mostraram a sua preocupação pela falta de dinheiro para fazer face às obrigações, propriamente ditas, e outras, mas rasgaram uma reestruturação financeira preparada pela anterior Direcção, sem que se conheça a alternativa e se compare com a outra, e sobretudo que se explique porque é que não há dinheiro.  Não tinham dinheiro, mas mandaram às malvas José Peseiro, com todas as consequências financeiras e não só. Depois da prata da casa, Tiago Fernandes, foram ao mercado de treinadores, e adquiriram um de marca branca, como disse, com rigor e graça, José Pina. Salvo erro - e perdoem-me se me engano - também tiveram que dar qualquer coisa ao ex-patrão do Keizer! Depois Leonel Pontes, Silas e agora Rúben Amorim, este por dez milhões, mais juros e encargos.
Não havia dinheiro para manter Bas Dost, mas arranjaram trocos para pedir emprestados uns rapazes para fazer turismo em Portugal, preferindo que aquele e o Raphinha fossem fazer turismo lá para fora. Culpado? Bruno Fernandes claro, o único leader que, nos últimos tempos, apareceu em Alvalade, e que não conseguiram fosse vendido, não obstante a estratégia dos exterminadores da chacota. Porém, em Janeiro, grande negócio com a venda de Bruno Fernandes, aliás consequência do alegado disparate de Sousa Cintra em o fazer regressar, tal como a Bas Dost!...
Finalmente, a rulote do Dr. Zenha, com a venda de Bruno Fernandes transborda de dinheiro e, tal como o novo rico que arrota estrondosamente, após um almoço bem comido e bem bebido, ao mesmo tempo que agita o seu relógio de ouro, saca de dez milhões da algibeira e esfrega-os na cara do Salvador, como dizendo: querias o terceiro lugar? Isto é para quem pode, e não para quem quer!...
Há quem diga que esta gestão é como a roleta russa. Eu diria antes que é a politica da rulote, que afinal não vende couratos nem bifanas, mas farturas no circo instalado em Alvalade. E a rulote do Dr. Zenha tem uma especialidade que a torna inédita, face às congéneres: não tem janelas, mas ... varandas!...