A lição do professor Adriano Moreira

OPINIÃO02.11.201900:13

O Comité Olímpico de Portugal organizou, com a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, um ciclo de conferências sob o tema Migrações, desporto e religiões. Para abertura foi escolhido o professor Adriano Moreira. Aos 97 anos de idade, deu-nos, a todos os que assistíamos no auditório do COP, uma lição inesquecível de análise política, de memória histórica e, sobretudo, de lucidez de pensamento. E eu dei comigo a pensar - tenho idade para pensar com alguma tranquilidade nessas coisas - sobre a verdadeira definição de velhice. Ouvindo o professor Adriano Moreira, que durante mais de meia hora, de pé, discursando de improviso, abrindo, em cada frase, a doce expectativa da frase que se seguia, um pensamento rigoroso, uma qualidade de comunicação irrepreensível, uma destreza no uso da palavra, que deveria fazer corar de vergonha muitos jovens tribunos, percebi que a velhice, não é, afinal, uma questão de idade, mas de indolência intelectual, de pobreza de ideias, de incapacidade para fazer subir o pensamento acima da vulgaridade vigente.

Falando de vulgaridade vigente, não consigo evitar que me venha à memória a expressão brejeira e menor de Sérgio Conceição, depois do jogo com o Marítimo. Se me perguntaram se fiquei chocado com o plebeísmo, não, não fiquei. De facto, não se trata de uma questão de moralidade, mas de uma questão profissional. Diz-se por aí, e bem, que Sérgio Conceição deveria ter pensado que não se estava a representar a si próprio, mas ao FC Porto e que, por isso, deveria ter tido respeito pela instituição que orgulhosamente serve. Também se disse, e bem, que Sérgio Conceição já é uma referência para muitos jovens treinadores que trabalham ou sonham trabalhar na área da formação. Mas será mais do que isso. Todo o discurso foi desrespeitoso para o adversário que fez pela vida e lutou com as armas que podia usar, e, não menos grave, o discurso nem sequer coincidiu com a realidade. A equipa do FC Porto perdeu dois pontos, percebe-se que o seu treinador não tivesse ficado satisfeito, mas não pode, em circunstância alguma, perder tão grosseiramente o controlo emocional quem, por dever e obrigação profissional, tem de saber que a comunicação, mesmo em situações de pressão, é como o jogo, não pode ser afetada pelo estrondo do desabar das emoções.
Lage pode ter encontrado uma nova fórmula que dará fôlego a um Benfica que tem tido dificuldade em respirar nos seus jogos demasiado sofridos. Porque ressuscitou Samaris e ganhou consistência no meio campo; e porque inventou uma nova dupla de ataque, com Chiquinho e Vinícius, que trouxe maior compatibilidade ofensiva e boas lembranças da dupla João Félix-Seferovic. No entanto, a pergunta, que os benfiquistas farão até ao quase início do jogo de hoje, será: «Terá ficado Lage de tal forma convencido, que vai, mesmo, usar essa fórmula de provável sucesso, ou manterá a teimosia de inventar novas fórmulas, para manter a sistemática rotação dos jogadores de que dispõe?» É uma pergunta legítima e a sua resposta irá trazer, em definitivo, qual a ideia do jovem treinador do Benfica para enfrentar toda uma época, cheia de jogos, de competições, de lesões, de desgaste emocional. Lage poderá não ser sensível à ideia de que uma equipa vencedora deverá ter um onze base consolidado e fazer a defesa, teórica e prática, de contar com quinze ou dezasseis jogadores como nucleares, gerindo-os de acordo com as circunstâncias.