A indisfarçável realidade da ficção
Falta só uma semana para que a passadeira vermelha seja estendida, as luzes iluminem o palco do Cine Europa e os Óscares do futebol sejam, enfim, anunciados.
Para já, enquanto se aguardam os últimos episódios das séries mais longas, sabe-se que, de todos os filmes a concurso, o mais forte candidato ao Óscar de melhor ator é um jovem português, João Félix, protagonista de uma curtíssima metragem que surpreendeu tudo e todos. Um menino simples e remediado que conquista o direito a tornar-se excêntrico, mesmo sem ganhar o euromilhões.
Mas Portugal apresenta-se, este ano, com outras candidaturas fortes. O Sporting causa espanto com uma dupla proposta: a de melhor argumento e a de maior suspense. Os dois filmes foram realizados nos estúdios leoninos, entre Alvalade e Alcochete. O candidato a melhor argumento chama-se, simplesmente, Bas Dost e conta a triste história de um holandês azarado, que teve a infeliz ideia de vir para Portugal marcar golos, foi espancado pelos próprios adeptos e acabou descartado pelo patrão. Há, em todo o filme, um lado amargo e algo paradoxal, uma vez que a personagem chega de um país rico a um país pobre, é culto, é profissionalmente competente, mas, apesar de tudo isso, é muito mal tratado. Uma visão surreal sobre um comportamento atípico da moderna civilização. Quanto ao segundo, que tem por título O outro Bruno, fala-nos da saga de um grande artista que abre a porta de saída nos dias ímpares e fecha-a nos dias pares. Trata-se de um thriller, com magníficas interpretações, onde o suspense está, precisamente, em saber o que irá acontecer no dia 31: Bruno abre a porta e sai, ou, pela força do hábito, abre a porta e fecha-a?
O Porto surge a concurso também com duas candidaturas: Lateral como o destino, uma história curiosa de um argentino que é convocado para uma das mais fortes seleções do mundo só para enganar os empresários e os seus putativos clientes; e ainda com um drama em banda desenhada: Branca de Neve e os setenta milhões, que retrata a história de uma princesa que come uma maçã russa envenenada e espera em vão pelo seu príncipe encantado, que prefere fugir com sete milhões de euros no bolso.
Portugal tem, porém, forte concorrência. De realizador ainda desconhecido, o filme Neycampo, Neymar regressa à saga de um menino rico do Rio, que não sabe bem o que quer e quando lhe mostram os mais sumptuosos palácios em Barcelona e em Madrid, assusta toda a gente quando ameaça recusar todos esses palácios e escolher uma pobre casinha de três assoalhadas em Olhão, porque adorou ter estado no festival do marisco. Quando, mais tarde, um jornalista da Marca o descobre, disfarçado de pescador de conquilhas na Ria Formosa, insiste na escolha bizarra e jura que o seu sonho sempre foi jogar no Olhanense.
Na categoria de comédia, o Benfica concorre com Há Petróleo no Seixal; o Braga participará com uma série de género religioso: Eis o Nosso Salvador; o Portimonense com uma película de entendimento um pouco abstrato: Porto e Monense; e até o Vilafranquense sai do anonimato para concorrer com um documentário: A espantosa vida do Cruyff de Marvila.
Este ano, a presença portuguesa em grandes e pequenas produções cinematográficas no Festival Europeu do Futebol é assaz prometedora. Esperam-se, ainda, novidades de última semana, pelo que os próximos dias ainda irão ser, certamente, muito animados.
Há sempre a possibilidade de Jorge Mendes aparecer, mesmo no finalzinho do prazo, com uma das suas superproduções e arrasar toda a concorrência.