A maior vítima é Bruno Fernandes
A maior vítima dos tempos (outra vez) conturbados no Sporting não se chama Marcel Keizer nem Frederico Varandas. Chama-se Bruno Fernandes. O extraordinário médio português (melhor jogador da última edição da Liga) arrisca-se a ser no Sporting o que João Vieira Pinto foi no Benfica na era Damásio: uma ilha de talento rodeada de um ou dois bons jogadores, vários colegas banais e outros medíocres. Como JVP, Bruno vai passar nos próximos meses pela frustração de não ter uma equipa que o acompanhe. E como tantas vezes acontecia com Keizer (que só colocou uma impressão digital nos primeiros jogos, dando a ideia de ter desistido das suas ideias ao primeiro desaire), o capitão cairá na tentação de ser omnipresente, procurando a zona de finalização e construção na mesma jogada, aquilo que há 20 anos se chamava vagabundo, figura que foi desaparecendo com a evolução do jogo. Por ser tão bom e tanto melhor que os outros, adeptos e analistas perdoam-no por sair da sua posição; por ser tão diferenciado, Bruno Fernandes desorganiza muitas vezes a equipa, apropriando-se da zona 6 (hoje com Doumbia, ontem com Gudelj) para tentar fazer lançamentos longos para os extremos. Tal como João Vieira Pinto, Bruno Fernandes arrisca-se a ser o maior de uma paróquia balofa. Com a saída de Bas Dost e Raphinha o plantel leonino perdeu ainda mais qualidade e ao internacional luso vão pedir-lhe os possíveis e os impossíveis. Será uma situação que poderá favorecê-lo no ego e na solidificação de uma aura de salvador, mas é prejudicial a médio prazo, pois numa equipa com outros valores individuais ele não precisa de ser pedreiro, arquiteto e bombeiro, mas sim apenas mais um na engrenagem. Como na Seleção Nacional, por exemplo, onde ainda não se enquadrou definitivamente. Talvez porque venha com maus hábitos.