A importância de se saber ser um líder
Ainda recentemente, Luís Castro, que acabava de confirmar o título de campeão na Ucrânia, com o Shakhtar Donetsk, me dizia que as questões técnicas e táticas já não têm segredos no futebol moderno. Todos os treinadores profissionais conhecem as mais diversas opções, tal como conhecem os sistemas e métodos de treino utilizados em todo o mundo. Sabem como treina o Barcelona ou o Manchester City, o Liverpool ou o Real Madrid, a Juventus ou o Bayern de Munique. E sabem, cada vez mais e melhor, como se exploram e se desenvolvem os mais diversos sistemas de jogo.
Assim sendo, o que faz a verdadeira diferença é a qualidade humana do treinador, vista numa perspetiva abrangente e plural, de ser capaz de liderar (sejam quais forem as características dessa liderança), de motivar, de ter uma imagem de justiça entre o grupo, de ser capaz de fazer convencimento das suas opções e, acima de tudo, de fazer uma forte demonstração de ser psicologicamente imune às tentações de excesso de euforia na hora das vitórias e dos sucessos e de saber resistir, sem quebra de personalidade, às angústias e aos medos gerados pelas derrotas e pelos insucessos.
Poder-se-á dizer o mesmo dos presidentes, dos chefes, enfim, de qualquer líder. Capacidade de liderança é fazer acreditar a equipa, não apenas que é a melhor, mas, mais importante, que pode ainda vir a ser, sempre, melhor.
Que ninguém tenha dúvidas. Neste atípico campeonato covid, de futebol, a diferença para se ser campeão estará mais no líder do que nos liderados. Por isso, quem acompanha o jogo sabe que a irregularidade transitória é uma inevitabilidade da competição, mas a queda para o buraco negro de uma persistente e interminável escuridão é um sinal óbvio de que o líder, ou está perdido no seu próprio labirinto, ou já não consegue convencer a equipa.
Por isso, cada vez mais, a escolha do líder é decisiva no projeto. Seja ele desportivo, seja ele comercial, seja ele da área que for. Um bom líder faz, de pequenas, grandes equipas. Um mau líder faz, de grandes, pequenas equipas. Curta de ambição. Menor na criatividade. Enfadonhamente banal.
O líder no futebol pode e deve ter uma boa estrutura de acompanhamento e de aconselhamento, mas é o líder quem decide e sobre isso ninguém, na equipa, pode ter a mais pequena dúvida, sob risco de perder autoridade e respeito. Sendo certo que podendo haver, num clube, ou em qualquer Sociedade, mais do que um líder, por exemplo, o presidente e o treinador, é absolutamente decisivo, que cada qual perceba que não deve invadir a estrita área de ação do outro. Daí que treinadores que consentem intromissões grosseiras do presidente nas equipas, seja um treinador morto. Sendo que, a prazo, esse presidente só conseguirá, mesmo, contratar treinadores que se prontificam a morrer.
Que não haja qualquer dúvida: são melhores as equipas e as sociedades que sabem como manter, em coordenação na ação multidisciplinar, diversos líderes. Sendo que, como diria George Orwell, uns têm de ser mais líderes que outros. Porém, um líder que lidera líderes será mais forte se não pretender, por receio ou defesa do seu ego, diminuir a autoridade dos outros líderes junto da equipa.
A escolha de um treinador, ou de um chefe, não se torna, como se percebe, coisa fácil para o líder máximo, que tem o poder de o escolher e de, no pior dos cenários, o demitir, se entender que se enganou na escolha. Porém, é preciso aceitar que quanto maior a responsabilidade da liderança, quanto maior o poder de escolha, maior a culpa em caso de desaire.