A lata de Jesus!...

OPINIÃO02.11.202106:00

Rui Costa deve começar a preparar o futuro e encontrar alguém para treinar o futebol profissional que saiba honrar o passado do Benfica

OO empate  do Benfica no Estoril teve como consequência imediata a descida para o terceiro lugar da classificação. Nada de preocupante para quem defende que ainda falta muito para o apuramento das contas finais, mais embaraçoso, porém, para quem se lembra de que, na última temporada, foi a seguir a uma derrota no Bessa, também por esta altura, que a águia perdeu altitude no seu voo e não mais recuperou. Pode ser mera coincidência ou, talvez, prenúncio de mais uma época fracassada.  
A procissão ainda está a sair do adro, sim, mas não é normal em fase primitiva de longa caminhada Jorge Jesus  dizer que os jogadores ficaram arrasados e desmoralizados, nem Lucas Veríssimo falar na necessidade de conversar e corrigir erros.  
Tamanha preocupação  suscitada por um empate no terreno do quarto classificado e consentido no último minuto - não apenas por causa de os jogadores se terem desconcentrado ao discutirem com o árbitro e perderem «o foco antes do golo do Estoril», mas também pela sucessão de equívocos do próprio treinador na gestão da equipa, sendo certo que das cinco substituições por si operadas nenhuma acrescentou qualidade ao grupo -  pode ser sinal de que a confiança no interior do plantel benfiquista já conheceu melhores dias.  
Pressente-se um quadro  de cansaço mental por parte dos jogadores, uns por há tempo demasiado escutarem a mesma mensagem e outros, os recém-chegados, por sentirem dificuldade em entendê-la. Uma mensagem mal estruturada e pouco clara quanto aos objetivos, que tem saltitado de desculpa em desculpa, omitindo os pecados do presente para colocar o acento tónico na esperança de melhores dias em anos vindouros. Ou seja, uma estratégia comunicacional redonda provocada por circunstâncias pouco favoráveis.
 

Rui Costa de olhos no futuro do Benfica

JORGE JESUS entrou na oitava época como treinador do  Benfica, uma relação longa e anormal  para os padrões normalmente praticados em Portugal, e até no Mundo, embora sem resultados que ajudem a explicar não só tão prolongado casamento mas também a pressa de o ter trazido de volta depois de uma primeira ligação de meia dúzia de anos em que, repito-me, qualquer outro treinador a quem fosse reconhecido o mínimo de competência, com os mesmos plantéis e idênticas condições de trabalho, não teria feito pior. Além de ficar eternamente agradecido à águia, pelo prestígio que lhe permitiria granjear e pela generosa compensação financeira que teria recebido, o que não sucedeu com Jesus, como todos devem estar recordados, que saiu como saiu e disse o que disse. 
Na cerimónia de apresentação que marcou o seu regresso, que só Luís Filipe Vieira saberá explicar por que razão o promoveu, Jesus, com a soberba que é um dos seus traços mais visíveis, afirmou que o então presidente queria contratá-lo por quatro anos e ele só estaria disponível para um, com certeza tendo algum tubarão europeu em carteira, ironizo eu, mas por deferência a Vieira propôs-lhe o meio termo, dois anos. 
O primeiro já se esgotou com nenhum sucesso, mas para o segundo,  que decorre, as expectativas são elevadas em função do robusto investimento feito no plantel. É certo que as exibições recentes não têm sido animadoras, mas, aqui sim, vale a ideia de faltarem meses suficientes para corrigir, evoluir e chegar a maio do próximo ano no primeiro lugar do campeonato e festejar o título, além de se exigir um comportamento relevante na UEFA, Champions ou Liga Europa, que obriga, esta noite, em Munique, a um desempenho à altura do prestígio do emblema da águia.
 

ESTE é o cenário por que os adeptos anseiam, mas, independentemente de qual for a realidade daqui a sete meses, Rui Costa deve começar a preparar o futuro, se é que não começou já, com clarividência e ponderação, de maneira a tomar decisões inadiáveis e arrojadas, de amplos horizontes, e encontrar alguém para treinar o futebol profissional que saiba honrar o passado da instituição e compreenda o alcance da sua intervenção quando sublinhou que «um clube da dimensão do Benfica não pode estar fora da Liga dos Campeões».  
Alguém que se pareça pouco com Jesus, cuja mais recente deselegância foi a revelação de ter sempre a  mala à porta, em reação a eventual interesse do Flamengo, e que mereceu, inclusive, um comentário do presidente da associação de treinadores brasileiros. Afirmou Jesus, entreabrindo todas as portas, que um treinador «não pode ter um projeto definido», por viver de resultados. Se de alguma forma quis referir-se ao comportamento do Benfica para com ele, francamente, é preciso ter lata. Além de revelar falta de consideração por Luís Filipe Vieira, que lhe deu notoriedade e riqueza.
Respeito todas as opiniões divergentes, mas mantenho a minha: Jesus representa a estagnação e o Benfica precisa de seguir em frente e recuperar o lugar que foi seu entre a elite do futebol europeu.