A primeira final

OPINIÃO13.09.202004:00

1 O novo Benfica de Jorge Jesus tem, na próxima terça-feira, a sua primeira final. Sabendo que a SAD voltou a apresentar  boas contas, o que se repete há sete consecutivos exercícios. O que não deixa de ser encorajante, reconfortante e louvável. Em Salónica, num único jogo, o Benfica disputa a presença nos dois jogos do play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Para já tem de ultrapassar o PAOK para, depois, se concentrar no arranque da Liga NOS em Famalicão e, logo depois, assim o ambiciono, uma longa viagem até à Rússia. Este renovado Benfica de Jorge Jesus tem evidenciado qualidade e vontade,  ambição e organização, disponibilidade  e responsabilidade. Já se sente o dedo, e a  pressão, de Jorge Jesus e já se pressente que cada jogador sabe o que o treinador quer e, acima de tudo, o que não quer. E a esta forma de liderança de Jorge Jesus não serão indiferentes as suas presenças em outras realidades do futebol, sejam em terras arábicas sejam, por excelência, no difícil e complexo futebol brasileiro e, logo, nesse emblemático Flamengo. E o envolvimento fora de Portugal foi, na minha modesta opinião, uma mais valia para Jorge Jesus. E desejo firmemente que o Benfica, este renovado Benfica, seja também a expressão vitoriosa de Jorge Jesus. O Benfica e Jorge Jesus merecem estar na Liga dos Campeões e o Benfica tem de fazer tudo , tudo mesmo, para voltar a conquistar o título português. A primeira final aí está. Numa bonita cidade, num estádio emblemático, com uma das referências do futebol grego - PAOK -  a que acresce uma liderança portuguesa, de Abel Ferreira. Desejamos que no princípio da noite de terça-feira, primeiro dia de um período de específicas restrições no nosso quotidiano em razão de uma pandemia  cujos números de infetados não param de assustadoramente crescer, tenhamos razões para proclamar: a primeira final já está! Agora vêm aí os russos!

2 A Liga 2 já arrancou. Como também a Liga Revelação, organizada, esta, pela Federação Portuguesa de Futebol e que tem um novo formato, já que tem duas séries, uma a norte e outra a sul. No Estoril, na quinta-feira, e com a vitória da equipa da casa, a jornada inaugural fica na história do futebol profissional português em razão de Vanessa Gomes, da Associação de Futebol de Lisboa - que vai ter uma nova sede, o que se saúda efusivamente já que junta , num bem reabilitado edifício próximo do Marquês de Pombal, todas as estruturas dirigentes do futebol distrital! -, se ter tornado na primeira árbitra a integrar uma equipa de arbitragem numa competição profissional. Mas na sexta-feira a não realização do  Feirense- Chaves suscitou perplexidade e motivou uma reunião de urgência da Liga, já que a realização dos testes em data próxima dos jogos determina, exige, uma efetiva  articulação entre a Liga, os clubes e a DGS. E não pode deixar de haver efetiva coordenação entre a DGS e as suas estruturas regionais que, de repente, desencadeiam momentos de autoridade!  Porventura com receio, assumo-o, de serem chamadas à razão! Importa  delimitar, com urgência, critérios uniformes, sob pena de afetar a integridade desportiva. E, aqui, Pedro Proença esteve bem. Reunião de emergência com a consciência que a competição não pode parar e tudo tem de ser feito para que não se multipliquem pequenos instantes de poder. Ser vice-rei… por um minuto… é um troféu, diria uma medalha!  Esta Liga 2, que não pode parar,  será bem renhida já que muitas sociedades /clubes têm a legítima ambição, algumas com relevantes parcerias externas,  de subir à principal competição , ainda designada por Liga NOS. Que também  tem de avançar já para a semana. O que sabemos é que há televisão e público nas cadeiras ou nos sofás . Mas não há, ao contrário do que ocorre em outros países europeus, público nos estádios. E sem que haja, nem se pressinta, nenhum  clamor público. Mas tão só alguma revolta… caseira. Singularidades de um tempo em que o medo e a liberdade de dizer sim ou não mutuamente se restringem! E se condicionam! Tendo nós bem presente o aumento significante do número de infetados e, naturalmente, o aumento do número de jogadores com testes positivos em diferentes clubes, sejam das competições profissionais, sejam das não profissionais. E, aqui, com o arranque a efetivar-se no próximo fim de semana, em simultâneo com a realização anunciada da primeira jornada da Liga NOS. O que sabemos, afinal, é que não temos certeza alguma. O que exige cautelas acrescidas . Sem que haja um especifico confinamento no e para o futebol!

3 Há alguns anos, em 2003, o Brasil, na Presidência de Lula da Silva, aprovou uma Lei denominada Estatuto de Defesa do Torcedor. Deixo o número da Lei: 10.671 de 15 de Maio de 2003! Uma das características da Lei era uma equiparação entre torcedor e consumidor. E a Lei, no seu artigo 2.º, definia como torcedor «toda a pessoa que aprecie, apoie ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do País e acompanhe a prática de determinada modalidade desportiva»!  E consagrava um conjunto de direitos como, por exemplo, que «todos os ingressos emitidos sejam numerados» ou «direito ao transporte para eventos desportivos». Recordei este singular momento legislativo no Brasil para notar que, neste tempo e perante estas circunstâncias, o torcedor/ adepto parece não ter nenhum direito e estar sujeito a um enervante duplo silêncio: ninguém o representa e ninguém o defende. O torcedor, ou seja, o adepto, tem o dever de estar quieto e a obrigação de não ter desejos de ver a sua equipa. Com o argumento que não se sabe comportar e que não se sabe autodisciplinar! Se há momentos em que a disciplina mais se pode efetivar é em tempos de  grave crise ou em situações extraordinárias. Esta pandemia mostrou-nos que a generalidade das e dos portugueses aceitaram as restrições e que, mesmo em contingência, têm consciência dos perigos que o Covid-19 desencadeia. E regressar ao momento brasileiro de 2003, na sequência da Lei do Desporto ou da Lei Pelé de 1998, foi tão só uma boa lembrança. Com a consciência das necessárias cautelas que o atual momento da pandemia determina em Portugal.

4 Quatro notas finais. Os momentos 100 e 101 de Cristiano Ronaldo na Suécia e o seu novo desafio na Seleção: ultrapassar a barreira dos 110 golos. Depois a descoberta do Almería, clube espanhol, como origem e destino de jogadores e, também, de treinadores portugueses. A singularidade da SAD do Aves assumir que se pode juntar a outro clube que não o Desportivo das Aves! E, por último, evidenciar a abertura do ano escolar. E em cada um deles regresso a Viseu, minhas raízes e meu refúgio, e recordo as minhas professoras quer no Jardim Escola João de Deus quer na Escola do denominado Magistério Primário. E recordo cada uma delas, pelo seu carinho e pela excelência das competências, em cada arranque de um ano escolar. Que só arrancava, há quase sessenta anos, nos primeiros dias de Outubro. Depois das vindimas, de todas as vindimas. Das do Douro, primeiro, e, depois, das vindimas do Dão. Vinhos que me fazem regressar à minha infância, às uvas rosadas, aos lagares, ao seu cheiro e ao seu ambiente único, a uma marmelada húmida barrada num bom bocado  do pão de centeio  e com  uma fatia merecida do queijo da serra. Bom domingo!