A pergunta que irritou Schmidt
Roger Schmidt. Foto: Sérgio Miguel Santos/AS

EDITORIAL A pergunta que irritou Schmidt

OPINIÃO14.11.202309:00

Os estrangeiros que vivem e trabalham em Portugal têm o dever de consideração e respeito

A pergunta do jornalista da RTP era obviamente justificada. Não seria pelo facto do Benfica ter virado o resultado do dérbi naqueles minutos finais que tal significaria uma exibição esplendorosa. Bastava ter visto o jogo para perceber que o Benfica se livrara, por meras circunstâncias do jogo, de uma sensação de continuidade da crise que ainda mais pressionaria Roger Schmidt. Natural, pois, que fosse perguntado se o treinador não achava que o resultado tinha sido melhor do que a exibição. Se essa pergunta tivesse sido feita aos milhões que viram o jogo, fossem do Sporting, do FC Porto ou do Benfica, a esmagadora maioria responderia que sim, o resultado fora melhor do que a exibição.

O treinador do Benfica também deve ter achado o mesmo e só por isso terá ficado irritado, tornando-se ofensivo para com o profissional que apenas tinha desempenhado o seu papel e feito uma simples pergunta. Schmidt associou a origem dessa pergunta ao eventual clubismo do jornalista e, assim, para além de deselegante foi desrespeitador.

Provavelmente não teria reagido da mesma maneira na Alemanha, seu país de origem, nem sequer nos Países Baixos, onde treinou o PSV. No entanto, achou que podia ser autoritário e até arrogante num país que o recebeu bem e que tem tido uma infinita tolerância para com um profissional estrangeiro que não mostra a mais pequena sensibilidade para aprender a dizer uma só palavra em português. Por exemplo, obrigado.

A aculturação a que se obrigam os treinadores portugueses que trabalham pelos cinco cantos do mundo continua a ser um traço essencial da personalidade e do caráter português. Uma marca identitária de um povo tolerante para com a diferença e que não apenas a aceita como a protege. Claro que não se espera que essa seja, também, a característica de alemães ou de britânicos, de japoneses ou de australianos. Mas temos o direito de esperar, de quem vive em Portugal e coabita com os portugueses, uma atitude de respeito e de consideração. O futebol tem oferecido, em Portugal, excelentes exemplos de estrangeiros que sabem estar e que sabem ser reconhecidos. Talvez o mais recente seja o do selecionador Roberto Martínez, que fez questão de aprender português, mesmo sabendo que os portugueses se esforçam sempre por compreender o espanhol.