A responsabilidade de Schmidt

OPINIÃO01.09.202206:30

Técnico alemão vai ter, provavelmente, o melhor e mais completo plantel do futebol português; e Conceição terá as costas assim tão largas?

Anão ser que haja uma grande surpresa para as bandas de Alvalade e do Dragão, o Benfica prepara-se para fechar o mercado de transferências como o melhor e o mais completo plantel do campeonato português. A chegada de Draxler, apesar de implicar um certo risco (afinal, estamos a falar de qualquer coisa como seis milhões de euros de gasto, cujo único retorno será o desportivo) é um grande trunfo de última hora jogado pelos encarnados, depois de esgotadas todas as vias para contratar Ricardo Horta ao SC Braga. Mas ainda mais do que o valor intrínseco do jogador (que em forma, motivado e sem lesões é um enorme craque, daqueles que não só enriquecem o clube como a própria competição), ganha relevo a forma como as águias se mexeram no tabuleiro: tinham mais que uma solução em vista para a eventualidade de cair o negócio Horta, e todas com qualidade (Kamada, do Eintracht Frankfurt, seria outra das opções). Mais: evidenciam, além do jogo de cintura, músculo financeiro e um critério que andou desaparecido num passado não muito distante, com uma taxa de sucesso das contratações a rondar os 25 por cento, tal como foi já foi explicado neste espaço no passado.

É certo que ainda não foi possível ver em ação jogadores como Ristic, Aursnes e João Victor, mas  o que Enzo Fernández, David Neres e Alexander Bah já evidenciaram fazem crer que as novas caras chegaram, efetivamente, para acrescentar valor (benefício da dúvida, por enquanto, para Musa). Entre aquilo que Schmidt queria e o que teve a distância não é muito grande (nem Gotze nem Horta, mas Draxler; não chegou Sangaré mas foi contratado Aursnes) embora um plantel não se faça apenas com reforços - é preciso resolver casos pendentes e são muitos os que existem a tão pouco tempo de encerrar o período de inscrições: Weigl, Meité, André Almeida, Taarabt,  Gil Dias, Rodrigo Pinho e provavelmente Diogo Gonçalves. Só depois de atadas estas pontas soltas o técnico germânico terá aquilo que se pode designar a sua equipa, com a dinâmica de balneário certa. Mas os sinais apontam todos no sentido de que Schmidt terá mesmo as condições que exigiu a Rui Costa - e com isso a grande responsabilidade de conquistar o título de campeão e obrigado a fazer boa figura na Liga dos Campeões.  

BEM diferente parecem ser as últimas horas no mercado do FC Porto. Certamente que a esta hora muitos adeptos do campeão nacional em título estarão a questionar-se porque a grande prioridade dos dragões foi um guarda-redes que será suplente (Samuel Portugal) e porque esses quatro milhões de euros não foram desviados para aumentar a parada por um dos médios exigidos por Sérgio Conceição, a grande lacuna que está por preencher com a saída de Vitinha. A não ser que o último dia traga uma notícia inesperada pela positiva, Conceição lá terá de puxar pela criatividade, persistência e paciência para tentar fazer aquilo que já mostrou ser capaz: ser melhor que os outros, mesmo sem as mesmas armas. Resta saber se depois de tantos erros de gestão da SAD azul e branca (vendas a preço reduzido que não permitem acompanhar a capacidade de investimento do rival da Luz) o técnico ainda conseguirá ter as costas suficientemente largas.