A OPA de Jesus - 2020 depois de cristo

OPINIÃO25.07.202003:00

Pimenta Machado, em minha opinião o melhor presidente da história do Vitória de Guimarães e uma personalidade inesquecível do futebol nacional, introduziu um dia uma máxima no futebol de que ainda hoje se fala: «O que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira!»
Queria ele dizer, segundo penso, que as coisas do futebol mudam muito depressa, e, portanto, aquilo que hoje é verdade, amanhã pode não o ser ou ser mesmo mentira. Hoje um treinador é bom, porque ganhou uma série de jogos ou até um campeonato, mas no dia seguinte é uma besta porque perdeu um jogo; um jogador é bom porque meteu dois golos, mas depois passa a ser um barrete se passa jogos sem marcar. Paulinho Cascavel, que era jogador do Vitória de Guimarães em 1987, num dia era jogador que ia para o Benfica e, no dia seguinte, eu consegui contratá-lo para o Sporting. Também nessa altura isso se disse. A maior parte das vezes, as histórias de hoje ser verdade o que amanhã é mentira eram inofensivas e hoje ainda se faz essa afirmação com um sorriso irónico nos lábios!...
A história mais recente e actual desta máxima não foi propriamente de hoje ser verdade o que amanhã é mentira! Passaram alguns anos, três ou quatro, conforme se queira contar, entre acções de catorze milhões, acusações e insinuações graves e agora uma paixão que só encontra semelhança no romance de Romeu e Julieta!
É conhecido esse amor/paixão da peça de William Shakespeare que terminou em tragédia. Desconhece-se como vai acabar aquele amor/ódio de Vieira de 2015, transformado numa paixão voadora, em 2020, por Jesus, o seu amado treinador que há cinco anos queria que voasse para as arábias. O que pode o ódio conveniente e o amor interesseiro!
As acusações de há cinco anos, que foram de roubo a outras coisas, pior do que Maomé disse do toucinho, transformaram-se em sapos que alguns terão de engolir. Mas engolem e nem precisam de compensan para o estômago. O descaramento de então transformou-se agora em falta de vergonha e dignidade. Com a cartilha tudo se embrulha e desembrulha. Cartilheiros sem vergonha não faltam. Não se trata sequer do que ontem era verdade ser amanhã mentira. Mentira foi sempre! Agora é uma farsa!
Bem dizia o meu avô em finais dos anos trinta, interrogando-se sobre o carácter. «É uma coisa que já não se usa como o berloque dos relógios«; «é uma agulha magnética e não um cata-vento».
Vieira desespera entre o azul do saco e o azul do Porto campeão; os sapos que Jorge Jesus lhe faz engolir e as críticas de Rui Gomes da Silva; entre os frangos da Valouro e os hambúrgueres do Noronha.
 A CMVM chumbou a OPA do Benfica. Jorge Jesus fez uma OPA à SAD do Benfica e ao seu presidente.
A CMVM nada dirá. O que dirão os sócios e adeptos do Benfica?

Treinadores a mais!...

Faz hoje oito dias a capa deste jornal era ocupada pela fotografia do referido Jesus-2020, depois de Cristo. No final dessa mesma página, uma chamada de atenção para uma entrevista de Silas - a primeira após a saída de Alvalade - com duas afirmações a desenvolver nas páginas interiores: «Sporting nunca jogou da maneira que eu queria» e «Tinha ideias diferentes de Hugo Viana e do presidente»!
Confesso que a minha primeira reação foi a de pensar que estas frases estavam desenquadradas do contexto e com o único objetivo de chamar a atenção. Confesso que me enganei redondamente, sobretudo no que diz respeito à segunda, por maior estupefacção que isso possa causar!
A primeira daquelas afirmações aceita-se com alguma naturalidade pelo contexto em que foi proferida, pois, como disse Silas: «Quando tínhamos mais tempo para trabalhar perdíamos mais de metade da equipa, pois eles são bons e iam para as respectivas selecções. Sem ter uma pré-temporada e tempo para trabalhar é difícil colocar uma equipa a jogar como nós queremos. Q Sporting nunca jogou da maneira que eu queria jogar e que sinto que poderíamos jogar.» Faz aliás todo o sentido, designadamente, no contexto em que Silas assumiu o comando da equipa. O Sporting teve uma pré-temporada acidentada, ou seja, primou pela incompetência a preparação da época de 2019/2020!
Agora brada aos céus e justifica a incompetência da preparação da época, a afirmação de Silas de que «tinha ideias diferentes das de Hugo Viana e do presidente», que aliás foram por aquele expostas de forma educada: «Há uma coisa muito importante quando eu falo de Hugo Viana e do presidente. Temos opiniões diferentes, mas eu tenho mesmo a convicção que mesmo tendo opiniões diferentes sobre muitos assuntos eles são muito bem-intencionados. Querem o bem do Sporting. Isso é uma coisa. Outra coisa são ideias que eu tenho que são diferentes das deles. Eu e eles tínhamos ideias diferentes. Eles acreditam mesmo que as ideias deles são o melhor para o Sporting e acho que isso é o mais importante para os sócios do Sporting reterem. São bem-intencionados e a intenção deles é que o Sporting esteja bem. Um diretor desportivo olha para as minhas opções como treinador e teria outras, isso é normal. Mas nós tínhamos ideias muito diferentes e o ideal foi sairmos. Assim, quem viesse pensava no futuro do Sporting e nos também podíamos pensar no que íamos fazer.»
Se não tivesse lido com os meus próprios olhos e alguém me contasse, eu não acreditava e diria que tinha lido mal. E se é aceitável que Silas tenha aceite um convite do Sporting, mesmo desconhecendo as ideias do presidente e do diretor-desportivo, é inaceitável que estes contratem aquele sabendo que tem ideias diferentes ou, o que é ainda mais grave, não saibam quais são as suas ideias. Está assim explicado o despedimento de José Peseiro e a contratação de Keizer. Pelos vistos, e dada a incapacidade de coordenar ideias, só podemos considerar que se tratou de actos idiotas!
«Se calhar podia ter feito uma análise diferente do Sporting na altura. Não tive muito tempo para pensar. O Sporting contacta-me num dia, passados dois dias tinha de tomar a decisão», explica ainda Silas, na sua elucidativa entrevista.
Todos sabemos que o Sporting muda de treinador como quem muda de camisa. Simplesmente, se para comprar camisa basta atender à qualidade do tecido e da cor, para contratar um treinador convém conhecer o seu perfil e as suas ideias. É elementar, pois presidente e treinador são duas das peças mais importantes da chamada estrutura! Como é possível contratar um treinador sem que haja sintonia mínima com o presidente e o diretor desportivo? Silas fala de boas intenções, mas destas está o inferno cheio!
Acontece que, pior do que acaba de ser descrito, desde Godinho Lopes (inclusive) o Sporting tem, no chamado banco, pessoas a mais com o curso de treinadores, e que além do banco assumiram também a presidência do clube. Com uma diferença: se Bruno de Carvalho acertou na escolha dos treinadores, Varandas parece ter falhado nas suas escolhas, com excepção do actual treinador, que esperamos ver apoiado em todos os aspectos. Mas depois da entrevista de Silas, tenho algum receio sobre as ideias de presidente e diretor desportivo!...