A invisibilidade externa da nossa Liga

OPINIÃO10.12.201800:21

Há quem não goste que se diga que a Liga portuguesa é absolutamente irrelevante no contexto internacional. Lamento muito que quem assim entende não tenha razão. Quem me dera que houvesse algum interesse externo quanto ao que por cá se passa e que a Liga gerasse o interesse e a admiração que, por exemplo, quatro Ligas dos Campeões, duas Ligas Europa, uma Taça das Taças, duas Taças Intercontinentais e mais de vinte finais europeias dos seus participantes deveriam justificar.


Infelizmente, a realidade diz-nos que os jornais vendidos em Elvas, em Valença e em Vila Real de Santo António ainda falam da Liga portuguesa. Mas os que se vendem em Badajoz, Tuy e Ayamonte, nem por isso.

Ontem decidi fazer uma ronda alargada pela imprensa europeia, à espera de encontrar ecos da jornada lusitana, com vitórias de Benfica e SC Braga. Confesso que o fiz sem grandes expetativas. E o panorama real deu razão àquilo que era a minha convicção. Nos diários desportivos espanhóis, consultados a Marca, o As e o Mundo Deportivo, nem uma linha! O Sport trazia, num espaço mínimo, resultados e classificação. Em Itália, na Gazzetta e no Corriere dello Sport... nada. Em Inglaterra, vistos o Times, o Telegraph e o Mail, o mesmo que em Itália. E em França, o L’Équipe colocava uma brevíssima com os resultados e uma foto de Jonas, a uma coluna.

A pergunta é, de que estávamos à espera? A imagem que passa lá fora da nossa Liga é de uma competição que os principais protagonistas acusam de ser corrupta e que é notícia, quanto muito, pelas queixas quanto à verdade desportiva, especialmente na arbitragem. Quaisquer potenciais investidores, neste contexto, fogem como o diabo da cruz desta prova, não querendo ficar associados a uma realidade em que quem devia defendê-la, dela diz o que Maomé nunca disse do toucinho.

Tudo isto tem consequências dramáticas para a indústria do futebol, em Portugal. E é normal que o presidente da FPF, a entidade mais lúcida nesta nave de loucos, vá procurar chamar à razão os presidentes dos clubes. Tenho muitas reservas, porém,  quanto ao sucesso dessa missão, de tal forma a deriva autofágica está inculcada no dirigismo do nosso futebol. E repito um alerta que já deixei nas páginas de A BOLA: assim, estão a criar condições para a venda a privados dos principais clubes.